quinta-feira, 20 de agosto de 2015

TIAGO E A JUSTIFICAÇÃO



Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras.“ (Tiago 2:26 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Quando os reformadores insistiram na fórmula da justificação “Sola Fide” (somente pela fé), tinham como intuito esclarecer que, o homem não poderia se auto justificar diante de Deus por si mesmo, ou seja, por suas obras de justiça. Não recebemos a salvação como um pagamento por servirmos e obedecermos a Deus. As obras mostram tão-somente o nosso comprometimento com o Senhor, e, autentica a realidade da nossa fé. 

Se olharmos esse texto (como fazem os Católicos Romanos) desprovido de um comprometimento das doutrinas Bíblicas da Graça; desprovidos das leis de Hermenêutica; e, principalmente voltado apenas para os ensinos da instituição; que conclusão chegaríamos? Que Tiago prega as obras? Sim chegaríamos! Porém é muito pelo contrário! Notemos toda a passagem:

Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhes disser: "Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos", e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento. De fato, alguém poderá objetar-lhe: "Tu tens fé e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus? Ótimo! Lembra-te, porém, que também os demônios creem, mas estremecem. Queres, porém, ó homem insensato, a prova de que a fé sem as obras é vã? Não foi pelas obras que o nosso pai Abraão foi justificado ao oferecer o seu filho Isaac sobre o altar? Já vês que a fé concorreu para as suas obras e que pelas obras é que a fé se realizou plenamente. E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado como justiça e ele foi chamado amigo de Deus”. Estais vendo que o homem é justificado pelas obras e não simplesmente pela fé. Da mesma maneira também Raab, a meretriz, não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os mensageiros; e os fez voltar por outro caminho? Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras.” (Tiago 2:14-26 – Bíblia de Jerusalém) 

Fazendo uma leitura atenta dos versos 14-20, 24, 26, veremos que a palavra "" não é usada no sentido da genuína fé salvífica. Pelo contrário, a fé aí mencionada é demoníaca: “Tu crês que há um só Deus? Ótimo! Lembra-te, porém, que também os demônios creem, mas estremecem. “ (verso 19); é inútil: “Queres, porém, ó homem insensato, a prova de que a fé sem as obras é vã?“ (verso 20); é morta: “Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras.“ (verso 26). 

Trata-se de mera concordância intelectiva de certas verdades, sem confiança em Cristo como Salvador. Tiago não está contrabatendo a doutrina Paulina da salvação pela fé somente, nem dizendo, tampouco, que a pessoa é salva pelas obras e não pela fé genuína. Pelo contrário, está dizendo - como Lutero bem definiu - que o homem é justificado (declarado justo diante de Deus) exclusivamente pela fé, mas não por uma fé inverídica.
  
A fé genuína produzirá boas-obras, mas somente a fé em Cristo salva. Vejamos: “Não foi pelas obras que o nosso pai Abraão foi justificado ao oferecer o seu filho Isaac sobre o altar?” (verso 21). Esse verso isolado do contexto, talvez pareça contradizer o ensinamento Bíblico de que as pessoas são salvas pela fé e não pelas boas obras:

Onde está, então, o motivo de glória? Fica excluído. Em força de que lei? A das obras? De modo algum, mas em força da lei da fé. Porquanto nós sustentamos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da Lei.” (Romanos 3:27-28 – Bíblia de Jerusalém)

E que pela Lei ninguém se justifica diante de Deus é evidente, pois o justo viverá pela fé.” (Gálatas 3:11) 

Assim a Lei se tornou nosso pedagogo até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé.” Gálatas 3:24)

Pela graça fostes salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus.” (Efésios 2:8)  

...a fim de que fôssemos justificados pela sua graça, e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna.” (Tito 3:7)

Tiago, pelo contrário, só quer dizer que o procedimento correto é prova de fé genuína - não que ela salve, pois imediatamente ele cita este verso: “E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado como justiça e ele foi chamado amigo de Deus“ (verso 23) para confirmar o sua  Justificação por fé genuína. 

Afora a carta de Tiago, vemos no livro de Gênesis que o ato de fé de Abraão, lá registrado ocorreu antes de oferecer Isaque, comprovando que a fé era verdadeira “Abrão creu em Iahweh, e lhe foi tido em conta de justiça.“ (Gênesis 15:6 – Bíblia de Jerusalém) 

Paulo registrou que a única coisa que possui resultado é "Pois, em Cristo Jesus, nem a circuncisão tem valor, nem a incircuncisão, mas a fé agindo pela caridade.“ (Gálatas 5:6 – Bíblia de Jerusalém); ou seja, “a fé que atua pelo amor".  

A fé que salva produz ações. Em Tiago 2:24 quando este diz:  “Estais vendo que o homem é justificado pelas obras e não simplesmente pela fé.” O autor declara que não é pelo assentimento intelectual a certas verdades. Uma fé improdutiva não pode salvar, pois não é a fé genuína. Fé e obras são como um documento, com duas partes: o documento e um carimbo de autenticação; O carimbo simplesmente autentica; é um comprovante; não é válido como documento. O documento sem o carimbo não possui validade; é nulifico; não é exato sem a autenticação do carimbo. 

Nenhuma pessoa tem uma vida corretamente incorruptível, santa e justa. É justamente ao contrário: 

"...conforme está escrito: Não há homem justo, não há um sequer... " (Romanos 3:10 – Bíblia de Jerusalém)

...porque diante dele ninguém será justificado pelas obras da Lei, pois da Lei vem só o conhecimento do pecado.” (Romanos 3:20 – Bíblia de Jerusalém) 

"...sendo que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus..." (Romanos 3:23 – Bíblia de Jerusalém). 

Contudo, apesar de todos sermos pecadores, e não filhos, Deus nos declarará inocentes, justos, santos a todos os que assentarem a certeza em Cristo. Essa consignação jurídica é válida somente porque Cristo morreu para pagar a pena do nosso pecado e levou uma vida de justiça perfeita que será imputada aos salvos sem o mérito nosso. O tema central de Romanos é isso! Há uma declaração latente no verso basal: 

“Porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé.” (Romanos 1:17 – Bíblia de Jerusalém)

A justiça de Cristo (sua obediência à lei de Deus e sua morte sacrificial) será creditada aos crentes como pertencente a eles. Só no capítulo quatro de Romanos, Paulo, emprega a palavra “λογιζεται” ("logizetai" - lançado em conta) nove vezes. O pensamento central da justificação é que, embora o homem sem dúvida alguma mereça totalmente ser declarado culpado (Romanos.3:9-29), Deus o declara justo por causa da confiança em Cristo. Esse fato é apresentado de várias maneiras: 1) "gratuitamente" (como dádiva, em troca de nada); 2) "por sua graça"; 3) "por meio da redenção que há em Cristo Jesus" e 4) "mediante a fé":

Deus o expôs como instrumento de propiciação, por seu próprio sangue, mediante a fé. “ (Romanos.3:25 – Bíblia de Jerusalém)

Apenas a fé genuína, que produz boas obras, olha para Jesus Cristo em sua morte sacrificial em nosso favor. Se nossas obras pudessem nos gerar méritos; pudessem também nos salvar; segue-se que Cristo morreu em vão. Sua Obra seria sem valor. Não precisaríamos “levar a cruz” seguindo o legítimo Cristianismo, mas poderíamos adotar qualquer outra religião “mais fácil” que adotasse a caridade e as boas obras (assim como o Espiritismo). 

Talvez você se ache uma boa pessoa, mas é porque você usa um padrão ruim de comparação. A nossa comparação deve ser com Deus, e perante Ele todos nós não passamos de pecadores, merecemos a morte no inferno pelos nossos pecados. A não ser que alguém cumpra a lei toda, se erra em um único ponto já infringe a lei toda: 

E os que são pelas obras da Lei, esses estão debaixo de maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que não se atém a todas as prescrições que estão no livro da Lei para serem praticadas. “ (Gálatas 3:10 – Bíblia de Jerusalém) 

Contudo, aquele que é lavado e restaurado com o sangue de Jesus, e coloca a sua fé Nele, é redimido pela redenção que há em Cristo Jesus. A nossa fé em Cristo nos fará “λογιζεται” ("logizetai" - levados em conta), Deus poderia nos matar pelos nossos pecados, mas com a fé no Redentor estaremos livres de toda a culpa, pois “o sangue de Jesus nos purifica de TODO pecado” (1 João.1:7)

E essa fé, a fé genuína, sempre acompanhada pelas boas obras, pois aquele que está com Cristo (verdadeiramente) transmite para os outros o amor de Cristo que está nele, aquele que verdadeiramente está com Cristo nova criatura é, eis que as coisas velhas já se passaram, e as obras são as consequências desta nova vida em Cristo Jesus. ESSA é a verdade. As obras não podem salvar ninguém, é por isso que Paulo escreve: 

E se é por graça, não é pelas obras; do contrário, a graça não é mais graça.” (Romanos 11:6 – Bíblia de Jerusalém)

Obras não podem salvar ninguém; porém foram criadas para que os salvos (os que possuem a verdadeira fé) andassem nelas:

"Pela graça fostes salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus: não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. Pois somos criaturas dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos.” (Efésios 2:8-10 – Bíblia de Jerusalém)

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

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