quinta-feira, 20 de agosto de 2015

COMO SURGIU O CATOLICISMO ROMANO?



Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles." (Mateus 18:20 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Para entendermos esse tema, devemos mergulhar na História da Igreja e na História Universal, analisando-a sucintamente, com sinceridade e desprovido de qualquer pré-conceito que tenhamos sobre o aspecto da corrente religiosa.  A Igreja Primitiva, fundada por Jesus Cristo começou onde Ele ordenou – na pequena província da Judeia – na cidade de Jerusalém:

Estando, pois, reunidos, eles assim o interrogaram: "Senhor, é agora o tempo em que irás restaurar a realeza em Israel? " E ele respondeu-lhes: "Não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade. Mas recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria, e até os confins da terra". (Atos 1:6-8 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

É nesse contexto que, a comunidade cristã de Jerusalém, estabelecida por Jesus foi seguindo fielmente as palavras de seu Fundador:

Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!" (Mateus 28:19-20 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado." (Marcos 16:15-16 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Assim a comunidade primitiva se estabeleceu, até o evento do Pentecoste, onde a Igreja tornou-se preparada para obra missionária, cumprindo com isso as ordens do Senhor Jesus em Mateus 28:20, Marcos 16:16 e Atos 1:8.

Esse evento singular, o Pentecostes, testemunhou veementemente os mistérios e a obra de Deus para muitos prosélitos, que por sua vez, creram, e com isso conduziram a mensagem de Deus para sua pátria. Isso é registrado em Atos capítulo 2.

Com o início das missões, e aceitação da palavra pelos estrangeiros dentro do Império Romano, podemos facilmente observar, analisando a Bíblia e os anais da História que, no Cristianismo primitivo, nasceu dentro da igreja, crentes legalistas, ou seja, cristãos de origem judaica, que por sua vez judaizavam o Evangelho genuíno.

Tais não compactuavam com a pregação da Salvação Divina por intermédio da graça, discordavam da singeleza neotestamentária, e, atribuíam certas observâncias para obtenção da salvação. Os judaizantes mantinham exigência de que todo crente que adentrasse ao Evangelho, antes de tudo teria que tornar-se judeu.

Nasce então a primeira controvérsia na Igreja primitiva. Os apóstolos por sua vez reuniram-se em Jerusalém (Atos 15) para com isso determinar os moldes do assunto. Dentre os presentes estavam alguns discípulos de Jesus, com destaque para Tiago, irmão do Senhor (pastor da primeira igreja local) e o apóstolo Pedro.

Os missionários trouxeram a Jerusalém, dos lugares por onde tinham passado a notícia de que, os judeus, aliciavam os gentios no sentido legalista. Tiago, então presidiu o concílio. Determinaram por voto despachar mensagens de explicação sobre a questão:

Quando cessaram de falar, Tiago tomou a palavra, dizendo: "Irmãos, escutai-me. Simeão acaba de expor-nos como Deus se dignou, primeiro, escolher dentre os gentios um povo dedicado ao seu Nome. Com isto concordam as palavras dos profetas, segundo o que está escrito: Depois disto voltarei e reedificarei a tenda arruinada de Davi, reconstruirei as suas ruínas e a reerguerei. Então o resto dos homens procurará o Senhor, assim como todas as nações dedicadas ao meu Nome, diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde sempre. Eis porque, pessoalmente, julgo que não se devam molestar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus. Mas se lhes escreva que se abstenham do que está contaminado pelos ídolos, das uniões ilegítimas, das carnes sufocadas e do sangue.” (Atos 15:13-20 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Após o concílio de Jerusalém, os cristãos passaram a ser caçados como criminosos hediondos. Perseguidos como cães. Primeiramente pelos prelados judaicos. Houve interdições, cárceres e extermínios. Essas dificuldades obrigaram a muitos fugirem da Cidade Santa, e, portanto partiam espalhando por onde passavam a mensagem das Boas-Novas em suas pregações.

O quarto imperador romano, Cláudio, baniu os judeus que moravam em Roma, e como no princípio não existia uma distinção acentuada entre judeus e cristãos, estes também foram expulsos:

Depois disso, Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. Lá encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recém-chegado da Itália com Priscila, " sua mulher, em vista de Cláudio ter decretado que todos os judeus se afastassem de Roma. Foi, pois, ter com eles."  (Atos 18:1-3 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

A maior parte dos imperadores romanos infligiram os cristãos primitivos a terríveis encalços. Perseguiam monstruosamente os crentes. Mesmo assim, as congregações proliferavam, seu número multiplicava-se de forma milagrosa. Então o Cristianismo foi estabelecendo-se e organizando-se nas mais diferentes partes. Consequentemente começaram a ordenação de presbíteros, bispos, pastores e evangelistas. Estes tornaram-se grandes líderes de destaque, tais como Lino, Clemente, Orígenes, Cleto, Justino, Papias, Inácio, Policarpo, Higino, Ireneu, Cipriano, Agostinho, etc.

O cristianismo dos primeiros séculos sempre buscou uma unidade doutrinária, mesmo surgindo heresias e dissensões. Muitas vezes até interesses particulares qual o bispo Calixto que foi acusado pelo advogado cristão, o apologista Tertuliano, de querer ter a primazia entre os demais bispos.

Mesmo assim a mensagem cristã em sua essência mantinha-se nas normas do Novo Testamento, na doutrina de Cristo Jesus confirmada por seus apóstolos. Ainda que essa mensagem viesse sendo constantemente ameaçada por um “outro evangelho” (Gálatas 1:6) que surgia, introduzindo sutilmente elementos mitológicos gregos e ensinos da religiosidade romana. Isso tudo foi devagar se associando ao cristianismo, dando outros moldes à congregação.

Por volta do século III, existiu a principal quebra entre os cristãos, por conta do ingresso pelo batismo de crianças. O incidente foi cognominado "desfraternização", e depois disso houve uma ruptura, formando dois grupos. Um grupo não compactuou com o procedimento. Apesar disso, aceitavam-se reciprocamente, por serem vítimas das perseguições romanas.

Já em 313 estava marcante a distância dos grupos e havia subgrupos. Um exemplo disso é que nesse tempo um dos grupos possuía em seus rituais litúrgicos a oração aos mortos. Como era de se esperar, os judaizantes, que jamais cederam em suas malévolas intenções, aproveitaram-se da ocasião de desavença. Havia, porém paralelamente a isso, milhares de cristãos que lutavam contra tais heresias.

Nesse período, Constantino, estava em guerra contra Maxêncio na reivindicação do Império, então aquele aproveitou o pretexto para solidificar as linhas de seu exército propondo, primeiro, um ato de tolerância e, depois, acenando com promessas mais tentadoras, como cargos públicos e até a aliança Estado-Igreja. Ardiloso, o general disse que viu uma cruz no céu com a inscrição "In hoc signo vinces" ("Com este sinal vencerás").

Claramente era mais uma das tantas combates travadas entre os caudilhos romanos - começadas quatro século antes pela vitória de Sila no ano de 82 a.C. - , para resolver quem seria o senhor dos destinos do Roma. Entretanto não foi assim. Ela, a batalha da ponte Milvia, transformou não só o império mas boa parte do mundo. No ano seguinte à vitória de Constantino, em 313, em sinal de gratidão, o imperador vitorioso publicou o Édito de Tolerância em Milão, concedendo liberdade religiosa aos cristãos, apreciando sua fé como religião permitida. O suavizo entre os caçados foi desmesurado. A prolixa perseguição que o governo romano movimentara por dois séculos e meio contra os seguidores de Cristo, com sua cicatriz de mártires, vítimas da tortura e de açoites mil, tinha um término:

 “Nós, Constantino e Licínio, imperadores, encontrando-nos em Milão para conferenciar a respeito do bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas benéficas à comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, os cristãos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência. Assim qualquer divindade que no céu mora ser-nos-á propícia a nós e a todos nossos súditos. Decretamos, portanto, que, não obstante a existência de anteriores instruções relativas aos cristãos, os que optarem pela religião de Cristo sejam autorizados a abraçá-la sem estorvo ou empecilho, e que ninguém absolutamente os impeça ou moleste...  Observai outrossim, que também todos os demais terão garantia a livre e irrestrita prática de suas respectivas religiões, pois está de acordo com a estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos a cada cidadão a liberdade de culto segundo sua consciência e eleição; não pretendemos negar a consideração que merecem as religiões e seus adeptos. Outrossim, com referência aos cristãos, ampliando normas estabelecidas já sobre os lugares de seus cultos, é-nos grato ordenar, pela presente, que todos os que compraram esses locais os restituam aos cristãos sem qualquer pretensão a pagamento... (as igrejas recebidas como donativo e os demais que antigamente pertenciam aos cristãos deviam ser devolvidos. Os proprietários, porém, podiam requerer compensação.) Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenanças a favor dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza, para se possibilitar a realização de nosso propósito de instaurar a tranquilidade pública. Assim continue o favor divino, já experimentado em empreendimentos momentosíssimos, outorgando-nos o sucesso, garantia do bem comum.” (Édito de Milão, março de 313 d.C. - Lactâncio, De mort. persec. XLVIII)

Pode-se imaginar o jubilo dos cristãos por saberem que não serão perseguidos. Muitos poderiam até almejar cargos públicos. O imperador via com bons olhos os crentes e os beneficiava. Tanto que foi cognominado “o benfeitor do cristianismo”.

Eram latentes na lembrança dos crentes às atrocidades de Nero; Domiciano; Trajano; Adriano; Antônio, o Pio; Marco Aurélio; Sétimo Severo; Maximínio; Décio; Valeriano; e, Diocleciano. Desde o suplício do apóstolo Paulo tais memórias ainda permaneciam. Todas as mazelas eram atribuídas aos crentes em Cristo. Por ínfimas que fossem, eram culpa dos cristãos, porque esses eram ateus (não adoravam o imperador e os deuses pagãos), antissociais, incestuosos (porque havia casamento entre “irmãos”), eram antropofágicos (comiam carne e bebiam sangue humano). Eram agentes de desconfiança pública, acusados, demudados em elemento de horror e aversão, atirados aos cães, às feras, crucificados, feitos de tocha para iluminação pública. Muitos, não suportando as injúrias delatavam os irmãos em troca de um salvo conduto.  Desses tristes acontecimentos resultaram um grande número de cristãos fieis, que ainda debaixo de  terríveis perseguições, mantinham-se incontaminados pelo sistema. Porém, interrompidas as perseguições, houve um amortecimento espiritual, tornando fácil o sincretismo dos cristãos daquela época com o paganismo; por fim, os judaizantes sobrepuseram-se aos irmãos.

Nessas devidas circunstância, a Roma pagã, legalmente jamais estabeleceu aos seus sujeitos subordinação total à religião oficial do império. Não importava aos súditos romanos permanecer no culto pagão ou ao cristianismo. O convertimento para as religiões existentes na época é um assunto de foro pessoal. Mas com a palavra oficial do imperador, sua suposta visão e conversão todo um império foi mobilizado por uma questão política. Portanto, com o ato de tolerância de Constantino, as igrejas encheram-se de ímpios. Eram pseudocristãos. Aceitaram o cristianismo porque o Estado o beneficiara, contudo permaneceram com os seus ídolos, seus folclores, mitologias, suas cerimônias e rituais pagãos.

Desta forma a igreja depois do Concílio de Niceia abarrotou-se de idolatria, ensinamentos heréticos, cerimônias pagãs e superstições. Tudo isso sincretizado! Vestiu-se em uma roupagem de cristianismo. A religião cristã que se formou após Constantino, tornou-se corrompida, e aquele cristianismo primitivo, perdeu a sua candura. Porém sempre houve homens que se levantaram contra essa “nova roupagem” que o cristianismo pós-niceno recebeu.

"Sempre tem havido duas classes entre os que professam ser seguidores de Cristo. Enquanto uma estuda a vida de seu Salvador e se esforça por viver uma vida digna, a fim de conformar-se com o seu Modelo, a outra evita claramente a boa prática e não se incomoda com o “erro(s)". Os da primeira classe, naturalmente, não aderiram às benesses de Constantino, e por isso foram marginalizados; os da outra classe, aproveitando-se da situação, tornaram-se, com o tempo, ferrenhos inimigos e perseguidores dos fiéis, como se verá adiante. Constantino era um visionário, um sanguinário. Quando pensou em mudar a capital do império para Bizâncio, espalhou o boato de que tinha sido ordenado, num sonho, a "transformar a matrona decrépita numa rapariga na flor de sua beleza", no intuito de valorizar a nova cidade; quando precisou de reforço para a guerra contra Maxêncio e Licínio, disse ter visto no céu a cruz do cristianismo vencedor." (LELLO UNIVERSAL. Porto: Lello & Irmão. v. 1, p. 632 - Verbete: Constantino I.)

Vemos que com Edito de Milão, em 313, foi proporcionada juntamente com a liberdade  de culto cristão, sendo essa patrocinada pela autoridade máxima, “muitas pessoas se tornaram cristãs, não porque acreditaram em Cristo, embora possam ter acreditado nele; mas, porque estava na “moda”. O imperador favorecia o Cristianismo.” (Documentário História das Religiões – Cristianismo Ortodoxo e Catolicismo Romano – Europa Filmes do Brasil, Greenstar Television, 1998)

"Roma era considerada a capital do politeísmo, pois, desde a sua fundação, tinha acolhido uma série de tradições pagãs que a prendiam não só às vitórias das armas, mas também ao orgulho de seus dias de esplendor. De todas as partes do mundo vinham pessoas impregnadas de suas tradições pagãs. Como poderia o catolicismo medrar, engrossando suas fileiras com pessoas dessa classe, não convertidas, sob a direção de um chefe poderoso, sanguinário e não convertido? Aconteceu o que seria natural: com as vantagens materiais, começaram as bajulações. Sacerdotes do culto pagão, sem a unção do Espírito Santo, passaram a exercer o ministério cristão. Templos pagãos eram usados para o "culto cristão". Diz-se até que a estátua de São Pedro que hoje se venera no Vaticano é a de Júpiter Tonante." (CAMPOS, Hyppólyto de Oliveira. Roma, sempre a mesma. 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publocadora Batista, 1957, Página 61)

"Um dia, ao ouvir um sacerdote bajulador, "num desses panegíricos ditados aos literatos pela pusilanimidade e tolerado pela imprudência dos imperadores, pregar que Constantino, depois de ter dominado gloriosamente sobre os homens, subiria ao céu para reinar ao lado do Filho de Deus, interrompeu-o, exclamando: 'Deixa--te de lisonjas intempestivas; não tenho necessidade de teus elogios, mas sim de tuas orações'". (CANTU, Césare. História universal. São Paulo: Ed. das Américas, 1959. v. 7, Página 212-213)

Era costume entre os pagãos que o imperador fosse o sumo pontífice. Todos os imperadores pagãos, desde Júlio César, recebiam esse título, mais tarde transferido para o papa. Constantino então passou a ser o chefe da Igreja; e, nesse poder convocou e presidiu o Concílio de Niceia, na Ásia Menor, em 325. O Concílio contou com a presença de 318 bispos, e tratava especificamente da natureza de Jesus Cristo (Cristologia), e da controvérsia Ariana.

Outros feitos de Constantino ao controlar o “cristianismo” que tinha instituído foi revogar a lei contra o celibato, desobrigar o clero de todos os serviços públicos e de toda profissão árdua e restringir a faculdade de se divorciar. Podemos perceber que sumo pontífice, então, como já dito, não era o papa, e sim o próprio imperador romano.

Posteriormente ao Concílio de Niceia em 325, Teodósio convocou o segundo, concílio de 381, em Constantinopla, no qual a igreja organizada por Constantino recebeu o nome de Católica Romana, através do decreto de “Conctus Populos”. Até o Século V não existia papas como se conhece atualmente. A partir do ano 400 as igrejas passaram a ser dominadas por cinco patriarcas, os quais eram carinhosamente chamados de “papas” (Esse se tornou o embrião do papado). As cinco cidades principais onde por sua vez existiam os cinco bispos que exerciam igual autoridade eram: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma e Constantinopla (antiga Bizâncio). Nesse contexto que Teodósio I – com autoridade suprema – tanto governamental quanto religiosa, chama todo império a Constantinopla:

“Édito dos imperadores Graciano, Valentiniano (II) e Teodósio Augusto, ao povo da cidade de Constantinopla:

"Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi pregada como a pregou ele próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dámaso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo a doutrina apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial. Dado o terceiro dia das Kalendas de março em Tessalônica, no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio Augusto.” .(Código Teodosiano 16:1.2)

Somente depois desse concílio, o bispo Inocêncio I (401-417) começa a fazer com que as igrejas percam a autonomia. Este se autodenominava “representante das igrejas de Deus”, e exigia que todas as controvérsias fossem levadas a ele.

O terceiro concílio, convocado por Teodósio II e por Valentiniano III, em Éfeso; Somente então no quarto concílio, na Calcedônia, convocado por Marciano em 451, que o então bispo de Roma, Leão I (440-461) provocou uma grande controvérsia - Constantinopla X Roma - ao declarar que “resistir a sua autoridade seria ir direto para o inferno”.

Leão expunha em seus sermões seu preceito da primazia papal na jurisdição da igreja. Ele considerou que o poder papal foi concedido por Cristo a São Pedro sozinho, e que esse poder foi passado por Pedro para seus sucessores” (Enciclopédia Britânica - http://www.britannica.com/EBchecked/topic/336187/Saint-Leo-I)

Vejam quanto tempo depois da Igreja Primitiva o  papado surgiu. Somente com Leão I. A maior parte dos historiadores seculares e eclesiásticos confirma isso. Somente os estudiosos católicos não admitem; e, com isso contradizem a própria História, porém como algumas excessões, pois a própria Bíblia de Figueredo admite tal:

"Justiniano convocou o quinto concílio que foi realizado em Constantinopla, pela segunda vez, em 553; o sexto foi também convocado para Constantinopla por Constantino IV, no ano de 680, para condenar heresias. Durante esse concílio, o Papa Honório foi deposto e excomungado (grande contradição devida infalibilidade do papa). Estiveram presentes 174 conciliares; o sétimo foi convocado para se reunir também em Nicéia, em 787, pela Imperatriz Irene, quando o Papa Adriano I oficializou o culto das imagens, e reuniu 300 bispos; o oitavo e último dos concílios convocados por imperadores reuniu-se mais uma vez em Constantinopla, em 869, por determinação de Basílio I. Só nessa data foi reconhecida a primazia do bispo de Roma sobre os demais; os bispos do Oriente não concordaram com isso, o que ocasionou a grande separação, 418 anos depois de Leão I." (BÍBLIA Sagrada. Trad. Pe. A. R Figueiredo. São Paulo: Ed. das Américas, 1951. Página 225.)

"O oitavo concílio foi o último dos "Concílios do Oriente". (CARROLL, J. M. Rastro de sangue. São Paulo: Imp. Brasileira Brusco, s.d. p. 19,21.)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Igreja Católica Romana, juntamente com sua hierarquia, foi à decorrência de um procedimento vagaroso, de mutações que ocorreram a partir dos primeiros dias da Igreja primitiva, onde homens hereges quiseram buscar para si a autoridade de algo que pertence somente a Deus. Na verdade, já nas primeiras comunidades existiam muitos pastores (bispos) e pregadores; porém, alguns deles começaram a usar de uma autoridade que não lhes fora dada no Novo Testamento. Um deles é mencionado pelo apóstolo João:

"Escrevi algumas palavras à Igreja. Mas Diótrefes, que ambiciona o primeiro lugar, não nos recebe. Por isso, se eu for aí, repreenderei a sua conduta, pois ele propaga palavras más contra nós. Não satisfeito com isso, se recusa a receber os irmãos e impede aqueles que o desejam fazer, expulsando-os da Igreja." (3 João 9-10 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Nos três primeiros séculos, as congregações espalhadas no Oriente funcionavam em associações autônomas, sem subsídio governamental e, por conseguinte, isenta de qualquer interferência do poder secular, da Igreja sobre o Estado ou vice-versa.

No cristianismo primitivo as igrejas locais multiplicavam-se extremamente aceleradas, algumas mais do que as outras, mas todas cresciam. Existiam as comunidades cristãs de Jerusalém, a de Éfeso, a de Corinto. Mas, a de Jerusalém,  durante séculos era admitida como a "Igreja-Mãe" e tinha muitos milhares de membros:

Aqueles, pois, que acolheram a sua palavra, fizeram-se batizar. E acrescentaram-se a eles, naquele dia, cerca de três mil pessoas." (Atos 2:41 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos." (Atos 2:47 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Entretanto, muitos dos que tinham ouvido a Palavra abraçaram a fé. E seu número, contando-se apenas os homens, chegou a cerca de cinco mil.” (Atos 4:4 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

A leitura do livro de Atos dos Apóstolos nos ensina muito sobre a História Eclesiástica. Nos mostra como era a Igreja de Cristo e suas congregações no primeiro século. O livro nos deixa como herança o Evangelho claro, e que a apreensão dos apóstolos era manter as igrejas fiéis à mensagem de seu Fundador. Seguindo essa fidelidade neotestamentária o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios, aos gálatas etc., sempre procurando doutrinar e corrigir possíveis erros. Vejamos:

...pois não me esquivei de vos anunciar todo o desígnio de Deus para vós. Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho.” (Atos 20:27-26 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Após os episódios ocorridos no princípio do século IV, os judaizantes tiveram a chance de retomar o cerimonialismo judaico, e a Igreja Católica, com seus paramentos sincréticos, é amostra de que foram introduzidos com o paganismo romano. Um exemplo disse está no batismo, como a Bíblia dá grande destaque a este, o romanismo atribuiu-lhe o poder de regeneração. O batismo passou a ser computado como um meio de salvação, e acumulação de graças Divinas.

Analisando as doutrinas romanistas e comparando-as com a Bíblia, percebemos que os três primeiros grandes desvios foram o papel do bispo na Igreja, a regeneração pelo batismo e o batismo de crianças como meio de salvação e entrada na “suposta verdadeira igreja de Deus”. Este por sua vez, foi a maior causa para perseguições e derramamento de sangue em toda a história do cristianismo.

"Mais de 50 milhões de pessoas sofreram o martírio, principalmente por causa da rejeição da regeneração batismal e do batismo infantil, no período da 'idade das trevas' portanto 12 ou 13 séculos." (Citado por Alcides Conejeiro Peres – O Catolicismo Romano Através dos Séculos)

E, sobre o caso da supremacia do bispo de Roma, sua autoridade jamais foi aceita pela Igreja do Oriente, e devido a isso incidiu o "grande cisma" de 869. Os decretos do oitavo Concílio Ecumênico, congregado, em 869, na capital do Oriente, amparado nas falsas decretais:

O partido tinha sido formado no Império Carolíngio para combater a sujeição da Igreja ao Estado. Dentro dessa facção, um grupo que se convenceu de que o uso de meios legítimos nunca iria alcançar este objetivo; e, determinou tentar alcançá-lo por meios ilegítimos. Eles conceberam que a legislação positiva de suas demandas poderia ser projetada para o passado, atribuindo-o a papas e reis mortos há muito tempo. Assim, eles produziram um número de falsificações de lei da Igreja, dos quais são mais conhecidas como Falsas Decretais.” (Enciclopédia Britância http://www.britannica.com/EBchecked/topic/200996/False-Decretals)

Isso comprova que mesmo depois de vinte quatro anos da farsa formada, da feitura de um documento que amparava a sucessão apostólica aos moldes romanistas, havia um grande grupo em que a tal não prevalecera. O pseudo-Isidoro não colou (só para os defensores do papado romano que agiram ardilosamente).

Dos cânones 13, 17,21 e 26 vê-se que o último concílio geral do Oriente continuava a dividir a Igreja entre as cinco grandes sés de Roma, Bizâncio, Alexandria, Antioquia e Jerusalém.” (JANUS. O papa e o concílio. 3. ed. Trad. e introd. Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Elos, s.d. página 70)

"Nesse oitavo e último dos concílios convocados por imperadores, sendo bispo de Roma Adriano II, "foi reconhecida a primazia de Roma sobre as demais igrejas". (BÍBLIA Sagrada. Trad. Pe. A. R Figueiredo. São Paulo: Ed. das Américas, 1951. Página 225)

Isso nos remete as palavras do apóstolo Pedro:

"Houve, contudo, também falsos profetas no seio do povo, como haverá entre vós falsos mestres, os quais trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou e trazendo sobre si repentina destruição. Muitos seguirão as suas doutrinas dissolutas e, por causa .deles, o caminho da verdade cairá em descrédito." (2 Pedro 2:1-2 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)


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