quinta-feira, 20 de agosto de 2015

QUE SENTIMENTO É ESSE QUE ASSOLA A HUMANIDADE?



"Se o Diabo não existe, mas o homem o criou, ele o criou a partir de sua própria imagem e semelhança." (Fiódor Dostoievski)

Todos nós ficamos assombrados com as últimas notícias sobre Saílson José das Graças, que ficou conhecido como “O Monstro da Baixada”, no Rio de Janeiro. Este confessou ter matado friamente 43 pessoas. Até agora alguma dessas mortes foram confirmadas pela polícia. Um homem que não esboçou arrependimento nenhum. Aparentemente tranquilo e pacato, mas um assassino frio e desprendido de apreço a vida alheia. 

Diante disto indagamos constantemente: “o que se passa na mente desse homem?” “Por que Deus permitiu que esse monstro fizesse isso?” “Como o ser humano pode ser tão mal?” Etc.

Perante a frase delatada pelo grande escritor russo, Dostoievski, deveríamos ter em mente antes desses questionamentos uma certeza absoluta, que o homem é intrinsecamente pecador, mal, e, esse mal é a causa do pecado, de tanta violência no mundo, e a causa da sua morte. Isso fez o dramaturgo exclamar que se o Diabo não existe, o homem o moldou a sua própria semelhança. Sua imagem má.

Mas o que é isso que está inerente à natureza de cada ser humano? Que sentimento é esse? Você pode até dizer que não é como o Saílson, ou como o Tiago Henrique Gomes da Rocha (vigilante que no mês de Outubro cometeu uma série de assassinatos no estado de Goiás), mas provavelmente, nós, como seres humanos temos a tendência de cometer atos como esses ou até piores.  

Filosoficamente, mal é o uso incorreto de algo bom. Nada é mal em si mesmo. Uma faca pode ser usada para o bem ou para o mal. A água é indispensável à vida, mas pode ser usada para o mal.

O mal não existe. O mal acontece. O mal não é um ser ou uma coisa. Não é concreto, mas abstrato. Portanto, não é uma criatura ou uma criação. O mal é uma característica ou estado de um ser, coisa ou fato. É como um apêndice que precisa de um suporte. O “mal” é um título que damos para algo mau. Se eliminarmos o “algo”, não sobrará nenhum mal, pois este está condicionado à existência de seu portador ou hospedeiro. 

Teologicamente falando, mal é tudo o que é contrário à natureza de Deus. O mal ronda a Terra desde os tempos de Adão e Eva. Mal é aquilo que é nocivo, prejudicial, oposto ao bem, à virtude, à honra; mal é a moléstia, enfermidade, calamidade, sofrimento, infelicidade, dano, estrago, imperfeição, algo contra o direito, contra a moral, contra a justiça e as boas normas. Mal é a ausência do bem. 

Salomão, rei de Israel e grande pensador da antiguidade, registrou: 

Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” (Eclesiastes 8:11 – Almeida Corrigida Revisada Fiel)

O mal é algo que perverteu a criação original de Deus. Este, sendo Onipotente e extremamente amoroso, pode fazer tudo que quiser, exceto aquilo que for contrário a sua natureza; então, Deus, não criou o mal! Muito pelo contrário, a criação original de Deus foi perfeita:

E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.” (Gênesis 1:31)

 “Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é.” (Deuteronômio 32:4)

 “Portanto vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!” (Jó 34:10)

COMO SURGIU O MAL ENTÃO?

Deus criou os seres angelicais perfeitos. Com livre arbítrio e capaz de escolher entre o bem, e o mal por contraposição daquilo que Deus é, ou seja, completamente bom. Eles, porém, deixaram o seu estado original, escolhendo o oposto a Deus:

“E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia.” (Judas 1:6)

Uma excelente alegoria sobre isso pode seguir esse exemplo: Deus criou a galinha com a capacidade de botar ovos e assim se multiplicar. A galinha botou os ovos. O homem veio e quebrou os ovos e fez uma omelete. Podemos dizer que Deus criou a omelete? De modo nenhum. A omelete foi feita pelo homem usando o que Deus havia criado.

Tais anjos foram criados perfeitos e assim foram até o momento quando um quis ser maior que Deus. Esse foi o primeiro mal. Daí em diante, Satanás personificou o mal e trabalha para que ele continue acontecendo, pois acontecer é essencial à sua realidade e inerente ao seu significado.

E DEUS NÃO FAZ NADA?

Deus totalmente Onisciente e infinitamente sábio tem propósitos para o mal. Ele não foi pego desprevenido com essa entropia da criação física e moral. O Criador tem uma determinação para tudo e, por conta disso, nos permite conhecer um bom propósito para a maior parte do mal. Por exemplo, a habilidade que temos de sentir dor possui um bom propósito: alertar-nos para um mal em nós.

Outro mavioso escritor, C.S. Lewis, declarou que “a dor é o megafone de Deus para advertir o mundo moralmente surdo”.

Podemos ver isso no caso de José, que Deus usou o mal designo que seus irmãos lhe causaram, transformando o procedimento num bem. O mesmo patriarca exclamou:

Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.” (Gênesis 50:20)

Isso nos faz ponderar que parte do mal é produto do bem e que Deus é capaz de extrair coisas boas do mal. Também, temos de entender que nem todo evento específico no mundo precisa ter um bom propósito. Apenas o propósito geral precisa ser bom. Certamente, Deus tinha um bom propósito para criar a água (sustentar a vida), mas afogamentos são um dos subprodutos malignos. Assim, nem todo afogamento específico precisa ter um bom propósito, apesar de a criação da água ter tido. Na verdade, muitas coisas boas seriam perdidas se Deus não tivesse permitido que o mal existisse. Isso não significa que este mundo seja o melhor mundo possível, mas que Deus o criou como a melhor maneira de atingir seu objetivo supremo do bem maior.

O QUE SERIA ESSE BEM MAIOR? 

Seria o megafone de C.S. Lewis. Deus nos chama nesses incidentes pavorosos: “Olhem! Estou aqui! Busquem por Mim!

Nós como seres psicologicamente responsáveis, podemos nos voltar a Deus e evitar muito desse mal. Admito que não todos! Pois há seguimentos “ditos cristãos” que, declaram que aqueles que creem em Deus fielmente, não sofrem catástrofes, doenças, sofrimentos, dor, fome e miséria; isso é a maior aleivosia que pode ser propagada por tais “pregadores”. Como disse, Deus tem planos para o mal os transformando em bem maior.

O que direi das vítimas desses homicidas? Dessas pessoas distantes de Deus (os assassinos citados)? Muitas delas podem estar nesse momento regozijando-se de um Paraíso Celeste. A vida do seu corpo foi-se, mas, tal não é o fim. Olhando de modo natural pode ser horrendo, mas pelo prisma Bíblico? É esse prisma que fez o apóstolo Paulo exclamar:

Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.” (Filipenses 1:23) 

Nós como parcialmente livres podemos escolher se desejamos pender para o mal ou para o bem. Um mundo totalmente livre, onde ninguém peca, ou mesmo um mundo totalmente livre, onde todos pequem e depois são salvos é concebível (o mundo material perfeito), mas não é atingível, nem o ideal de Deus. Enquanto todos forem parcialmente livres, sempre será possível que alguém se recuse a fazer o bem. Se Deus não permitisse o mal, então as virtudes mais elevadas não poderiam ser atingidas (Virtudes teologicamente chamada de Graça Comum). 

Não há como experimentar a alegria do perdão sem permitir a queda no pecado (Perdão chamado teologicamente de Graça Especial).

A Bíblia expressa à realidade do mal e, para que cada pessoa, dentro de sua limitação, se esmere por evitá-lo. Ninguém pode demonstrar um mundo alternativo melhor que o mundo proposto pelo cristianismo. Não podemos nos esquecer de que Deus ainda não terminou a sua obra, e muito menos que as Escrituras prometem que algo melhor será alcançado. A fé do crédulo é que este mundo é o melhor caminho para o melhor mundo atingível.

Nisso vemos Deus canalizando o mal para sua autodestruição. Aqui me refiro ao mal físico ou no sentido de calamidade, infelicidade ou castigo. O mal físico é consequência e castigo contra o mal moral. Nesse sentido se enquadra tal texto:

Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” (Isaías 45:7)

Esse versículo não poderia se referir ao mal de forma geral porque, se assim fosse, o mais coerente seria o verbo criar no passado: “Eu criei o mal”. O mal feito por Deus se refere ao castigo (calamidade). E, o ponto culminante, a morte, se torna um paradoxo: A morte é um mal. Deus usou a morte de Cristo para vencer a própria morte.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (João 3:16-17)

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

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