quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O HOMEM E O ANIMAL IRRACIONAL SÃO A MESMA COISA?


E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. “ (Gênesis 2:7 - Almeida Revista e Corrigida)

O texto de Gênesis sobre o relato da criação do homem é assaz formoso! Mostra como Deus usando algo material, um elemento químico, forma sua criatura do “pó da terra”. A figura de um oleiro representa a atividade de Deus em moldar a cada pessoa, em especial, não como o restante da criação (somente pela fala), mas, em esculpi-la com a sensibilidade de um artista esboçando amor e destreza.

O patriarca Jó entendeu bem a obra desenvolvida por Deus a nosso favor, e o extremo carinho e amabilidade que o Senhor nos formou, expressando o ato criador de forma magnífica:  

…De fato, foram as tuas mãos que me teceram e me deram forma. E será possível que agora, essas mesmas mãos, se voltam contra mim a fim de me destruir? Ó Deus, lembra-te de que do barro me moldaste! E agora simplesmente desejas triturar-me e devolver-me ao pó?  Não me derramaste como leite e não me coalhaste como queijo? De pele e carne me revestiste, de ossos e nervos me teceste. Tens me concedido vida e misericórdia, e a tua providência tem conservado o meu espírito.” (Jó 10:8-12)

Há uma corrente religiosa, um grupo pseudocristão, que acredita ser o homem apenas a alma em seu estado físico, algo meramente material que é idêntico ao animal irracional (difere somente em ser racional), e essa alma se extingue com o fim da vida. Esse pensamento é conhecido como aniquilacionismo.

Infelizmente tal grupo toma textos belíssimos como este de Gênesis 2:7 e isola totalmente o verso, aplicando apenas um significado a palavra “alma”. Um intérprete dedicado ao estudo da hermenêutica e guiado pelo Espírito Santo saberá que, uma palavra em si, não denota todo o significado de um texto. O sentido etimológico é importante, porém uma mesma palavra pode ter uma gama de sentidos. Ela pode ser aplicada em uma semântica diferente que sempre será determinada pelos contextos.

A palavra “alma” do hebraico נפש (naphash), e do grego ψυχη (psyché), é empregada nas Escrituras em vários sentidos derivados. No texto supracitado “alma vivente” significa pessoa. Pessoa diferente do animal irracional; pessoa que possui atributos de inteligência, sentimentos, volição e sensibilidade.

Não podemos tomar a expressão “alma vivente” com relação ao homem e entender que tenha o mesmo significado da aplicação aos animais em textos como estes:

E disse Deus: Produzam as águas abundantemente repteis de almas viventes; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.” (Gênesis 1:20)

E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie: gado, e répteis e bestas-feras da terra conforme a sua espécie. E assim foi.” (Gênesis 1:24)

  “E todo animal da terra, e a toda ave dos céus, e a todo réptil da terra em que há alma vivente...” (Gênesis 1:30ª)

Os animais possuem instinto e sensibilidade, contudo não são pessoas, não possuem intelecto (os animais sabem, mas não sabem que sabem). Quando alma se refere a eles, a tradução em seu equivalente contextual discrimina excelentemente bem, aplicando “seres viventes”, como fez a Almeida Atualizada.

Em sentido próprio o homem possui uma parte imaterial “soprada por Deus” que é a figura de linguagem representando a atividade criadora do Espírito: 

Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra.“ (Salmos 104:30)

Veio sobre mim a mão do SENHOR, e ele me fez sair no Espírito do SENHOR, e me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos. E me fez passar em volta deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos. E me disse: Filho do homem, porventura viverão estes ossos? E eu disse: Senhor DEUS, tu o sabes. Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor. Então profetizei como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia neles espírito. E ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo." (Ezequiel 37:1-10)

E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que eu, o SENHOR, disse isto, e o fiz, diz o SENHOR” (Ezequiel 37:14) 

O hebraico traduzido como “alma vivente” em referência ao homem tem muitas peculiaridades. Pode se observar que o texto não diz “um ser vivente se tornou homem” — o homem não é formado de vida preexistente nem se limita a vida física. O homem é diferenciado dos animais por levar em si a imagem de Deus:

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra." (Gênesis 1:26) 

Seres humanos em todo o seu ser — corpo e alma — adequadamente e fielmente representam Deus, possuem vida proveniente dele e consequentemente uma intimidade em potencial com ele, e servem na terra como seus administradores. A imagem é passada adiante a cada ser humano, dando dignidade a cada pessoa, e este mostra sua autoridade sobre os animais ao lhe dar nomes.

O ser humano se caracteriza do restante da criação. Deus não soprou o espírito nos demais. Deus como ser espiritual, também nos concedeu uma vida imaterial como a dele, e isso é refletido quando morremos, pois nossa alma sai do corpo material:

E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim.” (Gênesis 35:18)

E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10:28-29)

E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.” (Lucas 12:4-5)

Grande porção das escrituras examinadas em seu contexto nos ensina isso. Que a alma é reunida ao corpo após a ressurreição:

Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu.” (1 Reis 17:21-22)

O estado intermediário no pós-morte, essa parte imaterial do ser humano não dorme, não deixa de existir e nem é aniquilada, mas, se for cristã, fica consciente no céu com o Senhor Jesus:

Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor.” (2 Coríntios 5:6-8)

Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.” (Filipenses 1:21-23)

Se a pessoa for ímpia (não salva) ela terá outro destino:

E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.” (Lucas 16:22-25)

O ensinamentos do Senhor Jesus e dos seus apóstolos a  Igreja Primitiva sempre foi de uma vida imaterial no repousar do corpo, ou seja, morte física. Ensinar e crer contrário a isso é constituir-se em heterodoxia. Esse ensinamento não é cristão! Textos isolados, interpretações etimológicas vazias somente usando um sentido na palavra não discriminará a aplicação correta dos termos que possuem uma amplitude de significados.

E sobre os animais, eles possuem alma no sentido de serem "seres viventes" e falecendo, findou-se. São coordenados pela Sabedoria Infinita de Deus, que introduz neles o instinto. Eles são diferentes da coroa da criação, o homem. Não há relatos de animais na Cidade Celeste, na Jerusalém do alto.

Os cristãos genuínos, falecidos no corpo, dormindo materialmente, vivem com o Senhor na cidade celeste e aguardam sua vinda gloriosa para com isso tornar-se num estado como o próprio Cristo é: tendo sua alma unida novamente com seu corpo, transformada perfeitamente pelo próprio Deus Filho, restaurando assim a sua criação:

Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas." (Filipenses 3:20-21)

Em Cristo

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

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