quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A SALVAÇÃO NA BÍBLIA


Pela graça fostes salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus: não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. Pois somos criaturas dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos.” (Efésios 2:8-10 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

De antemão adianto que a Salvação efetuada pelo Senhor Deus é um processo de eleição dentro de sua livre e soberana vontade. Ao prosseguir com a explanação preceituada desta doutrina Bíblica importantíssima, digo-vos que, ela (a doutrina) é extremamente profunda, mas valiosíssima. Quero apresentar aos menos familiarizados a origem Bíblica da mesma. 

Como muitos cristãos hoje não sabem nada sobre esse assunto - pois nunca participaram de um estudo ou nunca leram nada teologicamente sistematizado – e, os que conhecem, conhecem como outros já ouviram e leram apenas contaminações e reproduções errôneas dela, é certamente essencial que façamos uma analise para embasarmos sua veracidade, demonstrando presentemente a sua raiz na Palavra de Deus. 

Um estudo aprofundado da Bíblia e da Teologia Reformada nos mostra que há provas fidedignas de que a Doutrina da Eleição não é uma invenção teológica de Agostinho, Lutero ou Calvino, ou de qualquer outro homem, mas é algo claramente revelado na Sagrada Escritura, a saber, que Deus, antes da fundação do mundo, fez diferença entre as Suas criaturas, escolhendo algumas pessoas para serem os objetos especiais de Seu favor.

Os teólogos que estudam tal assunto costumam ordenar o processo salvífico de Deus da seguinte maneira:

1) Eleição (Deus escolhe as pessoas a serem salvas)
2) O chamado do evangelho (proclamar a mensagem do evangelho)
3) Regeneração (nascido de novo)
4) Conversão (Fé e arrependimento) 
5) Justificação (posição legal correta)
6) Adoção (tornando-se membros da família de Deus)
7) Santificação (conduta correta na vida)
8) Perseverança (permanecendo como cristãos)
9) Morte (para ir viver com o Senhor)
10) Glorificação (recebendo um corpo de ressurreição)

A cronologia de acontecimentos em que Deus aplica a salvação é conhecida como a ordem da salvação, e às vezes nos referimos a ele pela frase em latim, “ordo salutis”.

Para um entendimento profícuo, devemos lidar com a matéria num contexto geral, e, nos ocupar com os fatos. Analisemos as seguintes informações: No Éden por que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim? Por que Deus escolheu Abrão? Será que Deus tem um povo eleito? Agora, esta questão deve ser proposta para o próprio Deus, pois só Ele é competente para responder. É, por conseguinte, para a Sua Santa Palavra que devemos nos voltar se quisermos conhecer Sua resposta a estas perguntas. Contudo, antes disso, carecemos francamente pedir a Deus que nos conceda um espírito obediente, submisso a Bíblia para que possamos com humildade receber o testemunho Divino. Ninguém pode conhecer as coisas de Deus até que o próprio Deus as professe.

Vamos a analise Bíblica. Em relação à Caim e Abel a Bíblia diz: “Passado o tempo, Caim apresentou produtos do solo em oferenda a Iahweh; Abel, por sua vez, também ofereceu as primícias e a gordura de seu rebanho. Ora, Iahweh agradou-se de Abel e de sua oferenda. Mas não se agradou de Caim e de sua oferenda, e Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido.” (Gênesis 4:3-5 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Ao lermos os primeiros capítulos de Gênesis, podemos notar que não havia um estabelecimento de qual produto seriam as ofertas a Deus. Não existia uma norma definida sobre o culto de oblações e seu procedimento. Deus apenas aceitou a oferta de Abel, que certamente teve seu coração tocado pelo Espírito Santo,  e ofereceu as primícias do seu rebanho. O sangue e a gordura em expiação. (O texto fala apenas da gordura mas só é possível retirar a gordura com o derramamento de sangue)

Com relação a Abrão, Deus apenas o escolheu sem fazer critério algum entre seus familiares. O elegeu apenas por sua livre e soberana vontade, independente de obras. E sobre a geração do patriarca, Josué, em sua oração nos diz que todos eram voltados para idolatria antes de atravessarem o Jordão: 

Agora, pois, temei a Iahweh e servi-o com integridade e com sinceridade; lançai fora os deuses aos quais serviram os vossos pais do outro lado do Rio e no Egito, e servi a Iahweh.” (Josué 23:14 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)     

Ao que tange em consideração à nação de Israel, a Bíblia diz: “Pois tu és um povo consagrado a Iahweh teu Deus; foi a ti que Iahweh teu Deus escolheu para que pertenças a ele como seu povo próprio, dentre todos os povos que existem sobre a face da terra.” (Deuteronômio 7:6 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Pois Iahweh escolheu Jacó para si, fez de Israel seu bem próprio.” (Salmos 135(134):4 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém); 

E tu, Israel, meu servo, Jacó, a quem escolhi, descendência de Abraão, meu amigo, tu, a quem tomei desde os confins da terra, a quem chamei desde os seus recantos mais remotos e te disse: "Tu és o meu servo, eu te escolhi, não te rejeitei". (Isaías 41:8-9 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém). 

Os depoimentos Bíblicos supracitados nos mostram sem sombras de dúvidas que o povo de Israel foi o eleito e favorecido povo de Deus. Não levantarei a questão do porquê ou como Deus os escolheu, ou para que eles foram escolhidos, mas apenas esclareço que foi pela vontade soberana do Senhor de tudo e todos; entretanto enfatizarei exclusivamente o fato em si mesmo. O Senhor Deus possuía uma nação eleita nos tempos da Antiga Aliança.

Como todo Antigo Testamento deve ser interpretado à luz do Novo Testamento - sendo esta a primeira regra da hermenêutica Bíblica -, veremos o ensino da eleição bem esclarecido nas páginas neotestamentárias.  Podemos definir a Eleição Divina da seguinte forma:

A eleição é um ato de Deus antes da criação em que ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não previsível com base no mérito em si, mas porque esse é seu desejo soberano.” (Wayne Gruden)

Diversos passagens neotestamentárias  mostram, com muita clareza, que o Senhor Deus preordenou  os que seriam salvos. Um exemplo explícito é mostrado quando Paulo e Barnabé principiaram a pregação do Evangelho aos gentios em Antioquia da Pisídia. O autor de Atos, Lucas, escreve:  

"Ouvindo isto, os gentios se alegravam e glorificavam a palavra do Senhor, e todos os que eram destinados à vida eterna abraçaram a fé. " (Atos 13:48 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

É expressivo que Lucas refere-se sobre a eleição como um fato decisivo. Perceba  que na pregação do genuíno  Evangelho é uma  atitude  normal que, os eleitos, quando  o ouviram, abraçaram a fé. E por que muitos acreditam? Simplesmente, porque, como diz o texto: “estavam destinados para a vida eterna."

O apóstolo Paulo ensinava a eleição constantemente em seus escritos. Uma consideração perceptiva de seus ensinos demonstram claramente que a Eleição era fundamental em todo seu pensamento: 

E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, também os chamou; e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, também os glorificou.” (Romanos 8:28-30 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

No capítulo nove da Epístola aos Romanos, Paulo, disserta sobre o fato de Deus escolher, livre e soberanamente, Jacó em vez de Esaú. O apóstolo atenta para o caso que não foi por alguma coisa que Jacó e Esaú tinham feito, todavia tão-somente para que Deus continuasse o propósito de sua eleição.

...quando ainda não haviam nascido, e nada tinham feito de bem ou de mal, — a fim de que ficasse firme a liberdade da escolha de Deus, dependendo não das obras, mas daquele que chama — foi-lhe dito: O maior servirá ao menor, conforme está escrito: Amei a Jacó e aborreci a Esaú. ". (Romanos 9:11-13 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

É conveniente considerar no Novo Testamento  a observação que, ainda no beneficiado povo de Deus, Israel, o Senhor fez uma distinção. Existia uma eleição dentro de uma eleição; ou, em outras palavras, Deus teve um povo especial dentre a Sua própria nação eleita. 

E não é que a palavra de Deus tenha falhado, pois nem todos os que descendem de Israel são Israel, como nem todos os descendentes de Abraão são seus filhos, mas de Isaac sairá à descendência que terá teu nome. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas são os filhos da promessa que são tidos como descendentes.” (Romanos 9:6-8 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém). 

Não repudiou Deus o seu povo que de antemão conhecera. Ou não sabeis o que diz a Escritura a propósito de Elias, como ele interpela a Deus contra Israel? 'Senhor, eles mataram teus profetas, arrasaram teus altares; só fiquei eu e querem tirar-me a vida.' Mas o que lhe responde o oráculo divino? 'Reservei para mim sete mil homens que não dobraram o joelho a Baal.' Assim também no tempo atual constituiu-se um resto segundo a eleição da graça. E se é por graça, não é pelas obras; do contrário, a graça não é mais graça. Que concluir? Aquilo a que tanto aspira, Israel não conseguiu: conseguiram-no, porém, os escolhidos. E os demais ficaram endurecidos.” (Romanos 11:2-7 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Isto nos remete ao fato de que alguns de Israel foram salvos, porém outros não. Paulo mostra novamente que havia dois grupos caracterizados dentro do povo de Israel: o eleito que tinha obtido a salvação procurada, enquanto os "eleitos" foram "endurecidos" Este é o verdadeiro sentido do texto. Portanto, é bem evidente, mesmo no Israel visível, a nação eleita para deleitar-se de prerrogativas externas, Deus havia feito uma eleição: um Israel espiritual, os salvos objetos de Seu amor. E, esses eleitos, objetos da graça e do amor de Deus, foram eleitos não depois de crerem nisso, mas Paulo discursa explicitamente sobre a eleição de Deus dos crentes antes da criação do mundo no início da Carta aos Efésios.

"Nele, ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito da sua vontade, para louvor e glória da sua graça, com a qual ele nos agraciou no Amado. "(Efésios 1:4-6 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Paulo escreveu esse texto diretamente aos cristãos, explicando  que Deus "nos escolheu" em Cristo, aludindo  aos crédulos  universalmente. Semelhantemente, alguns versos mais adiante, diz:

"Nele, predestinados pelo propósito daquele que tudo opera segundo o conselho da sua vontade, fomos feitos sua herança, a fim de servirmos para o seu louvor e glória, nós, os que antes esperávamos em Cristo. " (Efésios 1:11-12 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Esse termo, a saber, "predestinados", reflete o mesmo princípio de seleção Divina, e, aparece clara e visivelmente na instrução do Novo Testamento. Também é revelado que Deus tem um povo peculiar, Seus próprios filhos amados, seus súditos, possuidores do favor especial.  Instruindo aos Tessalonicenses, Paulo diz: 

"Sabemos, irmãos amados de Deus, que sois do número dos eleitos — porque o nosso evangelho vos foi pregado não somente com palavras, mas com grande eficácia no Espírito Santo e com toda a convicção. Assim, sabeis como temos andado no meio de vós para o vosso bem." (1 Tessalonicenses 1:4-5 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Nós, porém, sempre agradecemos a Deus por vós, irmãos queridos do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para serdes salvos mediante a santificação do Espírito e a fé na verdade, e por meio do nosso evangelho vos chamou a tomar parte na glória de nosso Senhor Jesus Cristo."(2 Tessalonicenses 2:13-14 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

O apóstolo Paulo está descrevendo que os tessalonicenses acreditaram no Evangelho, quando ele pregou simplesmente porque foram eleitos para isso. O Evangelho não chegou apenas com palavras, mas o poder do Espírito Santo capacitou os eleitos a crerem.

 As palavras “predestinado”, “eleito”, e seus derivados, ou seu sinônimo “escolhido” juntamente com seus equivalentes, ocorre nas Páginas Sagradas consideravelmente mais de cem vezes. Num contexto teológico, esse termo pertence ao vocabulário Divino. Tem seu significado e implicação entendidos em sua plenitude somente por Deus. Ele transmite a nós humanos somente uma ideia definida. 

O ensinamento Bíblico é transparente com relação a obra salvífica de Deus. Quando a Bíblia disserta sobre a salvação, nega explicitamente que essa é proveniente as nossas obras, mas aponta sim para o propósito de Deus e da sua graça na eternidade passada. Veja o que Paulo escreveu a Timóteo: 

"Não te envergonhes, pois, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento pelo evangelho, confiando no poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não em virtude de nossas obras, mas em virtude do seu próprio desígnio e graça. Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos... "(2 Timóteo 1:8-9 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Ao escrever sua Epístola Universal aos fieis das igrejas na Ásia Menor, o apóstolo Pedro disserta sobre os mesmos princípios de eleição: 

"Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros da Dispersão: do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia, eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito, para obedecer a Jesus Cristo e participar da bênção da aspersão do seu sangue. Graça e paz vos sejam concedidas abundantemente!" (1 Pedro 1:1-2 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém) 

Logo adiante ele reforça o pensamento sobre a doutrina da eleição dizendo:  "Mas vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa..." (1 Pedro 2:9 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Muitos contrários a Doutrina da Eleição, tomam a palavra “presciência” citada por Pedro e a tratam num contexto isolado, dizendo que a eleição é um conhecimento antecipado que Deus teve dos que iriam aceitar o Evangelho, ou seja, Deus em sua Onisciência olhou para o futuro e simplesmente viu os que se tornariam cristãos. Sinto contradizê-los, mas não é isso! Tal pensamento é extremamente errado! Deus não olhou para o futuro e viu os que aceitariam a Cristo. Ele determinou antes mesmo dos tais aceitarem, pois desta forma podemos declarar firmemente que Deus é o Senhor e Autor da salvação.   

Tomemos esse texto apocalíptico: “Deram-lhe permissão para guerrear contra os santos e vencê-los; e foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação. Adoraram-na, então, todos os habitantes da terra cujo nome não está escrito desde a fundação do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado.” (Apocalipse 13:7-8 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

O apóstolo João em sua visão no Livro Apocalipse, viu que aqueles que cometiam a abominação de idolatria, e renderam-se a tal, não tinham seus nomes escritos no Livro da Vida do Senhor Jesus, que por sua vez foi escrito desde a fundação do mundo. Ou seja, os eleitos foram criados para serem salvos. 

Não podemos ter concordância textual nas palavras do próprio Senhor Jesus, com respeito a salvação se a Doutrina da Eleição não for considerada: 

E se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma vida se salvaria. Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados.”  (Mateus 24:22)

Pois hão de surgir falsos Cristos e falsos profetas, que apresentarão grandes sinais e prodígios de modo a enganar, se possível, até mesmo os eleitos.” (Mateus 24:24)

Ele enviará os seus anjos que, ao som da grande trombeta, reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade até a outra extremidade do céu.” (Mateus 24:31)  

E Deus não faria justiça a seus eleitos que clamam a ele dia e noite, mesmo que os faça esperar?” (Lucas: 18:7)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A eleição é uma doutrina Bíblica; porém, é um segredo Divino, um ato soberano da vontade de Deus na eternidade passada. O Senhor reserva para si o conhecimento dos que são eleitos ou não; mas, do mesmo modo nos outorga a pregação do Evangelho não para que permanecesse em segredo para sempre. No tempo oportuno, Deus, apresenta deleite de manifestar abertamente Seus conselhos eternos. Isto Ele fez em graus variados, desde o início da história humana.

A Doutrina da Eleição nos diz que somos  cristãos porque Deus na eternidade passada decidiu derramar seu amor sobre nós. Mas por que Ele decidiu fazer? Não por nenhuma bondade que havia em mim, mas simplesmente porque ele queria me amar. Nenhuma outra razão.

Pensar dessa forma ajuda-nos a ser humildes diante de Deus. Faz-nos perceber que não temos o direito à graça divina. Nossa salvação é única e inteiramente da graça de Deus. Nossa resposta única e apropriada é dar-lhe eterno louvor.

Por outro lado, Deus, não prometeu salvação para toda humanidade. Desta forma teria uma placa no inferno com os dizeres: “há vagas!!!”. De toda a forma o que compete aos cristãos é a perseverança na crença em que a salvação vem unicamente de Deus; que sou salvo; que fui feito cristão para uma vida de santificação; e, e que devo praticar boas-obras, pois de antemão, Deus, as preparou para que os salvos "andassem nelas" (Efésios 2:10)

Os crentes em Cristos podem então regozijar-se nessa Palavra bendita que soa na Escritura proferida pelo profeta Isaías. Que nossa Salvação foi antecipadamente preparada unicamente por Deus e não pode desfazer-se.

Eu, eu sou Iahweh, e fora de mim não há nenhum Salvador. Fui eu que revelei, que salvei e falei, nenhum outro Deus houve jamais entre vós. Vós sois as minhas testemunhas — oráculo de Iahweh —, eu sou Deus, desde toda a eternidade, eu o sou; não há ninguém que possa livrar da minha mão; quando faço, quem poderá desfazer?” (Isaías 43:11-13 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O HOMEM E O ANIMAL IRRACIONAL SÃO A MESMA COISA?


E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. “ (Gênesis 2:7 - Almeida Revista e Corrigida)

O texto de Gênesis sobre o relato da criação do homem é assaz formoso! Mostra como Deus usando algo material, um elemento químico, forma sua criatura do “pó da terra”. A figura de um oleiro representa a atividade de Deus em moldar a cada pessoa, em especial, não como o restante da criação (somente pela fala), mas, em esculpi-la com a sensibilidade de um artista esboçando amor e destreza.

O patriarca Jó entendeu bem a obra desenvolvida por Deus a nosso favor, e o extremo carinho e amabilidade que o Senhor nos formou, expressando o ato criador de forma magnífica:  

…De fato, foram as tuas mãos que me teceram e me deram forma. E será possível que agora, essas mesmas mãos, se voltam contra mim a fim de me destruir? Ó Deus, lembra-te de que do barro me moldaste! E agora simplesmente desejas triturar-me e devolver-me ao pó?  Não me derramaste como leite e não me coalhaste como queijo? De pele e carne me revestiste, de ossos e nervos me teceste. Tens me concedido vida e misericórdia, e a tua providência tem conservado o meu espírito.” (Jó 10:8-12)

Há uma corrente religiosa, um grupo pseudocristão, que acredita ser o homem apenas a alma em seu estado físico, algo meramente material que é idêntico ao animal irracional (difere somente em ser racional), e essa alma se extingue com o fim da vida. Esse pensamento é conhecido como aniquilacionismo.

Infelizmente tal grupo toma textos belíssimos como este de Gênesis 2:7 e isola totalmente o verso, aplicando apenas um significado a palavra “alma”. Um intérprete dedicado ao estudo da hermenêutica e guiado pelo Espírito Santo saberá que, uma palavra em si, não denota todo o significado de um texto. O sentido etimológico é importante, porém uma mesma palavra pode ter uma gama de sentidos. Ela pode ser aplicada em uma semântica diferente que sempre será determinada pelos contextos.

A palavra “alma” do hebraico נפש (naphash), e do grego ψυχη (psyché), é empregada nas Escrituras em vários sentidos derivados. No texto supracitado “alma vivente” significa pessoa. Pessoa diferente do animal irracional; pessoa que possui atributos de inteligência, sentimentos, volição e sensibilidade.

Não podemos tomar a expressão “alma vivente” com relação ao homem e entender que tenha o mesmo significado da aplicação aos animais em textos como estes:

E disse Deus: Produzam as águas abundantemente repteis de almas viventes; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.” (Gênesis 1:20)

E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie: gado, e répteis e bestas-feras da terra conforme a sua espécie. E assim foi.” (Gênesis 1:24)

  “E todo animal da terra, e a toda ave dos céus, e a todo réptil da terra em que há alma vivente...” (Gênesis 1:30ª)

Os animais possuem instinto e sensibilidade, contudo não são pessoas, não possuem intelecto (os animais sabem, mas não sabem que sabem). Quando alma se refere a eles, a tradução em seu equivalente contextual discrimina excelentemente bem, aplicando “seres viventes”, como fez a Almeida Atualizada.

Em sentido próprio o homem possui uma parte imaterial “soprada por Deus” que é a figura de linguagem representando a atividade criadora do Espírito: 

Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra.“ (Salmos 104:30)

Veio sobre mim a mão do SENHOR, e ele me fez sair no Espírito do SENHOR, e me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos. E me fez passar em volta deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos. E me disse: Filho do homem, porventura viverão estes ossos? E eu disse: Senhor DEUS, tu o sabes. Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor. Então profetizei como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia neles espírito. E ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo." (Ezequiel 37:1-10)

E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que eu, o SENHOR, disse isto, e o fiz, diz o SENHOR” (Ezequiel 37:14) 

O hebraico traduzido como “alma vivente” em referência ao homem tem muitas peculiaridades. Pode se observar que o texto não diz “um ser vivente se tornou homem” — o homem não é formado de vida preexistente nem se limita a vida física. O homem é diferenciado dos animais por levar em si a imagem de Deus:

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra." (Gênesis 1:26) 

Seres humanos em todo o seu ser — corpo e alma — adequadamente e fielmente representam Deus, possuem vida proveniente dele e consequentemente uma intimidade em potencial com ele, e servem na terra como seus administradores. A imagem é passada adiante a cada ser humano, dando dignidade a cada pessoa, e este mostra sua autoridade sobre os animais ao lhe dar nomes.

O ser humano se caracteriza do restante da criação. Deus não soprou o espírito nos demais. Deus como ser espiritual, também nos concedeu uma vida imaterial como a dele, e isso é refletido quando morremos, pois nossa alma sai do corpo material:

E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim.” (Gênesis 35:18)

E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10:28-29)

E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.” (Lucas 12:4-5)

Grande porção das escrituras examinadas em seu contexto nos ensina isso. Que a alma é reunida ao corpo após a ressurreição:

Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu.” (1 Reis 17:21-22)

O estado intermediário no pós-morte, essa parte imaterial do ser humano não dorme, não deixa de existir e nem é aniquilada, mas, se for cristã, fica consciente no céu com o Senhor Jesus:

Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor.” (2 Coríntios 5:6-8)

Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.” (Filipenses 1:21-23)

Se a pessoa for ímpia (não salva) ela terá outro destino:

E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.” (Lucas 16:22-25)

O ensinamentos do Senhor Jesus e dos seus apóstolos a  Igreja Primitiva sempre foi de uma vida imaterial no repousar do corpo, ou seja, morte física. Ensinar e crer contrário a isso é constituir-se em heterodoxia. Esse ensinamento não é cristão! Textos isolados, interpretações etimológicas vazias somente usando um sentido na palavra não discriminará a aplicação correta dos termos que possuem uma amplitude de significados.

E sobre os animais, eles possuem alma no sentido de serem "seres viventes" e falecendo, findou-se. São coordenados pela Sabedoria Infinita de Deus, que introduz neles o instinto. Eles são diferentes da coroa da criação, o homem. Não há relatos de animais na Cidade Celeste, na Jerusalém do alto.

Os cristãos genuínos, falecidos no corpo, dormindo materialmente, vivem com o Senhor na cidade celeste e aguardam sua vinda gloriosa para com isso tornar-se num estado como o próprio Cristo é: tendo sua alma unida novamente com seu corpo, transformada perfeitamente pelo próprio Deus Filho, restaurando assim a sua criação:

Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas." (Filipenses 3:20-21)

Em Cristo

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

RESPOSTA AOS OPOSITORES DO DEUS BÍBLICO (ELISEU, "OS MENINOS" E AS URSAS)


"Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo! E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no nome do Senhor; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos." (2 Reis 2:23-24)

Muitos céticos e opositores da Bíblia veem nesse texto um alicerce para sustentar que, o Deus judaico-cristão, é intrinsecamente mau, injusto, impiedoso e intolerante. Bem... o que eu posso colocar de antemão é que, tal texto texto é interessantíssimo, e, possui alguns pontos a serem analisados. O termo "meninos" da passagem é a tradução da palavra hebraica נְעָרִים (neârim), usado para servos, pessoas jovens ou em idade de casamento. Os jovens não eram crianças pequenas e inocentes. Eram jovens maldosos, comparáveis às gangues de rua dos dias de hoje. Daí, a vida do profeta foi exposta ao perigo pelo grupo, que era numeroso, pela natureza do seu pecado e pelo óbvio desrespeito que eles demonstraram à autoridade de Eliseu.

O ministério de Eliseu é caracterizado por sua compaixão para com os arrependidos e severidade para os incrédulos. Nada existe de espetacular e assombroso nesse incidente, em nada diminuindo o caráter amoroso de Deus. Eliseu era um profeta e falava com autoridade Divina e um instrumento de Deus na terra TANTO PARA JUSTIÇA QUANTO PARA BÊNÇÃO!!!

A passagem enfatiza a oposição contínua sofrida por um profeta autêntico em Betel, o principal centro pagão de adoração a animais. A principal dificuldade recai sobre a "maldição no nome do Senhor" (verso 24). Na doutrina deuteronômica de justiça por retribuição:

"E retribui no rosto qualquer dos que o odeiam, fazendo-o perecer; não será tardio ao que o odeia; em seu rosto lho pagará."
(Deuteronômio 7:10) 

Esta era a exigência contra todo aquele que zombasse de um profeta, um ato que equivalia a diminuir a importância do próprio Deus. A ofensa dos jovens não foi assim tão pequena, porque os jovens trataram Eliseu com desprezo. Como o profeta era a boca com a qual Deus falava ao seu povo, o próprio Deus estava sendo maldosamente insultado na pessoa do seu profeta.

Então o que podemos aprender de tal episódio não era o fato de Eliseu ter amaldiçoado ou não. Mas que Deus tomou a vida deles, pois somente Ele poderia ter dirigido as ursas naquela hora, fazer com que os rapazes se paralisassem de temor e assim serem atacados. Deus tem o poder sobre toda a criação - tanto em doar a vida, como tirá-la:

"Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma." (Ezequiel 3:19)

"A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele." (Ezequiel 18:20)

É evidente que, por terem zombado desse homem de Deus, aqueles jovens revelaram sua verdadeira atitude para com o próprio Deus. DEUS É AMOR MAS TAMBÉM É JUSTIÇA. Foi claramente um ato de Deus em juízo sobre aquela ímpia gangue. Um desprezo assim para com o Senhor é punível com a morte.

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

DISCREPÂNCIA IRÔNICA NA VULGATA LATINA


Olhando Aarão e todos os filhos de Israel para Moisés, eis que a pele de seu rosto resplandecia; e tinham medo de aproximar-se dele.” (Êxodo 34:30 – Bíblia de Jerusalém)


O texto acima se refere ao episódio que, Moisés, após o êxodo, subiu a montanha com duas tábuas de pedras lavradas, e, retornou ao povo com a glória de seu rosto resplandecente devido a Aliança feita com Deus.

O brilhante artista renascentista, Michelangelo Buonarroti, em uma de suas principais obras, esculpiu o mediador da Antiga Aliança, por encomenda do Papa Júlio II, em 1505. A obra baseou-se no episódio narrado em Êxodo 34:30-35. O Moisés de Michelangelo possui uma característica muito peculiar, um par de chifres como mostrado na figura de sua escultura que se encontra na igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma. Mas por que os chifres?

Esta história antiga contém duas ocorrências linguísticas incomuns. O verso supracitado e o sequente:

...e os filhos de Israel viam resplandecer o rosto de Moisés. Depois Moisés colocava o véu sobre a face, até que entrasse para falar com ele.” (Êxodo 34:35 – Bíblia de Jerusalém)

 O verbo “קרן” (qaran) significa “brilhar”, “emitir raios” ou “resplandecer” aqui na Bíblia de Jerusalém foi traduzido como “resplandecer”. É uma excelente tradução. Entretanto infelizmente, porque um substantivo cognato tem sua grafia homônima que significa “קרן” (qeren) que se traduz por “chifre”, “trombeta” ou pode significar figuradamente “força” - fazendo alusão aos fortes animais que possuem chifres e usam para a defesa - a Vulgata Latina (Bíblia oficial do Catolicismo) traduziu o termo erradamente como “chifres”, e assim foi que Moisés ganhou um par de chifres na obra do artista medieval. Vejamos:

videntes autem Aaron et filii Israël “cornutam Mosi faciem” timuerunt prope accedere” (Liber Exodus 34: 30 [http://www.bibliacatolica.com.br/vulgata-latina/liber-exodus/34/#.VHMr-NLF_kU])

qui videbant faciem egredientis “Mosi esse cornutam” sed operiebat rursus ille faciem suam si quando loquebatur ad eos” (Liber Êxodus 34:35 [http://www.bibliacatolica.com.br/vulgata-latina/liber-exodus/34/#.VHMr-NLF_kU])

As expressões respectivas “cornutam Mosi faciem” (chifres na face de Moisés [34:30]) e “Mosi esse cornutam” (Moisés e seu chifre [34:35]) são o motivo. É até irônico, porém nos deixa um ensinamento.

Esse pequeno exemplo do “cornutam” (chifres) mostra que transtorno uma tradução errada pode causar. Na hora de vertermos um termo sempre devemos analisar seu contexto. E qual é contexto da passagem? Que Moisés subiu ao monte para falar face-a-face com Deus, recebeu o sinal da Aliança em tábuas de pedra, estava emanando o poder do Senhor. Obviamente não era de “chifres” que o texto original estava se referindo.

Hoje o hebraico possui os sinais massoréticos que auxiliam na tradução. Estes são pontos colocados em cima, ao lado ou em baixo das letras hebraicas, fazendo às vezes das vogais, dando uma diferença fonética no termo. Desta forma ficaria mais fácil identificar a palavra “קרן” (qaran/qeren).

Porém mesmo palavras com seu significado claro, podem possuir um sentido diferente nas passagens da Escritura. É o caso de expressões como pedra, gerar, alma, primogênito, sal, luz, batismo, pão, água, dormir, morrer, etc. 

É preciso usar recursos linguísticos e conhecer os gêneros literários. Muitas expressões na Bíblia ganham outras atribuições devido ao seu gênero, seja literal, figurado, irônico, hiperbólico, metafórico, metonímico (subentendido), paradoxal etc. Tudo dependerá do contexto. E, é por causa da analise do contexto que muitas seitas e heresias surgem.

Nos nossos dias nenhuma versão católica moderna grafa o texto desta forma. A Reforma Protestante com sua excelente análise hermenêutico-exegética, e suas traduções para idiomas vernáculos, contribuiu com isso eficazmente promovendo assim versões condignas da Bíblia. 

Porém há ainda muitos termos (exemplos acima) que são traduzidos onde desprezam-se  toda a conjuntura, não levando em conta uma interpretação histórico-gramatical, a finalidade real do escrito, os contextos paralelos, para com isso obter uma salutar interpretação. E ignorando isso se pode sustentar o que quiser usando a Bíblia, filosofando e arranjando malabarismos teológicos em prol de amparar suas tendências. Já nos tempos dos apóstolos esse procedimento acontecia, e, Pedro fala sobre tais homens (grupos), e o fim que lhes aguarda. Vejamos: 

Considerai a longanimidade de nosso Senhor como a nossa salvação, conforme também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Isto mesmo faz ele em todas as suas cartas, ao falar nelas desse tema. É verdade que em suas cartas se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição.” (2 Pedro 3:15-16 – Bíblia de Jerusalém)

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

MORRER É DORMIR INCONSCIENTEMENTE?


E Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi." (1 Reis 2:10 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Como sempre esclareço em meus artigos, para interpretarmos um texto, não devemos isolar um verso apenas com o seu conceito literal. Devemos examinar as partes que vem antes e depois desse verso (contextos imediatos); textos em outros capítulos ou livros que tratam do mesmo tema (contextos remotos); a autoria do texto; o tempo em que foi redigido; a cultura da época; a situação social, dentre outros meios. 

Devemos conhecer os modismos e tipos de linguagens que o autor costuma aplicar. O hebraísmo e sua utilização comumente nos dias em que o autor inspirado redigiu o texto Sagrado. 

Uma das palavras mais contestáveis quando se trata da imortalidade da alma é a palavra “dormir”. Mortalistas e defensores de uma vida imaterial inexistente no pós-morte apregoam que tal termo “dormir” diz claramente que o homem, sendo uma “alma vivente”, ao término do ciclo de vida, adormece. Grande disparate hermenêutico.

O termo “dormir” no verso acima é a tradução da palavra hebraica “וישכב” (Wayshekab) que literalmente seria traduzida por “e assim dormiu”. Ela tem sua raiz na palavra primitiva “ישן” (Yashen) que significa “dormir”. Esta palavra “וישכב” (Wayshekab) foi traduzida pela Septuaginta (LXX) pelo equivalente grego “ἐκοιμήθη” (Ékoiméthe) derivado da palavra “κοιμαω” (koimao) que é a raiz de uma gama de palavras com vários significados: 

fazer dormir”, “colocar para dormir”, “acalmar”, “tranquilizar”, “aquietar”, “cair no sono”, “dormir”, e, metaforicamente “morrer”. Há também uma palavra muito usada para dormir “καθευδω” (katheudo) e seus derivados, que além de ter  todos os significados de “κοιμαω” (koimao) é usada também como “indiferença na salvação”. 

Aqui vemos a amplitude do termo “dormir”, e como devemos ponderar antes de apresentarmos uma concepção interpretativa precipitada. A palavra “dormir” é usada em três sentidos: sono natural; morte do corpo; e, dormir com o Senhor (aplicado a cristãos)

DORMIR NO SENTIDO DE SONO NATURAL

Mas, dormindo (καθευδειν - katheudein) os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se.” (Mateus 13:25)

O noivo demorou a chegar, e todas ficaram com sono e adormeceram (καθευδων – katheudon).” (Mateus 25:5)

Ao voltar para seus discípulos, os surpreendeu dormindo (καθεύδοντας – katheúdontas): “Simão!”- chamou Ele a Pedro.  Estais dormindo (καθευδεις – katheudeis)? Não conseguistes vigiar nem por uma hora?" (Marcos 14:37)

Depois, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo (κοιμωμένους - koimoménous ) de tristeza” (Lucas 22:45)

DORMIR REFERINDO-SE AO SONO DA MORTE CORPORAL

E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam (κεκοιμημένων – kekoimeménon) foram ressuscitados;" (Mateus 27:52)

Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme (κεκοίμηται – kekoímetai), mas vou despertá-lo do sono." (João 11:11)

Uma observação a ser feita em João 11:11 é que o termo: “mas vou despertá-lo do sono” foi grafado no original como “ἀλλὰ πορεύομαι ἵνα ἐξυπνίσω αὐτόν” (alla poreúomai ína éxypníso aúto), traduzido literalmente para: “mas vou para que eu acorde ele.” A palavra “sono” não consta no original, foi introduzida em nossas versões somente para dar uma melhor contextualização ao verso.

Analisemos o contexto posterior:

Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto (ἀπέθανεν – àphethanen);” (João 11:14)

O conjunto desses dois últimos versos é interessantíssimo! O Senhor Jesus em João 11:11 usa claramente a palavra dormir como um eufemismo para morte. Os discípulos não entenderam a expressão: “mas vou despertá-lo do sono”; tanto que disseram no verso 12: “Senhor, se dorme (κεκοίμηται – kekoímetai) estará salvo.” 

De imediato o Senhor Jesus usa o termo literal: “Lázaro está morto (ἀπέθανεν – àphethanen)”. A palavra grega usada nessa passagem para “morto” (ἀπέθανεν – àphethanen), só é aplicada em dois sentidos: morte literal e morte eterna no inferno. Ou seja, afastamento total de Deus. 

Falar da morte como um “sono” ou como “adormecimento” era um modo comum na fraseologia a respeito da morte, e nada diz a respeito da doutrina do "sono da alma" dos santos que partiram. As Escrituras são claras em dizer que a percepção consciente continua depois da morte.

DORMIR REFERINDO-SE AOS CRISTÃOS

Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem (κοιμωμένων – koimoménon), para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem (κοιμηθέντας – koimethéntas), Deus os tornará a trazer com ele.” (1 Tessalonicenses 4:13-14)

Aqui vemos uma metáfora comum entre judeus e cristãos para a morte. A expressão central para o pleno esclarecimento dessa passagem está na declaração: “assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele”.  na preposição grega “σὺν“ (syn) que significa “com” o texto paulino declara explicitamente que Deus os tornará a trazer com ele “σὺν αὐτῷ” (syn auto), isto é, com Jesus na sua vinda, os que já provaram a morte física. 

Os corpos dos fieis são descritos como dormindo, numa linguagem de símbolo comum no Novo testamento para referir-se ao corpo nunca ao espírito e alma: “E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados.” (Mateus 27:52). 

No contexto imediato “σὺν” (syn - com) refere-se aos crentes que estarão vivos até a “parousia”, ou seja, até a segunda vinda de Cristo e serão arrebatados “juntamente com eles”.

Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor" (1 Tessalonicenses 4:17)

 Isto é, com os mortos em Cristo, nós: “a encontrar o Senhor nos ares”. Uma referência novamente a “σὺν “(syn - com) tendo o sentido de: “juntamente com”. Ainda há uma última vez que se usa a preposição “σὺν” (syn – com)  nesse contexto imediato. Vemos a expressão: “e assim estaremos sempre com o Senhor”. 

Obviamente que aqueles que dormem, dormiram no corpo, e em espírito estão com Cristo:

Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.” (Filipenses 1:21-23)

Os crentes que partiram, e estão com Cristo, estando num estado “ainda muito melhor”  vão retornar com o Senhor:

Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos.” (1 Tessalonicenses 3:13) 

Estes terão seus corpos ressurretos e tornar-se-ão incorruptíveis. Todos os que têm seus tabernáculos terrenos descritos como “dormindo” sofrerão uma metamorfose.

Na igreja primitiva era comum o uso dessa metáfora. Ela era sinônimo de casa de repouso para estrangeiros, para indicar o lugar de repouso dos que já tinham morrido (cemitério ou dormitório), onde os corpos jaziam.

Como vemos não há cabimento usar o termo “dormir” literalmente para a alma. Ou se dorme fisicamente, ou “dormir” referindo-se a “morte” é relacionado diretamente a morte do corpo. Esse ensino do sono da alma faz parte de muitos grupos “ditos cristãos”, ditos “evangélicos”, porém não fazem parte dos ensinos Neotestamentários, sendo esta doutrina totalmente herética.

É a esperança dos crentes no Senhor Jesus que não durmamos (literalmente) depois da morte; é sua promessa que quando falecermos não estaremos inconscientes, mas sim como foi prometido ao ladrão  crucificado com o Senhor, será também para nós:

E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:43)

Em Cristo 

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

O CRISTÃO PODE TUDO?


 “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Filipenses 4:13 Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Na concepção de muitos pregadores modernos, Deus quer que todos sejam ricos e em perfeita saúde, qualquer coisa menos que isto, você está em falta com a verdadeira fé. Isso é apenas uma das reivindicações surpreendentes provenientes dos defensores do “evangelho” da prosperidade. Longe de ser inofensivo, esses descendentes do movimento carismático estão atraindo muitos cristãos sinceros, confundindo-lhes e conduzindo-os para uma grande armadilha. 

Hoje nas igrejas vemos muitas pessoas em seus testemunhos, alegando serem extremamente abençoadas financeiramente. A televisão faz até anúncio usando pessoas bem sucedidas, empregam “slogans”, propagandeando denominações, Vez por outra escutamos como um brado de vitória e poder: "Posso todas as coisas em Cristo (Naquele) que me fortalece"

Há programas “evangélicos” em praticamente todos os canais abertos. Os curandeiros e pregadores de riquezas e saúde inabalável dominam a televisão. Digo com sinceridade que perante a Escritura, suas pregações não passam de fraudes e manipulação de interpretação de textos Bíblicos.

Suas mensagens não transmite o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. Não há nada de espiritual ou milagroso sobre o “show” que pregadores como Agenor Duque, Valdemiro Santiago, Estevam Hernandes e outros dão em seus palcos. 

Tudo isso é um estratagema tortuoso projetado para tirar vantagem de pessoas desesperadas. Eles não são ministros piedosos mas impostores gananciosos que corrompem a Palavra de Deus por causa do dinheiro. Eles não são pastores reais  do rebanho de Deus, mas mercenários cujo único projeto é iludir as ovelhas. O amor ao dinheiro é muito óbvio no que dizem e como eles vivem. Eles afirmam possuir grande poder espiritual, mas na realidade eles são materialistas e inimigos de tudo que é santo - Principalmente da Bíblia – quando dão sentido diferente da intenção do autor inspirado.

No texto supra citado percebemos que a palavra de Paulo é muito profunda, ele expressa uma maturidade espiritual no sentido de não se abater diante da adversidade. Mas será que o texto de Filipenses pode ser intendido como um brado de vitória financeira, extinção de doenças, problemas, desempregos, consternações etc? Vejamos:

Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Filipenses 4:11-13)

Estar “abatido” é mais do que privação econômica, mais do que seu destino como mártir; reflete sua visão global, e seu desinteresse pelo conforto pessoal nessa vida. Muitas traduções vertem “estar humilhado”. A frase final dá o sentido íntimo do todo. O aprendizado de Paulo, do segredo da independência e autocontrole só é igualado pelo seu senso de dependência do Senhor, e total confiança nEle.

Usar um único verso para sustentar que, só pelo fato de ser cristão, Deus pode lhe dar tudo que você almejar, é um ensino totalmente humanista. Essas concepções anti bíblicas damos o nome de teologia da prosperidade e confissão positiva. Verdadeiros enganos usados por lobos em pele de cordeiro, para enriquecerem as custas da fidelidade e inocência de alguns. Esse tipo de pregação são a marca registrada das igrejas neo pentecostais que possuem “líderes”, “bispos”, “apóstolos” e “pastores” sem preparo teológico nenhum, mas que guiam carrões importados, voam em seus jatinhos e trazem confusão e sentimento de culpa a muitos crentes verdadeiros.

Enquanto os pregadores do verdadeiro Evangelho se colocavam da seguinte forma: 

Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa...” (1 Coríntios 4:10,11)
 
Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado; Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, Nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, Na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido, Na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda, Por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros; Como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos; Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo.” (2 Coríntios 6:3-10)

São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes.” (2 Coríntios 11:23)

Usando a lógica dos “pregadores” modernos, imagine a pouca fé que Paulo, Barnabé, Apolo e os demais ministros de Cristo dos tempos Bíblicos possuíam! O cristão não está imune aos problemas financeiros, doenças, derrotas, tribulações, desemprego, etc. Somos passíveis às mesmas circunstâncias que sobrevêm ao mundo, porém temos um diferencial: o Espírito Santo, que nos orienta, capacita, guia e consola.

Os valores de Deus são muito diferentes dos nossos, Jesus Cristo não tinha onde reclinar a cabeça, seus discípulos eram os homens mais humildes da época, não possuíam terra nem gado, eram pescadores!! E muitos “pastores” e “líderes” têm a coragem de associar a bênção de Deus a coisas meramente financeiras. Pedro nos ensina que o tesouro das nossas vidas é muito mais valioso do que dádivas materiais:  

"Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo" (I Pedro 1:18,19)

Deus usa muitas vezes as circunstâncias difíceis para ensinar, corrigir e disciplinar seus filhos. O ser humano tem a tendência de se achar auto suficiente quando possui uma situação financeira estável e abastada. A maior bênção nós já recebemos: fomos comprados pelo precioso sangue de Jesus. Isso não quer dizer que devemos nos acomodar, que devemos nos contentar com uma vida de miséria; ao contrário, devemos lutar, trabalhar, estudar para adquirir conhecimento, para ter uma melhor qualidade de vida, para dar conforto aos nossos familiares; mas, nosso coração não deve ser apegado às coisas efêmeras e terrenas como se elas - e somente elas - revelassem uma vida abençoada por Deus. Muito pelo contrário:

Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Timóteo 6:10)

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)