terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O DIA NATALÍCIO DO SOBERANO (UMA MENSAGEM DE NATAL)



Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor.” (Lucas 2:11)

Ao noticiar o nascimento de Cristo Jesus, o anjo de Deus, explica que, trouxe as boas novas de alegria. A notícia do Salvador possui muito significado a humanidade e aos povos de todas as nações; mas, ela foi revelada primeiramente ao povo antigo de Deus. O Salvador é um título muito empregado para a Pessoa de Jesus devido a sua Obra, sendo chamado de “Cristo, o Senhor”, isso nos mostra a importância geral de sua Santa Pessoa.  

O termo Cristo significa “Ungido” em Grego, assim como “Messias” no termo hebraico. A unção era para serviço especial, como o de um sacerdote ou de um rei. Os judeus, porém, esperavam que um dia Deus enviaria um libertador específico. Não seria simplesmente “um” ungido mas, sim “o” Ungido, o Messias. E é Este que o anjo anuncia. A palavra “Senhor” (tradução do grego KYRIOS) é usada no Novo Testamento somente para Deus, daí a mesma palavra ser empregada ao imperador por seus súditos, pois aquele considerava-se “deus” na Terra. “Cristo, o Senhor”, portanto, descreve o Menino nos termos mais altos possíveis. Descreve-o como Deus-Homem.

Mas como assim? Um menino que necessitava de cuidados? Precisava de amparo como um bebê comum? Este teria o mesmo título de Deus? Ou melhor, esse é o Deus que aplicaria a salvação dos pecados a humanidade? Sim! Cristo Jesus é o Deus de Israel. Ele é preexistente juntamente com o Pai e o Espírito Santo, numa “Triunidade” sempiterna. Esse é o Jesus que devemos conhecer. O Jesus que se fez homem, que nasceu como um de nós, gerado pelo Espírito de Deus; e, que se entregou como um cordeiro mudo, não tendo pecado, fazendo-se como um sacrifício substitutivo por nossas iniquidades:

E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado.” (1 João 3:5)

O apóstolo Paulo nos explica a importância não só apenas de um conhecimento superficial da Pessoa de Jesus, mas sim de algo mais profundo, algo inerente a sua plena natureza. Aquele que andou entre nós, chorou, sentiu fome, sede, frio, sorriu, ensinou, etc., era a plenitude de Deus encarnada. O único alvo da nossa adoração e redenção:

Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. (Colossenses 1:16-18)

O texto nos mostra a supremacia de Cristo e sua glória. O frágil bebê nascido na pequena Belém Efrata (cidade do rei Davi), era o criador do Universo físico e de todo mundo espiritual. Aquele que em tudo tem a primazia.  

Esse é o Cristo que deve nascer em nossos corações. Esse é nosso Deus, Salvador, Intercessor e Advogado. Muitas religiões criam estórias; exaltam pessoas normais – como eu e você -, e repartem com outros redentores e mediadores o lugar inerente somente a Jesus Cristo em nossas vidas. Isso é um falso ensino! Tal como a cosmovisão europeia que, nos apresenta uma falsa comemoração natalina: com suas simbologias, práticas culturais, e a criação de outros ícones que não seja o Deus-Homem, Cristo.

Uma visão correta de Cristo, nos isenta de toda uma gama de erros. Nos faz ter paz com Deus, e, com isso saberemos e aplicaremos o verdadeiro sentido do seu nascimento em nossas vidas. O Senhor Jesus não é um rei bélico como os judeus aguardavam. Alguém que os libertaria do domínio romano.  Não é um curandeiro e um milagreiro apresentado no “evangelho” televisivo de nossos dias. Mas, é um Soberano Salvador, O Ungido que estabeleceu um reino espiritual, em prol de libertar, pela sua misericórdia, os que creem nEle do pecado intrínseco a todos os homens, e da condenação deste. Seu nascimento, ministério e obras é muito maior do que podemos imaginar. Cristo pagou o preço pelas culpas de muitos, para com isso nos abrir a via que teremos acesso ao Pai.

Daí vem a única forma correta de devoção, culto e adoração registrada pelo amado apóstolo João em seu maravilhoso Evangelho:

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. (João 14:6)

Um feliz natal a todos!


Rômulo Lima

Rio de Janeiro - Dezembro de 2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

AMBIGUIDADE NO CONCÍLIO DE TRENTO




No século 16, a Reforma Protestante levantou as questões do pelagianismo e do semipelagianismo novamente. A resposta da igreja Católica Romana no Concilio de Trento lança luz sobre o modo como essas questões se desenvolveram. Na sexta sessão do concílio, a igreja definiu a sua doutrina da justificação e registrou cânones contra várias concepções que considerava heréticas. Os primeiros três cânones claramente reiteram o repúdio histórico da igreja ao pelagianismo puro. Os cânones 4 e 5 deixam alguma ambiguidade com relação ao semipelagianismo.

NO CÂNONE 4 DA SEXTA SESSÃO LÊ-SE:

Se alguém disser que o livre-arbítrio do homem [quando] movido e despertado por Deus, por consentimento ao chamado e ação de Deus, não coopera de forma alguma com respeito ao inclinar-se e preparar-se para obter a graça da justificação, [e] que ele não pode recusar seu consentimento se o desejar, mas que, como algo inanimado, nada faz e é meramente passivo, que seja anátema”.

A ambiguidade aqui é complexa. A primeira declaração é que o homem coopera por meio do consentimento a Deus quando este o move e estimula a vontade. Mas o que significa a vontade ser “movida e despertada por Deus”? A teologia agostiniana afirma que depois que Deus muda a disposição da vontade pela sua graça, o pecador coopera e concorda com a vontade de Deus. Esse consentimento, no entanto, é o resultado da operação monergística de Deus sobre a vontade do pecador escravizado. Os reformadores podem até mesmo concordar que a vontade se dispõe e se prepara para a graça da justificação (não regeneração), mas é improvável que essa linguagem fosse usada por eles. Tal terminologia deixa exposta uma questão crítica perante o semipelagianismo: A vontade, antes da regeneração, sempre se dispõe ou se prepara para a graça?

O concílio adicionou confusão quando negou que a vontade não pode discordar mesmo se quisesse. Essa declaração é estranha porque claramente erra o alvo. Como veremos mais tarde, os reformadores não ensinaram que a graça irresistível de Deus faz com que as pessoas sejam incapazes de discordar mesmo se o quisessem. A obra eficaz de Deus opera de tal forma que o pecador não pode discordar precisamente porque ele não quer discordar. Ele não pode escolher fazer o que não escolhe fazer. A visão agostiniana também não considerava a vontade caída como algo inanimado, embora passiva no momento em que recebe a graça da regeneração.

O teólogo luterano Martin Chemnitz recorre a Jacob Payva Andrada para uma interpretação definitiva desse cânone: 

Ele explica a opinião, tanto do sínodo [ou concílio] quanto a sua própria, assim: Que o livre-arbítrio, sem a inspiração e assistência do Espírito não pode, de fato, causar ações espirituais, mas que isso não acontece por esta razão, que a mente e a vontade, presentes no homem desde o momento do seu nascimento, não tem força alguma, qualquer poder ou faculdades necessárias para começar e efetivar ações espirituais antes da sua conversão porque esses poderes e faculdades naturais, embora não tenham sido destruídos nem extinguidos, foram tão enredados nas armadilhas dos pecados que o homem não pode se desembaraçar pela sua própria força”.

Aqui vemos que o concílio claramente negou o pelagianismo ao afirmar que a pessoa caída não pode fazer bem espiritual sem a assistência da graça. Mas permanece a questão sobre que capacidade moral tem a pessoa não-regenerada para responder à assistência da graça. Chemnitz continua:

...o Concílio de Trento... diz que o livre-arbítrio consente e coopera livremente com a graça assistente e estimuladora de Deus. Porque eles pensam que na mente e na, vontade do homem não-regenerado ainda há, desde o momento do seu nascimento nessa corrupção, alguns poderes naturalmente implantados, ou algum tipo de faculdade para as coisas divinas ou ações espirituais, mas que o movimento e uso dessas faculdades e poderes é reprimido e impedido pelo pecado no não regenerado. Assim, eles pensam que a graça de Deus e a obra do Espírito não efetuam e trabalham simplesmente naqueles que são nascidos de novo, algum novo poder, força, faculdade ou capacidade de começar e realizar impulsos e ações espirituais que, antes da conversão e renovação, não tinham a partir dos poderes da natureza, mas que eles apenas quebram as cadeias e são libertos das armadilhas para que a faculdade natural, previamente refreada, contida e obstruída, possa, agora, incitada pela graça, exercer seus poderes em questões espirituais.

Se Chemnitz estiver correto, então Trento reafirmou a condenação da igreja ao pelagianismo e retrocedeu quanto à condenação clara ao semipelagianismo. O concilio adotou essencialmente a visão semipelagiana da vontade e do pecado original.

O CÂNONE 5 DA SEXTA SESSÃO DECLARA: 

Se alguém disser que após o pecado de Adão, o livre-arbítrio foi perdido e destruído, ou que ele é algo apenas em nome, na verdade um nome sem uma realidade, uma ficção introduzida na igreja por Satanás, seja anátema.” 

Novamente, é difícil discernir o alvo desse cânone. Agostinho e os reformadores pensavam que o livre-arbítrio do homem não havia sido extinto pela queda. O que foi extinto, de acordo com Agostinho, foi a liberdade, a capacidade moral para o bem.

A resposta de João Calvino ao ensino de Trento é similar à de Chemnitz. Aos três primeiros cânones contrários ao pelagianismo, Calvino simplesmente diz “Amém”. Com relação ao cânone 4, ele escreve:

Certamente obedecemos a Deus com a nossa vontade, mas é com uma vontade que ele formou em nós. Assim, aqueles que atribuem qualquer movimento apropriado ao livre-arbítrio, à parte da graça de Deus, não mais fazem do que arrancar o Espírito Santo. Paulo declara, não que uma faculdade de vontade foi dada a nós, mas que a própria vontade foi formada em nós (Fp 2.13) e, assim, o consentimento ou obediência à uma vontade justa não vem de ninguém além de Deus. Ele age dentro de nós, sustentando e movendo o nosso coração e nos atraindo pelas inclinações que ele mesmo produziu em nós. Assim diz Agostinho. Que preparo pode haver no coração de ferro até que, por uma mudança maravilhosa, comece a ser um coração de carne?

As observações de Calvino assumem um tom ainda mais afiado quando responde ao cânone 5:

Que nós não levantemos uma discussão sobre uma palavra. Mas como por livre-arbítrio eles entendem uma faculdade de escolha perfeitamente livre e sem preconceitos de ambos os lados, aqueles que afirmam que isso é meramente para usar um nome sem uma substância, tem a autoridade de Cristo quando ele diz que livres são aqueles que o Filho liberta e que todos os outros são escravos do pecado. Liberdade e escravidão são com certeza contrários um ao outro. Quanto ao próprio termo, que Agostinho seja ouvido quando afirma que a vontade humana não será livre enquanto estiver sujeita às paixões que a dominam e escravizam. Em outro lugar, ele diz, “Sendo a vontade dominada pela depravação na qual tem caído, a natureza se encontra sem a liberdade”. Novamente, “O homem, ao fazer um mau uso do livre-arbítrio, o perdeu e perdeu a si mesmo”.

Novamente vemos o jogo das palavras liberdade, livre e livre-arbítrio. Em outro lugar, Calvino, assim como Agostinho, admitiu o livre-arbítrio no sentido em que o pecador não age por compulsão exterior. No entanto, a vontade não é livre no sentido moral porque ela é escrava das más inclinações. 

Tanto Chemnitz (um luterano) como Calvino viram em Trento um afastamento da concepção sobre a vontade de Agostinho. Eventos posteriores na igreja tendem a confirmar esse julgamento.

O Agostinianismo de Jansen Desenvolvimentos posteriores dentro da igreja Católica Romana no final do século 16 prepararam o caminho para a controvérsia jansenista do século 17. Michael Baius, um professor em Louvain, afirmava decididamente as doutrinas agostinianas da graça. Ele argumentava que o homem é completamente depravado pelo pecado: “O livre-arbítrio sem a assistência de Deus para nada serve a não ser para o pecado”. A justificação é obtida apenas depois da vontade do pecador ter sido transformada por Deus. Setenta e nove teses de Baius foram condenadas numa bula editada pelo papa Pio V. Entre as teses condenadas estavam idéias de Agostinho como:

(1) a vontade sem a graça só pode pecar; 
(2) mesmo a concupiscência contrária à vontade é pecado; e 
(3) o pecador é movido e avivado apenas por Deus.

O teólogo jesuíta Luis de Molina tentou fazer uma síntese na qual o pelagianismo, o semipelagianismo e o agostinianismo pudessem ser reconciliados. Seeberg resume suas concepções:

O homem é, mesmo em seu estado pecaminoso, livre para realizar não apenas obras naturais, mas também sobrenaturais, a cooperação da graça sendo pressuposta. A graça eleva e estimula a alma... mas o ato real de decisão não é trabalhado na vontade pela graça, mas é feito pela própria vontade, esta, no entanto, estando em união com a graça... Agora a cooperação profunda assim alcançada se torna uma mera ilusão se todos os atos livres dos seres criados forem realmente reconhecidos, de acordo com os tomistas, como desejados pelo próprio Deus a partir do seu próprio movimento original”.

Com relação à predestinação e eleição, Luis adotou uma visão presciente (baseada na sua teoria do “conhecimento mediano”), de acordo com a qual a eleição de Deus baseia-se no seu conhecimento prévio das livres escolhas humanas. “É verdade, um olho crítico irá prontamente descobrir que a combinação assim aceita é apenas aparente e que a concepção agostiniana-tomista da graça é aqui arrancada pela raiz”, escreve Seeberg. “O sinergismo na sua forma mais ousada é o primeiro princípio confesso dessa teologia. Mas a oposição a ele, inaugurada pelos dominicanos, foi debilitada pela campanha dos jesuítas, que adotaram essa teoria da graça como a doutrina oficial da sua ordem”.

A disputa entre os dominicanos e jesuítas resultou num apelo ao papa. Mas nenhuma declaração papal seria feita para permitir que os jesuítas continuassem ensinando a posição molinista sem oposição eclesiástica.

A influencia crescente dos jesuítas provocou uma forte reação no mosteiro de Port Royal (perto de Paris). Em 1640, pouco antes da sua morte, o bispo de Ypres, Cornelis Jansen, escreveu Augustinus. Nesse volume, Jansen basicamente reproduziu a teologia de Agostinho. Ele insistiu que o pecador é livre apenas dentro do domínio do pecado. Só a graça irresistível pode trabalhar o bem no homem. Os jesuítas reclamaram do livro de Jansen para o papa. Em 1653, Inocêncio X condenou as cinco teses de Jansen:

1) Alguns mandamentos de Deus são impossíveis para os homens “justos” obedecerem pela vontade e pelo esforço de acordo com os poderes que presentemente possuem. Eles também carecem da graça que faria com que essa obediência fosse possível.

2) Aqueles no estado da natureza caída nunca oferecem resistência à graça interior.

3)Para obter mérito ou demérito no estado da natureza caída, o homem não requer liberdade da necessidade. A liberdade da coerção é suficiente.

4) Os semipelagianos admitiram corretamente a necessidade da graça interior para atos individuais, até mesmo para o início da fé. Eles foram heréticos porque afirmaram que o homem pode resistir ou se conformar a essa graça.

5) É semipelagiano dizer que Cristo morreu ou derramou o seu sangue por todo e qualquer homem.

O agostinianismo foi novamente revivido na igreja por Pasquier Quesnel. No século 18, ele publicou o seu Meditations upon the New Testament. Essa obra, mais uma vez, incitou os jesuítas, que conseguiram assegurar a condenação das 101 teses desse comentário. “Com uma honestidade tremenda, não apenas a teologia agostiniana, mas toda a estrutura do Cristianismo agostiniano foi aqui condenado”, escreve Seeberg. 

“É herético ensinar: que o homem natural é apenas pecador; que a fé é dom de Deus; que a graça é dada apenas mediante a fé; que a fé é a primeira graça... que a graça é necessária para toda boa obra...”

Blaise Pascal acendeu uma faísca sobre a causa jansenista ao escrever uma série de artigos contra os jesuítas. Mas, mesmo os esforços de Pascal não detiveram o movimento da igreja para longe do curso que Agostinho havia estabelecido séculos antes.

O SEMIPELAGIANISMO NO CATECISMO

No novo Catecismo da Igreja Católica (1994), muitos artigos tratam da liberdade e da responsabilidade humana. Alguns desses artigos incluem o que se segue:

A liberdade é o poder, arraigado na razão e na vontade, de agir ou não agir, fazer isto ou aquilo, e assim realizar ações deliberadas sob a própria responsabilidade da pessoa. A pessoa modela sua própria vida pelo livre-arbítrio. A liberdade humana é uma força para o crescimento e a maturidade na verdade e na bondade; ela alcança a sua perfeição quando dirigida a Deus... Enquanto a liberdade não se vincular definitivamente ao seu bem final que é Deus, há a possibilidade de se escolher entre o bem e o mal e, conseqüentemente, crescer na perfeição ou falhar e pecar. Essa liberdade caracteriza propriamente os atos humanos. É a base para o louvor ou culpa, mérito ou reprovação.

As palavras acima revelam a visão semipelagiana segundo a qual o homem caído retém a capacidade moral de escolher entre o bem e o mal. Em outro lugar, o Catecismo declara:

Deus criou o homem um ser racional, conferindo a ele a dignidade de uma pessoa que pode iniciar e controlar suas próprias ações. ‘Deus desejou que o homem fosse “deixado nas mãos do seu próprio conselho”, para que pudesse, de acordo com si mesmo, buscar seu Criador e livremente alcançar sua completa e abençoada perfeição pelo ato de apegar-se a ele”.

Com relação ao pecado original, o Catecismo observa que a igreja rejeitou tanto a visão pelagiana quanto a protestante. Os reformadores, diz o Catecismo, “ensinaram que o pecado original perverteu radicalmente o homem e destruiu a sua liberdade; eles identificaram o pecado herdado por cada homem com a tendência para o mal (concupiscentia), o que seria insuperável”.

De modo diferente de Agostinho e dos reformadores, Roma não considera essa inclinação ao mal como insuperável. Ela pode ser superada por meio de um empenho no que o Catecismo chama de “uma batalha difícil”. 

Toda a história do homem tem sido a história de um sério combate com os poderes do mal, assim nosso Senhor nos diz, desde o próprio início da História até o último dia. Ao se encontrar no meio do campo de batalha, o homem tem de lutar para fazer o que é certo, isso a um grande custo para si mesmo, e é ajudado pela graça de Deus que obtém o sucesso em alcançar a sua própria integridade interior”.

Resumindo, Roma claramente continua a repudiar o pelagianismo puro e a ensinar que o homem precisa da assistência da graça divina para a salvação. Contudo, Roma também ensina que o homem caído retém a capacidade (embora sua vontade tenha sido enfraquecida) para cooperar com essa graça assistente, exercendo a vontade no seu poder natural. Isso representa o triunfo do semipelagianismo sobre o agostinianismo.

 Por R.C. Sproul
Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O ANJO GABRIEL SAUDOU MARIA COM O TERMO "AVE"? (UMA ANALISE DA ANUNCIAÇÃO)


Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.” (Mateus 7:15 – Bíblia Ave Maria)

O Senhor Jesus nos ensina algo muito significativo neste texto de Mateus: Que os cristãos deveriam ter cautela ante os supostos profetas, mestres e doutores da religião. Houve muitos falsos profetas na época do Antigo Testamento. Tais só profetizavam coisas de seu próprio coração, e, muitas vezes somente o que era agradável ao rei e ao povo.

Nos tempos de Cristo, e ainda hoje, também há falsos profetas, mestres e doutores. Homens que criam normas e doutrinas religiosas que não condizem com o verdadeiro Cristianismo. 

Devemos estar sempre atentos para tais que procuram envolver a mensagem simples do Evangelho, a autoridade da Bíblia, juntamente, com o culto, louvor, honra, glória e adoração devidos somente a Deus em Cristo Jesus.

Um exemplo explícito do que digo está no ensinamento do Catolicismo Romano com relação à Maria. Com o intuito de engrandecer a pessoa da mãe do Salvador, o Catolicismo Romano criou uma Mariologia ampla, envolta em mitos e doutrinas extra Bíblicas.

Todos já ouviram a expressão “Ave”. Ela era usada no mundo antigo exclusivamente para o imperador Romano em sua honra, glória e exaltação. Daí a expressão: “Ave César”. Até mesmo os gladiadores saudavam o imperador Romano dessa forma: “Ave, Imperador! Os que vão morrer te saúdam!” 

O Catolicismo aplicou essa saudação a Maria. Mas será que ela está na Bíblia? É o que vamos analisar. A palavra grega para cumprimento é “χαιρε” (kaire), que a Bíblia Ave Maria traduziu por “AVE” seguindo o erro da tradução Vulgata de Jerônimo que usou: “have gratia plena” que literalmente significa “Ave, Cheia de Graça”.  

Tal cumprimento aparece exatamente na forma “χαιρε” (kaire), cinco vezes; e, na forma “χαίρετε” (kaírite) uma única vez nos Evangelhos. Vamos aos textos.

PRIMEIRO: Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: Salve Mestre. E beijou-o.” (Mateus 26:49 – Bíblia Ave Maria)

καὶ εὐθέως προσελθὼν τῶ ἰησοῦ εἶπεν, χαῖρε, ῥαββί· καὶ κατεφίλησεν αὐτόν.” (Mateus 26:49 [http://www.bibliacatolica.com.br/septuaginta/sao-mateus/26/#.VGuOqjTF_kU])

Transliteração: “Kaí euthéos prosselthom tô Iesou eípen, KAIRE rabbí kaí katefilessen auton.

SEGUNDO: Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: Salve, rei dos judeus!” (Mateus 27:29 – Bíblia Ave Maria)

καὶ πλέξαντες στέφανον ἐξ ἀκανθῶν ἐπέθηκαν ἐπὶ τῆς κεφαλῆς αὐτοῦ καὶ κάλαμον ἐν τῇ δεξιᾷ αὐτοῦ, καὶ γονυπετήσαντες ἔμπροσθεν αὐτοῦ ἐνέπαιξαν αὐτῶ λέγοντες, χαῖρε, βασιλεῦ τῶν ἰουδαίων,” (Mateus 27:29 [http://www.bibliacatolica.com.br/septuaginta/sao-mateus/27/#.VGuPMzTF_kU])

Transliteração: “kai pléxantes stéfanon ex akanthon epéthekan épí kefales autou kai kalamon em te dexia autou kai gonypetésantes emprosthen autou enepaixian autõ légontes KAIRE bassileu tõn ioudaíon.

TERCEIRO: Nesse momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: Salve! Aproximaram-se elas e, prostradas diante dele, beijaram-lhe os pés” (Mateus 28:9 – Bíblia Ave Maria)

"καὶ ἰδοὺ ἰησοῦς ὑπήντησεν αὐταῖς λέγων, χαίρετε. αἱ δὲ προσελθοῦσαι ἐκράτησαν αὐτοῦ τοὺς πόδας καὶ προσεκύνησαν αὐτῶ." (Mateus 28:9 [http://www.bibliacatolica.com.br/septuaginta/sao-mateus/28/#.VGuRFzTF_kU])

Transliteração: “kaí ídou Iesous ypéntesen autais légon KAÍRETE aí dé proselthousai ekpátesan autou tous podas kaí proskynesan auto.

QUARTO: “E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus!” (Marcos 15:18 – Bíblia de Jerusalém)

καὶ ἤρξαντο ἀσπάζεσθαι αὐτόν, χαῖρε, βασιλεῦ τῶν ἰουδαίων·” (Marcos 15:18 [http://www.bibliacatolica.com.br/septuaginta/sao-marcos/15/#.VGuT9jTF_kV])

Transliteração: “kai erxanto aspázesthai aouton KAÍRE bassileu tõn ioudaíon.

QUINTO: Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.” (Lucas 1:28 – Bíblia Ave Maria)

καὶ εἰσελθὼν πρὸς αὐτὴν εἶπεν, χαῖρε, κεχαριτωμένη, ὁ κύριος μετὰ σοῦ.” (Lucas 1:28 [http://www.bibliacatolica.com.br/septuaginta/sao-lucas/1/#.VGuVXzTF_kU])

Transliteração: “kai eísselthon prós autén eípen KAÍRE, kekaritoméne, hó Kyrios metá sou.

SEXTO: "Aproximavam-se dele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas." (João 19:3 – Bíblia Ave Maria)

καὶ ἤρχοντο πρὸς αὐτὸν καὶ ἔλεγον, χαῖρε, ὁ βασιλεὺς τῶν ἰουδαίων· καὶ ἐδίδοσαν αὐτῶ ῥαπίσματα.” (João 19:3 [http://www.bibliacatolica.com.br/septuaginta/sao-joao/19/#.VGuWeTTF_kU])

Transliteração: “kaí êpgonto prós autón kaí êlegon, KAÍRE, hó bassileus tôn ioudaíon kaí edidossan.” 

Notaram alguma diferença na tradução? É nítido que a única vez que a palavra grega “χαιρε” (kaire), - que é uma saudação comum como: "Salve, Graça, Alegra-te, Olá, etc". - foi traduzida por “AVE”, somente em Lucas 1:28. com o intuito de exaltar Maria e defender a doutrina extra Bíblica da Imaculada Conceição

Nem ao menos em Mateus 26:19, Mateus 27:29, Marcos 15:18 e João 16:3, textos que a palavra é dirigida diretamente a Jesus Cristo, ela foi traduzida por “AVE”. Somente na referência a Maria!

É muito interessante que o Senhor Jesus também usou a palavra “χαίρετε” (kaírite), para saudar as mulheres, após sua ressurreição, quando estas foram ao seu túmulo. Será que o Senhor Jesus, o Deus Todo Poderoso queria reverenciá-las da forma como texto é aplicado (pelo catolicismo) a Maria? Logicamente que não! 

Queridos leitores(as) o Catolicismo Romano não está interessado em ensinar aos seus leigos fieis a verdade. A religião Romanista está preocupada em salvaguardar suas doutrinas que não são Bíblicas. Traduziram a Escritura de forma tendenciosa para com isso aplicar a sua interpretação. Prendem seus adeptos com uma suposta “única autoridade Divina”, engodando, criando e sofismando tudo que é de mais errado nos preceitos que desenvolveram. A Bíblia nos exorta para atentarmos aos tais:

E ninguém vos seduza com vãos discursos. Estes são os pecados que atraem a ira de Deus sobre os rebeldes.” (Efésios 5:6 – Bíblia Ave Maria) 

Rômulo Lima 
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)