quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

QUARESMA: PENITÊNCIA E A JUSTIFICAÇÃO (PARTE I)


Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” (Romanos 5:18)

Após o Carnaval, há um período que a Igreja Católica Romana denomina de Quaresma. São quarenta dias que seguem da Quarta-Feira de Cinzas, até a véspera da Páscoa. Após o segundo século, o jejum pré-pascal, a princípio, era bem curto; mas, gradualmente, foi-se ampliando para incluir a Semana Santa, e, então, a décima parte de um ano, e, finalmente, quarenta dias.

Esses quarenta dias foram estabelecidos devido ao período que o Senhor Jesus foi tentado no deserto por Satanás. Então, a igreja romana passou a associá-lo com o tempo de quaresma realizado pelo fiel católico. Como o profº Felipe Aquino explica:


Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.” (http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/03/06/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma/)

A quaresma era também na antiguidade um período de preparação para o batismo, durante a páscoa, e para a penitência pública por parte dos candidatos ao batismo. Gradualmente, porém, foi envolvendo uma aplicação universal, para todos os católicos romanos. Hoje essa pratica está intrinsecamente ligada ao sacramento* da Penitência.  

*Para entender sobre o que são os Sacramentos e sua relação com a salvação do fiel, leia esse artigo: http://apologeticageral.blogspot.com.br/2015/11/os-sacramentos-e-salvacao.html

Como todo o sacramento - na visão católico romana -, este também está ligado a obtenção da graça de Deus na realização de alguma obra por parte dos fiéis. Vejamos o que o Catecismo da Igreja Católica disserta sobre este sacramento:

Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.” (Catecismo da Igreja Católica – Parágrafo 1422 - http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1420-1532_po.html)

Logo na primeira frase do parágrafo vemos um erro drástico. Um discurso diametralmente oposto ao que ensina a Bíblia sobre a misericórdia e o perdão divino. Notem essa passagem do catecismo: “Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus...”. Há compatibilidade bíblica nesta declaração, e o que nos expôs Paulo no verso que iniciei essa sessão? Paulo diz que a ofensa de um homem colocou toda a humanidade em estado de pecado, e, sujeito ao juízo de Deus. Ou seja, a condenação. Mas, por um ato de justiça de um Único Homem, a saber o Senhor Jesus, a GRAÇA JUSTIFICADORA DE DEUS nos alcançou.

Essa é a grande diferença entre Catolicismo Romano e o Cristianismo Bíblico. A Teologia Reformada percebeu esse grande erro durante o decorrer da história, e isso culminou na Reforma. O Catolicismo Romano associa diretamente as OBRAS DE JUSTIÇA que devem ser praticadas pelos católicos, como que práticas justificativas diante de Deus.

Agora notemos a continuação do parágrafo catequético: “...e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando...” Outro equívoco grandessíssimo nesta passagem. De acordo com a declaração, o pecador comete ofensa contra a igreja e precisa ser reconciliado com esta. Pergunta: Onde está escrito isso na Bíblia? Aqui é pervertida toda a definição de pecado ensinada na Escritura. Segundo a Bíblia, o pecado é a desconformidade da lei moral de Deus em atitude de ação, e até mesmo de natureza. Isso porque nós não somos pecadores por cometermos pecado; somos pecadores por sermos naturalmente dispostos a isso. Conclui-se então que, não são apenas as ações individuais, como mentir, roubar ou matar, mas também as atitudes que são naturalmente contrárias à perfeição de Deus, ou seja, a disposição e inclinação ao pecado:

O Senhor viu que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a intenção dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.” (Gênesis 6:5)

"Enganoso é o coração acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9)

De fato, tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra.” (Tito 1:15-16)

O coração dos homens, além do mais, está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos mortos.” (Eclesiastes 9:3) 

Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis.” (Romanos 1:28-31)

"Porque todo aquele que faz coisas ruins odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” (João 3:20) 

A mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus.” (Romanos 8:7-8)   

Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês.” (Colossenses 1:21)  

Esses poucos versos expressam o que é o pecado, e nossa condição diante de Deus. Em nenhum lugar na Bíblia é dito que a humanidade pecou contra a igreja, e que precisa se reconciliar com a instituição católica romana, ou quaisquer outras denominações. Esse pensamento teológico é tão-somente para que, o fiel, torne-se dependente da instituição para tudo. Até para ter seu pecado perdoado. O profº Felipe Aquino aponta que o remédio contra o pecado é praticar a Quaresma com boas obras, assim o católico está isento daquele. Veja:

Esses quarenta dias, devem ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola (“remédios contra o pecado”). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão, etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.(http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/03/06/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma/)

Porém, a Bíblia ensina um único meio de sermos libertos dessa condição que leva todos a condenação. E, esse “remédio contra o pecado”, como cita o professor católico, não é realizando esmolas, jejuns, orações e nem meditando. A Bíblia apresenta esse ÚNICO medicamento:

Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. (1 João 4:10)

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. (1 João 2:1)

E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. (1 João 3:5)

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. (1 João 1:9)

E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (1 João 2:2)

Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados. (1 João 2:12)

Somente na primeira carta do Apóstolo João vimos todo o pensamento católico romano cair por terra. O legalismo sempre acompanha a teologia e as doutrinas dessa instituição. A graça de Deus pelo sacrifício de Seu Filho é posta lado a lado com as obras sacramentais criadas por clérigos, doutores e professores católicos que querem laçar seus fiéis por meio ordenanças. Vemos Pedro fulminar com essa concepção:

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós.(1 Pedro 1:18-20)

Esse é o Evangelho pregado por Cristo e por seus Apóstolos; e, é isso que a Igreja fiel ao seu Salvador deve pregar: Que o Seu sangue – não obras de justiça, sacramentos, fidelidade a instituição --, purifica-nos de todo pecado. E isso o Senhor testemunhou fidedignamente ser a obra de Deus:

E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados...” (Apocalipse 1:5)

Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.”  (Efésios 2:13)

Ensinar que a igreja é “...a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.” É uma heresia legalista. A graça de Deus se desfaz. Mas, para o catolicismo romano isso não importa. Em seus compêndios, dogmas e concílios, não são cridos que, o homem, é salvo pela graça de Deus em Cristo. No concílio da Contrarreforma, Trento, isso é explicitamente declarado na Sessão VI:

Cânone IX: “Se alguém disser, que o pecador se salva somente com a fé entendendo que não é requerida qualquer outra coisa que coopere para conseguir a graça da salvação, e que de nenhum modo é necessário que se prepare e previna com o impulso de sua vontade, seja excomungado.” (http://www.montfort.org.br/old/documentos/trento.html#sessao6)

Nesta passagem é negada a salvação pela fé dada como graça, como dom de Deus. Ou seja, O Senhor, por sua infinita misericórdia, nos agraciou com a fé no seu Filho, e, por meio dessa fé (que é uma dádiva divina) somos salvos. Parece redunde expressar-se dessa forma, mas é assim que a Bíblia coloca as Doutrinas da Graça: REDUNDANTEMENTE PARA QUE NÃO HAJA DÚVIDAS:

Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos).” (Efésios 2:5)

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. (Efésios 2:8)

Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos. (2 Timóteo 1:9)

Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também. (Atos 15:11)

Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens... (Tito 2:11).

Que ampla altercação entre a Bíblia e o Catolicismo! Embora a realização das obras de justiça deva ser praticada (pois somos salvos para isso - Efésios 2:10), não é por preservar a Quaresma que seremos bem vistos diante de Deus; mas, sim porque pela sua misericórdia - de antemão - nos amou e nos justificou em Cristo, concedendo-nos o perdão:

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade. (2 Tessalonicenses 2:13)

 “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou... (Romanos 9:23)

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Romanos 8:29)

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor... (Efésios 1:4)

Infelizmente, muitas pessoas de bom coração têm sido ludibriadas por anos. Famílias há gerações seguem tradicionalmente os costumes herdados pela cultura de nosso país. Adotam o que o clero romano vem lhes ensinando: que a igreja possui a doutrina correta, e por meio dela o fiel deve viver. Como vimos acima nessa pequena exposição, a Bíblia não coloca dessa forma, mas antes nos dá uma regra de vida cristã muito explícita; e, um único meio de termos nosso pecado expurgado:

“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado. (1 João 1:7)


Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

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