“Pois assim como por
uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também
por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação
de vida.” (Romanos 5:18)
Após o Carnaval, há um período que a Igreja
Católica Romana denomina de Quaresma. São quarenta dias que seguem da Quarta-Feira
de Cinzas, até a véspera da Páscoa. Após o segundo século, o jejum pré-pascal,
a princípio, era bem curto; mas, gradualmente, foi-se ampliando para incluir a Semana
Santa, e, então, a décima parte de um ano, e, finalmente, quarenta dias.
Esses quarenta dias foram estabelecidos devido ao período que o Senhor Jesus foi tentado no deserto por Satanás. Então, a igreja romana passou a associá-lo com o tempo de quaresma realizado pelo fiel católico. Como o profº Felipe Aquino explica:
“Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de
enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela
oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as
tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.” (http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/03/06/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma/)
A quaresma era também na antiguidade um período
de preparação para o batismo, durante a páscoa, e para a penitência pública por
parte dos candidatos ao batismo. Gradualmente, porém, foi envolvendo uma aplicação
universal, para todos os católicos romanos. Hoje essa pratica está intrinsecamente
ligada ao sacramento* da Penitência.
*Para entender sobre o que são os
Sacramentos e sua relação com a salvação do fiel, leia esse artigo: http://apologeticageral.blogspot.com.br/2015/11/os-sacramentos-e-salvacao.html
Como todo o sacramento - na visão
católico romana -, este também está ligado a obtenção da graça de Deus na
realização de alguma obra por parte dos fiéis. Vejamos o que o Catecismo da
Igreja Católica disserta sobre este sacramento:
“Aqueles que se aproximam do sacramento
da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao
mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual
colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.” (Catecismo da
Igreja Católica – Parágrafo 1422 - http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1420-1532_po.html)
Logo na primeira frase do parágrafo vemos
um erro drástico. Um discurso diametralmente oposto ao que ensina a Bíblia
sobre a misericórdia e o perdão divino. Notem essa passagem do catecismo: “Aqueles
que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o
perdão da ofensa feita a Deus...”. Há compatibilidade bíblica nesta
declaração, e o que nos expôs Paulo no verso que iniciei essa sessão? Paulo diz
que a ofensa de um homem colocou toda a humanidade em estado de pecado, e,
sujeito ao juízo de Deus. Ou seja, a condenação. Mas, por um ato de justiça de
um Único Homem, a saber o Senhor Jesus, a GRAÇA JUSTIFICADORA DE DEUS
nos alcançou.
Essa é a grande diferença entre
Catolicismo Romano e o Cristianismo Bíblico. A Teologia Reformada percebeu esse
grande erro durante o decorrer da história, e isso culminou na Reforma. O
Catolicismo Romano associa diretamente as OBRAS DE JUSTIÇA que devem ser
praticadas pelos católicos, como que práticas justificativas diante de Deus.
Agora notemos a continuação do parágrafo
catequético: “...e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram
pecando...” Outro equívoco grandessíssimo nesta passagem. De acordo com a
declaração, o pecador comete ofensa contra a igreja e precisa ser reconciliado
com esta. Pergunta: Onde está escrito isso na Bíblia? Aqui é pervertida toda a
definição de pecado ensinada na Escritura. Segundo a Bíblia, o pecado é a desconformidade
da lei moral de Deus em atitude de ação, e até mesmo de natureza. Isso porque
nós não somos pecadores por cometermos pecado; somos pecadores por sermos
naturalmente dispostos a isso. Conclui-se então que, não são apenas as ações
individuais, como mentir, roubar ou matar, mas também as atitudes que são
naturalmente contrárias à perfeição de Deus, ou seja, a disposição e inclinação
ao pecado:
“O Senhor viu que a
maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a intenção dos
pensamentos de seu coração era só má continuamente.” (Gênesis 6:5)
"Enganoso é o coração acima de todas as coisas,
e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9)
“De fato, tanto a mente como a consciência deles
estão corrompidas. Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam;
são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra.” (Tito
1:15-16)
“O coração dos homens, além do mais, está cheio
de maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos
mortos.” (Eclesiastes 9:3)
“Além do mais, visto que desprezaram o
conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para
praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça,
maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades,
engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus,
insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal;
desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família,
implacáveis.” (Romanos 1:28-31)
"Porque todo aquele que faz coisas ruins
odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.”
(João 3:20)
“A mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus.” (Romanos 8:7-8)
“Antes vocês estavam separados de Deus e, em
suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês.” (Colossenses
1:21)
Esses poucos versos expressam o que é o pecado, e
nossa condição diante de Deus. Em nenhum lugar na Bíblia é dito que a
humanidade pecou contra a igreja, e que precisa se reconciliar com a
instituição católica romana, ou quaisquer outras denominações. Esse pensamento
teológico é tão-somente para que, o fiel, torne-se dependente da instituição
para tudo. Até para ter seu pecado perdoado. O profº Felipe Aquino aponta que o
remédio contra o pecado é praticar a Quaresma com boas obras, assim o católico
está isento daquele. Veja:
“Esses quarenta dias, devem
ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola (“remédios contra o
pecado”). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os
Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce,
deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão,
etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as
fraquezas da carne.” (http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/03/06/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma/)
Porém, a Bíblia ensina um único meio de sermos
libertos dessa condição que leva todos a condenação. E, esse “remédio contra
o pecado”, como cita o professor católico, não é realizando esmolas,
jejuns, orações e nem meditando. A Bíblia apresenta esse ÚNICO medicamento:
“Nisto está o amor, não em que nós tenhamos
amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para
propiciação pelos nossos pecados.” (1
João 4:10)
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para
que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus
Cristo, o justo.” (1
João 2:1)
“E
bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há
pecado.” (1
João 3:5)
“Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados,
e nos purificar de toda a injustiça.” (1
João 1:9)
“E
ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas
também pelos de todo o mundo.” (1
João 2:2)
“Filhinhos,
escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados.” (1
João 2:12)
Somente
na primeira carta do Apóstolo João vimos todo o pensamento católico romano cair
por terra. O legalismo sempre acompanha a teologia e as doutrinas dessa instituição.
A graça de Deus pelo sacrifício de Seu Filho é posta lado a lado com as obras sacramentais
criadas por clérigos, doutores e professores católicos que querem laçar seus fiéis
por meio ordenanças. Vemos Pedro fulminar com essa concepção:
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou
ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição
recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de
Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido,
ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por
amor de vós.” (1 Pedro
1:18-20)
Esse
é o Evangelho pregado por Cristo e por seus Apóstolos; e, é isso que a Igreja
fiel ao seu Salvador deve pregar: Que o Seu sangue – não obras de justiça,
sacramentos, fidelidade a instituição --, purifica-nos de todo pecado. E isso o
Senhor testemunhou fidedignamente ser a obra de Deus:
“E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o
primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos
amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados...” (Apocalipse 1:5)
“Mas
agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo
chegastes perto.” (Efésios 2:13)
Ensinar que a igreja é “...a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.” É uma heresia legalista. A graça de Deus se desfaz. Mas, para o catolicismo romano isso não importa. Em seus compêndios, dogmas e concílios, não são cridos que, o homem, é salvo pela graça de Deus em Cristo. No concílio da Contrarreforma, Trento, isso é explicitamente declarado na Sessão VI:
Cânone IX: “Se alguém
disser, que o pecador se salva somente com a fé entendendo que não é requerida
qualquer outra coisa que coopere para conseguir a graça da salvação, e que de
nenhum modo é necessário que se prepare e previna com o impulso de sua vontade,
seja excomungado.” (http://www.montfort.org.br/old/documentos/trento.html#sessao6)
Nesta passagem é negada a salvação pela
fé dada como graça, como dom de Deus. Ou seja, O Senhor, por sua infinita
misericórdia, nos agraciou com a fé no seu Filho, e, por meio dessa fé (que é
uma dádiva divina) somos salvos. Parece redunde expressar-se dessa forma, mas é
assim que a Bíblia coloca as Doutrinas da Graça: REDUNDANTEMENTE PARA QUE NÃO
HAJA DÚVIDAS:
“Estando
nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela
graça sois salvos).” (Efésios 2:5)
“Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8)
“Que nos salvou, e
chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu
próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos
séculos.” (2
Timóteo 1:9)
“Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.” (Atos 15:11)
“Porque
a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens...” (Tito 2:11).
Que ampla
altercação entre a Bíblia e o Catolicismo! Embora a realização das obras de
justiça deva ser praticada (pois somos salvos para isso - Efésios 2:10), não é
por preservar a Quaresma que seremos bem vistos diante de Deus; mas, sim porque
pela sua misericórdia - de antemão - nos amou e nos justificou em Cristo,
concedendo-nos o perdão:
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos
amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação,
em santificação do Espírito, e fé da verdade.” (2
Tessalonicenses 2:13)
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29)
“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,
para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor...” (Efésios 1:4)
Infelizmente,
muitas pessoas de bom coração têm sido ludibriadas por anos. Famílias há
gerações seguem tradicionalmente os costumes herdados pela cultura de nosso
país. Adotam o que o clero romano vem lhes ensinando: que a igreja possui a
doutrina correta, e por meio dela o fiel deve viver. Como vimos acima nessa
pequena exposição, a Bíblia não coloca dessa forma, mas antes nos dá uma regra
de vida cristã muito explícita; e, um único meio de termos nosso pecado
expurgado:
“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica
de todo o pecado.” (1
João 1:7)
Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética
Aplicada)