quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

QUARESMA: PENITÊNCIA E A JUSTIFICAÇÃO (PARTE I)


Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” (Romanos 5:18)

Após o Carnaval, há um período que a Igreja Católica Romana denomina de Quaresma. São quarenta dias que seguem da Quarta-Feira de Cinzas, até a véspera da Páscoa. Após o segundo século, o jejum pré-pascal, a princípio, era bem curto; mas, gradualmente, foi-se ampliando para incluir a Semana Santa, e, então, a décima parte de um ano, e, finalmente, quarenta dias.

Esses quarenta dias foram estabelecidos devido ao período que o Senhor Jesus foi tentado no deserto por Satanás. Então, a igreja romana passou a associá-lo com o tempo de quaresma realizado pelo fiel católico. Como o profº Felipe Aquino explica:


Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.” (http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/03/06/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma/)

A quaresma era também na antiguidade um período de preparação para o batismo, durante a páscoa, e para a penitência pública por parte dos candidatos ao batismo. Gradualmente, porém, foi envolvendo uma aplicação universal, para todos os católicos romanos. Hoje essa pratica está intrinsecamente ligada ao sacramento* da Penitência.  

*Para entender sobre o que são os Sacramentos e sua relação com a salvação do fiel, leia esse artigo: http://apologeticageral.blogspot.com.br/2015/11/os-sacramentos-e-salvacao.html

Como todo o sacramento - na visão católico romana -, este também está ligado a obtenção da graça de Deus na realização de alguma obra por parte dos fiéis. Vejamos o que o Catecismo da Igreja Católica disserta sobre este sacramento:

Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.” (Catecismo da Igreja Católica – Parágrafo 1422 - http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1420-1532_po.html)

Logo na primeira frase do parágrafo vemos um erro drástico. Um discurso diametralmente oposto ao que ensina a Bíblia sobre a misericórdia e o perdão divino. Notem essa passagem do catecismo: “Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus...”. Há compatibilidade bíblica nesta declaração, e o que nos expôs Paulo no verso que iniciei essa sessão? Paulo diz que a ofensa de um homem colocou toda a humanidade em estado de pecado, e, sujeito ao juízo de Deus. Ou seja, a condenação. Mas, por um ato de justiça de um Único Homem, a saber o Senhor Jesus, a GRAÇA JUSTIFICADORA DE DEUS nos alcançou.

Essa é a grande diferença entre Catolicismo Romano e o Cristianismo Bíblico. A Teologia Reformada percebeu esse grande erro durante o decorrer da história, e isso culminou na Reforma. O Catolicismo Romano associa diretamente as OBRAS DE JUSTIÇA que devem ser praticadas pelos católicos, como que práticas justificativas diante de Deus.

Agora notemos a continuação do parágrafo catequético: “...e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando...” Outro equívoco grandessíssimo nesta passagem. De acordo com a declaração, o pecador comete ofensa contra a igreja e precisa ser reconciliado com esta. Pergunta: Onde está escrito isso na Bíblia? Aqui é pervertida toda a definição de pecado ensinada na Escritura. Segundo a Bíblia, o pecado é a desconformidade da lei moral de Deus em atitude de ação, e até mesmo de natureza. Isso porque nós não somos pecadores por cometermos pecado; somos pecadores por sermos naturalmente dispostos a isso. Conclui-se então que, não são apenas as ações individuais, como mentir, roubar ou matar, mas também as atitudes que são naturalmente contrárias à perfeição de Deus, ou seja, a disposição e inclinação ao pecado:

O Senhor viu que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a intenção dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.” (Gênesis 6:5)

"Enganoso é o coração acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9)

De fato, tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra.” (Tito 1:15-16)

O coração dos homens, além do mais, está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos mortos.” (Eclesiastes 9:3) 

Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis.” (Romanos 1:28-31)

"Porque todo aquele que faz coisas ruins odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” (João 3:20) 

A mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus.” (Romanos 8:7-8)   

Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês.” (Colossenses 1:21)  

Esses poucos versos expressam o que é o pecado, e nossa condição diante de Deus. Em nenhum lugar na Bíblia é dito que a humanidade pecou contra a igreja, e que precisa se reconciliar com a instituição católica romana, ou quaisquer outras denominações. Esse pensamento teológico é tão-somente para que, o fiel, torne-se dependente da instituição para tudo. Até para ter seu pecado perdoado. O profº Felipe Aquino aponta que o remédio contra o pecado é praticar a Quaresma com boas obras, assim o católico está isento daquele. Veja:

Esses quarenta dias, devem ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola (“remédios contra o pecado”). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão, etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.(http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/03/06/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma/)

Porém, a Bíblia ensina um único meio de sermos libertos dessa condição que leva todos a condenação. E, esse “remédio contra o pecado”, como cita o professor católico, não é realizando esmolas, jejuns, orações e nem meditando. A Bíblia apresenta esse ÚNICO medicamento:

Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. (1 João 4:10)

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. (1 João 2:1)

E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. (1 João 3:5)

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. (1 João 1:9)

E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (1 João 2:2)

Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados. (1 João 2:12)

Somente na primeira carta do Apóstolo João vimos todo o pensamento católico romano cair por terra. O legalismo sempre acompanha a teologia e as doutrinas dessa instituição. A graça de Deus pelo sacrifício de Seu Filho é posta lado a lado com as obras sacramentais criadas por clérigos, doutores e professores católicos que querem laçar seus fiéis por meio ordenanças. Vemos Pedro fulminar com essa concepção:

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós.(1 Pedro 1:18-20)

Esse é o Evangelho pregado por Cristo e por seus Apóstolos; e, é isso que a Igreja fiel ao seu Salvador deve pregar: Que o Seu sangue – não obras de justiça, sacramentos, fidelidade a instituição --, purifica-nos de todo pecado. E isso o Senhor testemunhou fidedignamente ser a obra de Deus:

E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados...” (Apocalipse 1:5)

Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.”  (Efésios 2:13)

Ensinar que a igreja é “...a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.” É uma heresia legalista. A graça de Deus se desfaz. Mas, para o catolicismo romano isso não importa. Em seus compêndios, dogmas e concílios, não são cridos que, o homem, é salvo pela graça de Deus em Cristo. No concílio da Contrarreforma, Trento, isso é explicitamente declarado na Sessão VI:

Cânone IX: “Se alguém disser, que o pecador se salva somente com a fé entendendo que não é requerida qualquer outra coisa que coopere para conseguir a graça da salvação, e que de nenhum modo é necessário que se prepare e previna com o impulso de sua vontade, seja excomungado.” (http://www.montfort.org.br/old/documentos/trento.html#sessao6)

Nesta passagem é negada a salvação pela fé dada como graça, como dom de Deus. Ou seja, O Senhor, por sua infinita misericórdia, nos agraciou com a fé no seu Filho, e, por meio dessa fé (que é uma dádiva divina) somos salvos. Parece redunde expressar-se dessa forma, mas é assim que a Bíblia coloca as Doutrinas da Graça: REDUNDANTEMENTE PARA QUE NÃO HAJA DÚVIDAS:

Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos).” (Efésios 2:5)

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. (Efésios 2:8)

Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos. (2 Timóteo 1:9)

Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também. (Atos 15:11)

Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens... (Tito 2:11).

Que ampla altercação entre a Bíblia e o Catolicismo! Embora a realização das obras de justiça deva ser praticada (pois somos salvos para isso - Efésios 2:10), não é por preservar a Quaresma que seremos bem vistos diante de Deus; mas, sim porque pela sua misericórdia - de antemão - nos amou e nos justificou em Cristo, concedendo-nos o perdão:

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade. (2 Tessalonicenses 2:13)

 “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou... (Romanos 9:23)

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Romanos 8:29)

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor... (Efésios 1:4)

Infelizmente, muitas pessoas de bom coração têm sido ludibriadas por anos. Famílias há gerações seguem tradicionalmente os costumes herdados pela cultura de nosso país. Adotam o que o clero romano vem lhes ensinando: que a igreja possui a doutrina correta, e por meio dela o fiel deve viver. Como vimos acima nessa pequena exposição, a Bíblia não coloca dessa forma, mas antes nos dá uma regra de vida cristã muito explícita; e, um único meio de termos nosso pecado expurgado:

“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado. (1 João 1:7)


Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O QUE É IDOLATRIA?


Então os vossos sobreviventes no meio das nações por onde tiverem sido levados cativos — quando eu tiver quebrado o seu coração prostituído que me abandonara, e os seus olhos prostituídos com ídolos imundos — se lembrarão de mim. Sentirão asco de si mesmos pelo mal que fizeram, por todas as suas abominações.(Ezequiel 6:9 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Nesta passagem do profeta Ezequiel temos uma clara descrição do que é a idolatria. O texto nos mostra que “idolatrar” é inicialmente uma inclinação do coração – o qual expressa-se no termo “coração prostituído”. Daqui surge a disposição para feitura de imagens, que é tão-somente uma representação externa que o religioso possui no íntimo do seu ser. Daí o Senhor Jesus fazer a comparação dos “dois senhores” no Evangelho:

“Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” (Mateus 6:24 – Bíblia de Jerusalém)

Ninguém cultua diretamente o dinheiro, não ora para ele, nem lhe ergue altares ou templos; porém, o simples lugar que esse ocupa na mente e no coração do devoto, atribuindo-lhe segurança, estabilidade e satisfação já o faz pecar diante de Deus, tornando-o idólatra. Assim é o que ocorre no procedimento de culto do fiel católico com seus santos, anjos e a virgem Maria. Mesmo que imagens, altares e templos sejam tão-somente representações dos tais, a idolatria está disposta no interior do beato.

Segundo a Enciclopédia Católica Popular, idolatria é: É o culto (somente devido ao Deus único e verdadeiro) prestado a forças da natureza (astros, árvores, animais, fogo…) ou a ídolos fabricados pelo homem, tidos como divindades ou sua representação (politeísmo pagão). São práticas idolátricas o satanismo, a magia, a feitiçaria, a superstição. Tem também o seu quê de idolátrico o culto exagerado do dinheiro, do poder, do prazer, da raça, do Estado… Todas as formas de idolatria. Constituem pecados contra a virtude da religião, e vão contra o 1.º Mandamento da Lei de Deus.” (http://www.ecclesia.pt/catolicopedia - Verbete: Idolatria)

Já a grande Enciclopédia Católica se refere de forma mais enfática: “Etimologicamente Idolatria indica o culto Divino dado a uma imagem, mas a sua significação foi estendida para todo culto Divino dado a qualquer pessoa ou qualquer coisa...” São Tomas (Summa Theol., II-II, q. xciv) trata isso como uma espécie do gênero de superstição , que é um vício oposto à virtude da religião e consiste em dar honra Divina ( culto ) para coisas que não são Deus , ou para Deus a Si mesmo por caminho errado. A impressão específica de idolatria é a sua oposição direta ao objeto primário do Divino culto; ela confere a uma criatura a reverência devida somente a Deus.” (http://www.newadvent.org/cathen/07636a.htm - Verbete: Idolatry)

Vemos que a Bíblia vai muito mais além da declaração do Catolicismo Romano, que expressa tão-somente a inclinação exterior. Como ressaltei expondo Ezequiel, idolatria é uma tendência interna. Por isso o próprio Deus torna a declarar ao profeta:

“Quanto àqueles cujo coração se entrega a um culto detestável e a abominações, farei cair sobre as suas cabeças o seu pecado, oráculo do Senhor Iahweh. “ (Ezequiel 11:21 – Bíblia de Jerusalém).

É DO CORAÇÃO QUE BROTA OS MAUS DESÍGNIOS, AFIRMA O SENHOR:

“Com efeito, é de dentro, do coração dos homens que saem as intenções malignas: prostituições, roubos, assassinos, adultérios, ambições desmedida, maldades, malícia, devassidão, inveja, difamação, arrogância, insensatez. Todas essas coisas más saem de dentro do homem e o torna impuro” (Marcos 7:21-23 – Bíblia de Jerusalém)

Quero ressaltar que, a feitura de imagens, mesmo que representem o Deus verdadeiro é idolatria. Por isso o próprio Senhor exclamou:

“Ficai muito atentos a vós mesmos! Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que Iahweh vos falou no Horeb, do meio do fogo...” (Deuteronômio 4:15 – Bíblia de Jerusalém)

Essa passagem extingue qualquer tipo de pensamento e filosofias que ensinam ser imagens somente representações do que é cultuado. Se Deus vetou imagens dele, quem dirá de suas criaturas – tal como apresentei acima. O culto religioso correto é o que a Bíblia nos apresenta do início ao fim, como o Senhor Jesus confirmou:

“Replicou-lhe Jesus: "Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto". (Lucas 4:8 – Bíblia de Jerusalém)

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

DEVEMOS ORAR, CULTUAR, VENERAR E BUSCAR APARIÇÕES DE ANJOS?



"Outro Anjo veio postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe uma grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do Anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus." (Apocalipse 6:3-4 - Bíblia de Jerusalém)

Este texto Bíblico de Apocalipse é um dos textos mais difíceis do livro Bíblico. E nele muitas seitas e movimentos contraditórios sustentam o culto, veneração e busca por aparições sobrenaturais. Como é de praxe dos muitos movimentos que sustentam doutrinas heterodoxas, a "eisegese", ou seja, dar ao texto Bíblico um ensino já imposto pela religião, criando assim um grande problema em tomar dogmas de fé, e de sustentá-los mesmo que contrariem outros muitos textos Bíblicos. 

Isso é típico de uma hermenêutica inclusiva, ou seja, o intérprete já chega ao texto Bíblico com o conceito que recebeu - seja ele certo ou não - e certamente não extrairá o ensino Bíblico adequado.

Vamos a Bíblia. O que está acontecendo no céu é uma representação dos procedimentos da Antiga Aliança, onde os anjos  tem a mesma função dos sacerdotes no Antigo Testamento (Cuidam do Templo, sacrificam, acendem incenso, cantam, etc)

Antes de as sete trombetas soarem, João teve uma visão de um episódio breve, com um significado claro mas com detalhes difíceis. A visão do anjo que oferece incenso no altar concorda com a verdades simples, já expressa na oração das almas dos mártires sob o altar em Apocalipse 6:9-11. Que verdades? Que o julgamento de Deus cairá sobre o mundo em resposta a oração dos santos. João viu este "anjo". Muitos comentadores têm a impressão de que este anjo deve ser o próprio Cristo, porque a Bíblia não ensina nada sobre o papel mediador dos anjos nas orações do povo de Deus. Em Daniel 9:20 e 10:10, o anjo Gabriel é "mediador", no sentido de anunciador, trazendo a Daniel a resposta à sua oração. 

Hebreus 1:14 nos fala que os anjos, estão à disposição dos santos para algum serviço. Não é MEDIAÇÃO, porque os santos são sacerdotes diante de Deus (Hebreus 1:6; 5:10), ou seja, eles têm acesso direto a Deus. Mas de alguma maneira que nós não conhecemos.

Porém isso não nos dá a entender que devemos cultuá-los; que devemos tê-los como mediadores, pois contraditaria versos Bíblicos que ensina a mediação ÚNICA e Universal de Cristo de forma latente:

"Agora, porém, Cristo possui um ministério superior. Pois é ele o mediador; de uma aliança bem melhor, cuja constituição se baseia em melhores promessas." (Hebreus 8:6 - Bíblia de Jerusalém)

"Eis por que ele é mediador de uma nova aliança. A sua morte aconteceu para o resgate das transgressões cometidas no regime da primeira aliança" (Hebreus 9:15 - Bíblia de Jerusalém)

"Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e de milhões de anjos reunidos em festa, e da assembleia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, MEDIADOR de uma nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloquente que o de Abel." (Hebreus 12:22-24 - Bíblia de Jerusalém)

O "culto aos anjos” era uma das doutrinas heréticas ensinadas na Igreja de Colossos:

"Ninguém vos prive do prêmio, com engodo de humildade, de culto dos anjos, indagando de coisas que viu, inchado de vão orgulho em sua mente carnal, ignorando a Cabeça, pela qual todo o Corpo, alimentado e coeso pelas juntas e ligamentos, realiza o seu crescimento em Deus." (Colossenses 2:18 - Bíblia de Jerusalém)

 Ainda no próprio livro de Apocalipse um anjo adverte João para que ele não o adore, cultue ou venere: 

Caí então a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: "Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos que têm o testemunho de Jesus. É a Deus que deves adorar!" Com efeito, o espírito da profecia é o testemunho de Jesus.” (Apocalipse 19:10 - Bíblia de jerusalém).

A Bíblia nos exorta constantemente que devemos orar somente a Deus, o único que é Onipotente e, assim, capaz de responder à oração; o único que é Onisciente e, portanto, capaz de ouvir as orações de todo o seu povo de uma só vez. 

Paulo nos adverte contra o pensamento de que outro “mediador” possa estar entre nós e Deus:

"Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus." (1 Timóteo 2:5 - Bíblia de Jerusalém)”

Quando esse procedimento (de oração aos anjos e santos) é posto em prática, estamos implicitamente atribuindo-lhes posição igual à de Deus, pois a Onisciência é um atributo divino incomunicável, ou seja, as CRIATURAS não possuem! 

Não há exemplo na Escritura de alguém orando a um anjo específico ou pedindo ajuda a anjos. Até mesmo a busca por aparições de anjos ou santos não é vista na Bíblia. Os anjos se manifestam a nós de forma que não os vemos. Buscar tais aparições parece indicar curiosidade doentia ou o desejo por uma espécie de evento espetacular em vez do amor a Deus e a devoção a ele e à sua obra.

Mesmo que os anjos tenham realmente aparecido em várias ocasiões na Escritura, com toda a certeza as pessoas a quem eles apareceram nunca procuraram essas aparições. Nosso papel é antes orar a Deus na mediação do Senhor Jesus, que é o próprio comandante das forças angelicais. Contudo, não parece errado pedir a Deus para cumprir a promessa de enviar anjos para proteger-nos, que está em sua Palavra:

"pois em teu favor ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos." (Salmos 91(92):11 - Bíblia de Jerusalém) 

Porquanto, atentando sempre que, é Jesus Cristo o mediador da Aliança ao qual pertencemos. E, é  Ele (Deus Todo-Poderoso) portanto portador do atributo de Onisciência, capaz de ouvir-nos, e interceder por nós como Sumo-Sacerdote, consumador do Excelente Sacrifício:

"Por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive para sempre para interceder por eles." (Hebreus 7:25 - Bíblia de Jerusalém) 

Rômulo Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)