sábado, 16 de janeiro de 2016

A HISTÓRIA AFIRMADA PELA TRADIÇÃO É CORRETA (PEDRO ESTEVE EM ROMA)


Pode-se afirmar seguramente, analisando a Bíblia e a História, que Pedro jamais esteve em Roma (Ao menos no tempo assegurado pela Igreja Católica). A doutrina da tradição católica é que Pedro foi bispo em Antioquia por sete anos, alcançando depois disso o bispado de Roma, onde esteve por vinte e cinco anos, padecendo o martírio no mesmo dia em que Paulo o sofrera, no ano 67 da Era Cristã.

Conforme essa hipótese, Pedro foi o primeiro papa desde o ano 42,(http://sacraeclesia.blogspot.com.br/p/igreja.html [L' Osservatore Romano , Ano LXIII , número 12]) até a sua morte em 67 — portanto, durante 25 anos. Mas a conversão de Paulo aconteceu no ano 35, e ele mesmo diz ter estado 14 anos depois em Jerusalém, onde se encontrou com Pedro:

Catorze anos mais tarde, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também Tito comigo. (...) “Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a graça que me foi dada, deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo:” (Gálatas 2:1,9 – Versão católica: Bíblia Ave Maria).

Jerusalém seria então a sede do papado, e não Roma, e quando Paulo regressou a Jerusalém, foi para dizer que tinha a responsabilidade de evangelização dos gentios:

Ao contrário, viram que a evangelização dos incircuncisos me era confiada, como a dos circuncisos a Pedro (porque aquele cuja ação fez de Pedro o apóstolo dos circuncisos, fez também de mim o dos pagãos).” (Gálatas 2:7-8 – Versão católica: Bíblia Ave Maria). 

Outro fato: Paulo escreveu a Epístola aos Romanos em 57/58, conforme mencionado na explicação de introdução a essa carta na Bíblia Católica, sobre o imprimatur de Dom Lucas Cardeal Moreira Neves, Arcebispo de Salvador BA, Primaz do Brasil, o então presidente da CNBB – 50ª Edição que versa:

Durante a terceira viagem (57/58), enquanto se achava em Corinto, julgou ter chegado o momento de executar o ambicioso projeto. Havia concluído a tarefa de pregar o Evangelho aos pagãos do Oriente (Rm 15:19). Após levar os resultados da coleta organizada na Macedônia e na Acaia aos pobres de Jerusalém, iria a Roma e depois a Espanha (15:15-29). Por isso escreve a epístola aos Romanos a fim de prepará-los para sua visita.”

Pelos cálculos católicos, Pedro seria papa em Roma havia 15 anos (no caso da carta ser escrita em 58: 16 anos). No fim da epístola, Paulo menciona o nome de 26 pessoas suas conhecidas, com ele relacionadas, e não faz nenhuma referência a Pedro. No ano 60 (dois ou três anos mais tarde) Paulo chega preso a Roma e muitos irmãos vão recebê-lo, mas ainda não se menciona o nome de Pedro, que, "sendo papa", deveria ser conhecido pelos cristãos que lá estavam: 

Ao termo de três meses, embarcamos num navio de Alexandria, que havia passado o inverno na ilha. Este navio levava por insígnias os Dióscuros. Fizemos escala em Siracusa, onde ficamos três dias. De lá, seguindo a costa, atingimos Régio. No dia seguinte, soprava o vento sul e chegamos em dois dias a Pozzuoli. Ali encontramos irmãos que nos rogaram que ficássemos na sua companhia sete dias. Em seguida, nos dirigimos a Roma. Os irmãos de Roma foram informados de nossa chegada e vieram ao nosso encontro até o Foro de Ápio e as Três Tavernas. Ao vê-los, Paulo deu graças a Deus e se sentiu animado. Chegados que fomos a Roma, foi concedida licença a Paulo para que ficasse em casa própria com um soldado que o guardava. Três dias depois, Paulo convocou os judeus mais notáveis. Estando reunidos, disse-lhes: Irmãos, sem cometer nada contra o povo nem contra os costumes de nossos pais, fui preso em Jerusalém e entregue nas mãos dos romanos." (Atos 28:11-17 – Versão Católica: Bíblia Ave Maria). 

Paulo alugara uma casa em Roma e não procurara Pedro, "o suposto primeiro papa". É porque Pedro não estava lá. A Bíblia diz que Paulo estivera ali por dois anos: 

Paulo permaneceu por dois anos inteiros no aposento alugado, e recebia a todos os que vinham procurá-lo.” (Atos 28:30 – Versão Católica – Bíblia Ave Maria).

Nesse período, escreve várias cartas aos crentes, nas quais envia saudações de muitos irmãos sem jamais citar o nome de Pedro, ou do bispo que existisse em Roma. Quando escreveu aos Colossenses, citou o nome de diversos irmãos e acrescentou: 

Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé, a respeito do qual já recebestes instruções. (Se este for ter convosco, acolhei-o bem) Também Jesus, chamado o Justo, vos saúda. São os únicos da circuncisão que trabalham comigo no Reino de Deus. Eles se têm tornado a minha consolação." (Colossenses 4: 10-11), 

O que é isso? Vejam que Paulo não mencionou Pedro. Uma figura "importante" como o “Papa” jamais seria esquecida pelo apóstolo. E, ainda acrescentou que os únicos de origem judia em sua presença eram Aristarco, Marcos, primo de Barnabé, e Jesus, chamado justo. Algum tempo depois, Paulo foi julgado por Nero e posto em liberdade. Mais tarde escreveu: 

Em minha primeira defesa não houve quem me assistisse; todos me desampararam! (Que isto não seja imputado)." (2 Timóteo 4:16 – Versão católica: Bíblia Ave Maria). 

Mas Pedro amava a Paulo com amor cristão, reconhecia-o como um doutrinador da igreja e expressava isso abertamente. Pedro confessa em 2 Pedro 3:15: “Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é salutar, como também vosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo o dom de sabedoria que lhe foi dado.” 

Por que Pedro haveria de se omitir? Pelos motivos lógicos, verdadeiros e aqui demonstrados: Pedro jamais estivera em Roma. Notemos mais um fato. A segunda Epístola a Timóteo foi escrita por Paulo, em Roma, no ano 64, próximo de sua morte:

“Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima.” (2 Timóteo 4:6 – Versão Católica: Bíblia Ave Maria)

E nessa epístola ele envia saudações de muitos companheiros seus em Roma: 

Apressa-te a vir antes do inverno. Saúdam-te Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos.” (2 Timóteo 4:21), depois de ter mencionado, no versículo 11: " Só Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, porque me é bem útil para o ministério". Ele faz mais saudações finais e ainda dessa vez não cita o nome de Pedro. Definitivamente, Pedro nunca esteve em Roma como ensina o Catolicismo.

ONDE ESTAVA PEDRO?

Tracemos um pequeno paralelo dos locais onde o Apóstolo estava. Em 45 d.C.,  encontramos Pedro sendo posto na prisão, em Jerusalém: 

E, vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender também a Pedro. Era nos dias dos Pães sem fermento. Tendo-o, pois, feito deter, lançou-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, tencionando apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. Mas, enquanto Pedro estava sendo mantido na prisão, fazia-se incessantemente oração a Deus, por parte da Igreja, em favor dele.”  (Atos 12:3-5 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém).

Em 49 d.C., ele ainda permanece em Jerusalém, participando do Concílio de Jerusalém, onde faz um discurso, porém o concílio é presidido por Tiago, irmão do Senhor, o qual dá o parecer final. Este parecer é narrado em Atos 15:13-21.

Aqui segue o discurso de Pedro no Concílio de Jerusalém:

Então, alguns dos que tinham sido da seita dos fariseus, mas haviam abraçado a fé, intervieram: diziam que era preciso circuncidar os gentios e prescrever-lhes que observassem a Lei de Moisés. Reuniram-se então os apóstolos e os anciãos para examinarem o problema. Tornando-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: "Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros dias, aprouve a Deus, entre vós, que por minha boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé. Ora, o conhecedor dos corações, que é Deus, deu testemunho em favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo assim como a nós. Não fez distinção alguma entre nós e eles, purificando seus corações pela fé. Agora, pois, por que tentais a Deus, impondo ao pescoço dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem mesmo nós pudemos suportar? Ao contrário, é pela graça do Senhor Jesus que nós cremos ser salvos, da mesma forma que eles". Então, toda a assembléia silenciou. E passaram a ouvir Barnabé e Paulo narrando quantos sinais e prodígios Deus operara entre os gentios por meio deles." (Atos 15:5-12 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

Em 51 d.C., ele esteve em  Antioquia da Síria, onde teve um desentendimento com Paulo, por ter se recusado a comer com os gentios (não judeus):

Mas quando Cefas veio a Antioquia, eu o enfrentei abertamente, porque ele se tinha tornado digno de censura." (Gálatas 2:11 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém) 

Seria muito estranho o Bispo de Roma não querer ter coisa alguma a ver com os gentios. É o mesmo que o senhor Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco,  chegar ao Brasil, e ficar sempre com os judeus e desprezar os católicos.

Mais tarde, em cerca de 66 d.C, encontramos onde Pedro estava: na Babilônia, entre os judeus: “A que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho...” (1 Pedro 5:13 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

É fato de que Pedro era o apóstolo aos circuncisos (isto é, apóstolo para os judeus). Então por que estaria ele na Babilônia da Mesopotâmia? É certo que babilônia era uma cidade ativa no século 1º e 2º d.C. Isto é comprovado por textos babilônicos datados do ano 100 da era Cristã, e pela presença de judeus devotos que residiam lá, e compareceram a Jerusalém no dia do Pentecostes:

Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos vindos de todas as nações que há debaixo do céu. Com o ruído que se produziu a multidão acorreu e ficou perplexa, pois cada qual os ouvia falar em seu próprio idioma. Estupefatos e surpresos, diziam: "Não são, acaso, galileus todos esses que estão falando? Como é, pois, que os ouvimos falar, cada um de nós, no próprio idioma em que nascemos? Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frigia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia próximas de Cirene; romanos que aqui residem; tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, nós os ouvimos apregoar em nossas próprias línguas as maravilhas de Deus!"  (Atos 2:5-11 – Versão Católica: A Bíblia de Jerusalém)

A Dispersão dos judeus da Babilônia durou pouco, e foi apenas uma das muitas perseguições que os judeus sofreram como Flávio Josefo nos mostra. (História dos Hebreus – Antiguidades Judaicas - Livro Décimo Oitavo, Capítulos 6-12) 

A história mostra que havia muitos judeus nas áreas da Mesopotâmia no tempo de Cristo do mesmo modo como havia na Palestina. Babilônia existia como uma pequena cidade as margens do rio Eufrates no século 1º. Não é de admirar, portanto, que Pedro ali estivesse. Lembrando que Babilônia só é descrita figuradamente depois da compilação do livro de Apocalipse entre os anos 90 da era Cristã. 1ª Pedro, porém foi compilada em 65/66. 

No tempo em que os padres católicos ensinam aos seus fieis que Pedro estava em Roma, a Bíblia mostra claramente, que ele estava em um lugar diferente. A evidência é abundante e conclusiva. Quando alguém presta atenção à exata Palavra de Deus, não necessita ser ludibriado. Pedro nunca foi o Bispo de Roma.

O desespero provocado pela carência de argumentos em que se possa basear a suposta estada de Pedro em Roma é tão grande que o Papa Pio XII, em 1939, resolveu mandar proceder a escavações no subsolo da Basílica de S. Pedro no intuito de encontrar a sepultura e os ossos do Apóstolo-pescador. Vedou aos arqueólogos estranhos aos trabalhos a aproximação do local. E na sua mensagem de natal do ano de 1950, afirmou categoricamente que havia sido descoberto o "túmulo do príncipe dos Apóstolos". Deu-se tão mal, porém: o novo embuste não "colou". O próprio E. Kirschbaum, um dos dirigentes dessa escavação arqueológica, contestou o papa desesperado. Pio XII, contraditado por muitos outros arqueólogos de fama internacional, inclusive o teólogo católico A. M. Schneider, nunca mais falou sobre o assunto, que ficou encerrado como os trabalhos daquelas escavações.” (Anibal Pereira Reis:. O papa escravizará os cristãos? São Paulo: Caminho de Damasco, 1967. p. 76.)

Rômulo de Lima
(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A NATUREZA HUMANA: CORPO, ALMA/ESPÍRITO OU SOMENTE UMA ALMA?


E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” (Gênesis 2:7 – Versão: Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Está se tornando muito comum algumas posições pessoais no meio evangélico sobre o que é o homem: sua composição, origem e destino. E, muitos ditos “cristãos” estão deixando a posição ortodoxa que os Credos de suas denominações apregoam, e, abraçando fielmente doutrinas heterodoxas. Estão baseados em uma hermenêutica inclusiva, tendo ensinamentos e escritos de seitas, juntamente com suas opiniões particulares e interpretando com isso a Bíblia.

Estão principalmente subordinando o Novo Testamento a textos veterotestamentários que não lançam uma luz geral na antropologia - que a Escritura dentro de um todo demonstra. Antes de abordarem o texto Bíblico com as lentes neotestamentárias, estes usam costumes culturais; posições histórico-filosóficas; e, a alegação de que seitas possuem um ponto comum com o cristianismo bíblico, para com isso defender o sono da alma, o aniquilacionismo e o chamado monismo.  

Queria tomar o texto da criação do homem como um primeiro exemplo. A interpretação natural (mais simples) dele nos mostra que, Deus, ao criar o ser humano do pó da terra (parte material) soprou nele o “fôlego da vida”, então aquele passou a ser uma “alma vivente”. Essa linguagem quer dizer que o homem passou a ser um ser vivo. Ele agora é formado de uma parte material, e outra imaterial. Esse é o estado natural do seres humanos: uma unidade constituída de corpo e alma/espírito.

A Teologia Reformada entende que, o ser humano, é um ser dicotômico. Um ser formado de uma parte material e outra imaterial (embora estas fossem criadas por Deus para serem naturalmente unidades num estado perfeito). Isso fica explícito em muitos textos Bíblicos, e se sistematizarmos esse ensinamento, veremos o quão é inconcebível o monismo (ponto de vista que homem é apenas um elemento, e que seu corpo é a pessoa, ou seja, o homem é uma alma), que leva imediatamente ao sono da alma (ponto de vista que apregoa que, o homem, ao morrer entra num estado de sono geral); e o aniquilacionismo (a consequência final do homem depois do juízo, pois a alma não é uma entidade imortal).

Sempre é profícuo frisar que, desde o início, a ênfase da Bíblia está na unidade geral. Do homem criado por Deus naturalmente completo. Quando Deus formou o homem "soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem foi feito alma vivente" (Gênesis 2:7b). Nesta ocasião encontramos Adão como uma pessoa unificada de corpo e alma vivendo e trabalhando juntos. Este estado harmonioso e unificado original do homem ocorrerá quando Cristo voltar e resgatar integralmente nossos corpos e nossas almas para viver com ele para sempre:

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória.” (1 Coríntios 15:51-54)

Analisaremos agora como a Bíblia usa os termos “alma” e “espírito” de maneira alternada, muitas vezes não fazendo distinção destes. Percebemos facilmente que a posição monista (e consecutivamente o sono da alma e o aniquilacionismo) usa as palavras “alma” e “espírito” de maneira arbitrária, aplicando o significado que lhe apraz.

Ao pesquisamos a aplicação dos vocábulos traduzidos por "alma" (Hebraico: nefesh e Grego: Psique) e "espírito" (Hebraico: Ruach e Grego: Pneuma) perceberemos muitas vezes a indistinção dos mesmos. Um exemplo disso é observado facilmente nesses textos:

Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora.” (João 12:27)

Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair.” (João 13:21)

Vemos nos dois contextos que, Jesus, expressa-se indistintamente em sua agonia usando a palavra “alma” e “espírito” como sinônimos. A tradução da Sociedade Bíblica Britânica, ainda se assemelha mais a Almeida quando expressa em João:

Dito isto, perturbou-se Jesus em espírito...” (João 13:21a)

Semelhantemente, Vemos Maria, a mãe do Salvador, expressar-se da seguinte forma:

Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador.” (Lucas 1:46-47)

É latente um estilo de paralelismo hebraico muito típico da poesia nessa cultura. Esse cântico repete a mesma ideia em ambos os versos, ou seja, Maria glorifica e se alegra no Senhor na sua “alma” e no seu “espírito” usando os dois termos como sede de emoções. A aplicação equivalente dos termos esclarece por que as pessoas que morreram e foram  para o céu ou o inferno são chamadas de “espíritos”:

À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.” (Hebreus 12:23)

No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão...” (1 Pedro 3:19)

E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram.” (Apocalipse 6:9)

E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.” (Apocalipse 20:4)

É interessante dissertarmos exegeticamente sobre esse verso de Apocalipse 20:4, pois há algumas traduções (como a Nova Versão Internacional) que grafam: “Eles ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos.” Com isso os defensores do monismo, alegam que, os crentes de Apocalipse 6:9 não viviam no céu num estado intermediário, mas foram ressuscitados, por isso estavam lá.

A palavra grega traduzida por “ressuscitaram” é ἔζησαν (ezesan) e significa VIVER, VIVERAM, VIVEM, etc. Essa mesma palavra está no verso 5:

"O restante dos mortos não voltou a VIVER (ἔζησαν - ezesan) até se completarem os mil anos.) Esta é a primeira ressurreição." (Apocalipse 20:5)

Essa palavra possui várias variantes, porém todas elas significam VIVER, VIDA, VIVERAM. etc., exemplos:
 
"Eles me conhecem há muito tempo e podem testemunhar, se quiserem, que, como fariseu, VIVI (ἔζησα - ezesa) de acordo com a seita mais severa da nossa religião." (Atos 26:5)

Em Lucas há outra variante: "Mas nós tínhamos que comemorar e alegrar-nos, porque este seu irmão estava morto e voltou à VIDA (ἔζησεν - ezesén), estava perdido e foi achado.” (Lucas 15:32)

Traduzir Apocalipse 20:4 por “ressuscitar”, “ressuscitou”, “ressurreição”, etc., e, amparar a doutrina monista nessa variante de tradução é um erro. Por isso um teólogo deve conhecer o idioma original, e distinguir os termos no grego e suas aplicações. Embora o texto dê a entender que essas pessoas ressuscitaram, João, as viu num estado intermediário. O autor inspirado expressa-se: “vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus...” (Apocalipse 6:9). Estes crentes estavam no céu! O contexto do verso onze diz:

E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” (Apocalipse 6:11)

Examinando esses textos dentro do assunto tratado, fica nítido que, as almas estão na glória. Os fiéis recebem vestes brancas, representando retidão, santidade e alegria. Estar no céu é bem-aventurança. É glorificação. Não plena ainda porque não houve a ressurreição, mas incomparavelmente melhor do que estar no corpo:

Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. (Filipenses 1:23)

Estes crentes estão em um estado intermediário de descansando, não dormindo. Esperam até chegar o dia em que se completará o número dos mártires. Os cristãos estão no céu repousando de seus esfalfamentos terrenos. Lá não tem mais dor, nem pranto nem luto. O dia está determinado. O número está determinado. Até que esse número não tenha sido completado na terra, o dia do juízo não pode chegar.

Com isso chegamos a plena conclusão que, “as almas debaixo do altar” eram cristãos em seu estado intermediário, pois, em suas peregrinações terrenas “foram mortos por amor da palavra de Deus”, e, repousam ainda um pouco de tempo.” Aguardando a ressurreição.

A PALAVRA GREGA PARA RESSUSCITAR

Como eu disse acima, embora o texto de Apocalipse 20:4 possa dar a entender uma ressurreição, ela se passa num período posterior ao que João viu as “as almas debaixo do altar” (Apocalipse 6:9). Amparar-se nessa lacuna temporal para defender o monismo e seus derivados é andar na contramão do Evangelho.

Porém, se tomarmos o significado da palavra em seu original, perceberemos que no mesmo contexto de Apocalipse, a palavra grega para “ressuscitar” (ἀναστάσει - anastásei) e suas variantes, surge logo a frente:

"Felizes e santos os que participam da primeira RESSURREIÇÃO (ἀναστάσει - anastásei)! A segunda morte não tem poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante mil anos." (Apocalipse 20:6)

"Pois bem, na RESSURREIÇÃO (ἀναστάσει - anastásei), de qual dos sete ela será esposa, visto que todos foram casados com ela? " (Mateus 22:28)


Só em João 11:24 temos duas ocorrências: "Marta respondeu: "Eu sei que ele vai RESSUSCITAR (ἀναστήσεται - anastésetai) na RESSURREIÇÃO (ἀναστάσει - anastásei), no último dia." (João 11:24)

Isso nos mostra que, muitas das vezes, nós devemos verificar o ORIGINAL e sua aplicação examinando os contextos. Não é usar a tradução sem saber se o termo está bem traduzido ou não, e com isso criar uma doutrina.

A BÍBLIA DEMONSTRA QUE TANTO A ALMA E O ESPÍRITO SAEM DO CORPO

Um caso clássico desse fato está narrado na morte da matriarca Raquel. Quando esta faleceu, é dito na Bíblia:

E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim (Gênesis 35:18)

O que o texto está nos mostrando naturalmente aqui? Que ao expirar-se a vida física da matriarca, a alma (parte imaterial), saiu do corpo de Raquel. O texto não diz o lugar para onde a alma se dirigiu; porém, é claro que a alma saiu, foi para fora do corpo. Fazendo o caminho inverso, vemos Elias orando para que a alma torne ao corpo em um dos seus milagres:

Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. (1 Reis 17:21)

Vemos literalmente o profeta fazendo uma distinção entre o corpo e a alma. O corpo do menino estava ali em sua frente, deitado, morto. Mas, sua alma estava em outro lugar, então, Elias clama ao Senhor Deus para que a parte imaterial da criança una-se novamente ao material.

Embora sejam textos que não tem uma luz total sobre o assunto, não é a hermenêutica veterotestamentária que deve regular o Novo Testamento, mas sim o inverso. Todos os cristãos devem interpretar o Antigo Testamento a luz do  Novo. E, é exatamente no advento neotestamentário que vemos a luz maior dessa revelação.

Vemos em suas páginas que, a alma/espírito, é claramente uma entidade imaterial e imortal que SAI do corpo. Deus diz ao rico insensato:

Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12:20)

Por outro lado, às vezes à morte é vista como um retorno do espírito para Deus. Assim Davi pode orar desta maneira:

Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me redimiste, Senhor Deus da verdade.” (Salmos 31:5)

E o Senhor Jesus confirmando a veracidade da vida imaterial, clama: "E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou. (Lucas 23:46)

Sobre a morte, vemos Salomão dando-nos um prelúdio da revelação neotestamentária: E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Eclesiastes 12:7)

O apostolo João registrou que, o Senhor Jesus, ao morrer teve sua parte imaterial entregue a Deus: E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” (João 19:30)

Semelhantemente o diácono Estevão ao ser martirizado: E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. (Atos 7:59)

Analisando os textos acima, vemos que tanto a alma como o espírito são usados como sinônimos para apresentar a vida fora do corpo. O monismo é obrigado a isolar versículos que tomam estas palavras alegoricamente, para com isso defender sua tese. Tese esta que nenhuma igreja verdadeiramente cristã apregoa em seus Credos.

A BÍBLIA DIZ QUE O HOMEM É TANTO CORPO E ALMA E CORPO E ESPÍRITO

O Senhor Jesus ao referir-se a alma faz referencia clara  à parte do ser humano que existe após a morte: E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10:28)

 Logicamente o texto não significa "pessoa" ou "vida" não há sentido falar daqueles que "matam o corpo mas não podem matar a pessoa" ou "matar o corpo, mas não matar a vida", Notamos explicitamente que ao menos há uma exterioridade, um aspecto pessoal além do corpo. E, este ente continuará vivendo após a morte física. Nem ao menos da margem para uma separação entre corpo, alma e espírito. O Senhor Jesus coloca "alma e corpo" falando da pessoa inteira. Ele não especifica o "espírito" como um componente separado. A palavra "alma" denota a parte do homem que não é física.

Nesse mesmo conjuntura, o Novo Testamento, dirige-se as vezes sobre o ser humano como “corpo e espírito". O apostolo Paulo ao doutrinar a igreja de Corinto expressa-se: Seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.(1 Coríntios 5:5)

O apostolo quer que a igreja em Corinto dê a Satanás um irmão perdido para a "destruição de sua natureza pecaminosa, para que seu espírito seja salvo no dia do Senhor". Vemos que Paulo usa a palavra “espírito” para se referir a toda a existência imaterial da pessoa. Em outro texto vemos o irmão do Senhor, Tiago, dizendo:

Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tiago 2:26)

Declaradamente o texto se expressa, que, o espírito é toda parte imaterial do homem. Não diz nada sobre o homem somente como uma alma, onde morreu, findou-se. Dorme-se até a ressurreição. Paulo falando do crescimento na santidade pessoal, disserta e aprova um tipo especifico de mulher cristã:

Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.” (1 Coríntios 7:34)

Ainda mais ele sugere que “corpo e espírito” abrange toda a vida da pessoa. Isso fica mais explícito em outro texto:

Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.” (2 Coríntios 7:1)

Purificar-se da poluição da "carne" significa abster-se das coisas pecaminosas do mundo. Já o "espírito" compreende toda a parte imaterial da nossa existência. Notemos alguns textos:

E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.” (Romanos 8:10)

Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou...” (1 Coríntios 5:3)

Porque, ainda que esteja ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito estou convosco, regozijando-me e vendo a vossa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo.” (Colossenses 2:5)

Como ignorar uma parte imaterial racional diante de tudo que foi exposto acima. Esses textos não fariam nenhum sentido aplicando-se ao pensamento monista.

A BÍBLIA DIZ QUE A ALMA PECA E DIZ QUE O ESPÍRITO PECA

Uma das alegações muito comuns do monismo, é que o espírito é apenas “o sopro de vida”, enquanto a alma é o homem como um todo. Porém contrariando essa ideia, a Bíblia não faz distinção entre “alma consciente” e “espírito consciente”; tanto que, ambos podem pecar contra Deus.

Até mesmo o pensamento tricotômico (que o homem possui três partes: corpo, alma e espírito) fica sem base alguma em sua sustentação. Embora a tricotomia não seja uma heresia – como o monismo e derivados – é um erro diante de tudo que apresentarei. Vejamos:

Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro; (1 Pedro 1:22)

Esse texto de Pedro fica implícito que a alma peca. Por quê? Simplesmente porque o apostolo aconselha que os crentes da dispersão “purifiquem suas almas” numa santificação conjunta com o Espírito Santo.

De forma semelhante, a visão de João em apocalipse, nos mostra implicitamente o pecado da alma: E o fruto do desejo da tua alma foi-se de ti; e todas as coisas gostosas e excelentes se foram de ti, e não mais as acharás.” (Apocalipse 18:14)

Alegar que o espírito é mais puro que a alma; ou, que não há parte consciente no espírito, é um pensamento contrário a Bíblia. Paulo encoraja os coríntios dessa forma:

Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.” (2 Coríntios 7:1)

Obviamente a imundícia que o apostolo se refere é o pecado no espírito. Ou seja uma natureza espiritual entregue as coisas mundanas. Isso implica claramente que pode haver contaminação (ou pecado) em nosso espírito.

Recordando outro texto aos coríntios, nos diz Paulo: Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.” (1 Coríntios 7:34)

Em um texto do Pentateuco, é dito que Deus endurece o espírito. Será que é possível endurecer algo que não tenha consciência? Algo que é tão-somente um “sopro de vida?”:

Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o Senhor teu Deus endurecera o seu espírito, e fizera obstinado o seu coração para to dar na tua mão, como hoje se vê.” (Deuteronômio 2:30)

Mais claro ainda, vemos em outros textos o pecado e a obstinação do espírito humano. Cometer pecado é errar conscientemente perante a Lei de Deus e sua moral. Então todos esses textos tratam o espírito como uma entidade cônscia:

E não fossem como seus pais, geração contumaz e rebelde, geração que não regeu o seu coração, e cujo espírito não foi fiel a Deus.” (Salmos 78:8)

A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” (Provérbios 16:18)

Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.” (Eclesiastes 7:8)

Muito esclarecedor é o texto do profeta Isaías falando que os espíritos errados serão instruídos. Saberão a sã doutrina. Ou seja, possuem concepção do certo e do errado: E os errados de espírito virão a ter entendimento, e os murmuradores aprenderão doutrina.” (Isaías 29:24)

O espírito não é um sopro. Dar apenas um significado a palavra no original sem examinar seus contextos textuais e declarações lógicas de racionalidade de uma parte imaterial, é caminhar de forma anti-Bíblica. De Nabucodonosor é dito que:

Mas quando o seu coração se exaltou, e o seu espírito se endureceu em soberba, foi derrubado do seu trono real, e passou dele a sua glória.” (Daniel 5:20)

Endurecer-se é manter-se rebelde para com os ensinamentos de Deus. Só se mantem rebelde contra algo, se tivermos compreensão do certo e do errado. Dessa forma se expressa o Provérbio:

Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito”. (Provérbios 16:2)

O “peso do espirito” implica que é possível que este esteja errado aos olhos de Deus. Outros versos implicam a possibilidade de pecarmos no espírito. Com isso é demonstrado claramente a consciência deste:

Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano.” (Salmos 32:2)

Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. (Salmos 51:10)

Estes textos demonstram que, o espírito, é uma entidade imaterial e consciente que pode cometer pecado ou andar em retidão diante do Senhor.

A BÍBLIA DIZ QUE TUDO QUE A ALMA FAZ O ESPIRITO O FAZ. E, TUDO QUE A ALMA SENTE O ESPÍRITO TAMBÉM O SENTE.

Mais um problema seríssimo em defender o monismo. Não há como definir o espírito como um sopro, e, definir a alma como o homem todo. Basta contextualizarmos os textos que facilmente veremos quão herética a luz da Bíblia é tal pensamento. Nem mesmo crer que a alma é a sede das emoções, e o espírito é a parte que é diretamente relacionada com Deus, é possível de se sustentar analisando a conjuntura geral do ensino.

Realmente é comum a Escritura usar o termo “alma” como a sede das emoções e intelecto. Como originaria do pensamento, sentimentos e decisões. Por outro lado, as atividades de pensar, sentir e decidir as coisas não são apenas decisões da alma. Nosso espírito também pode experimentar emoções, por exemplo:

E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria.” (Atos 17:16)

Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair.” (João 13:21)

O coração alegre é como o bom remédio, mas o espírito abatido seca até os ossos.” (Provérbios 17:22)

Vemos claramente as emoções de comoção, turbação e abatimento todas provindas do espírito. Não basta fechar os olhos para textos assim e dar apenas um significado ao termo “espirito”, como fazem os adeptos das seitas mortalistas e aniquilacionistas. Um cristão que cai nesse erro, tem muito mais a ver com os sectários do que com os ortodoxos.

Muito mais ampla estão as questões do conhecimento, pensamento e intelecto. O espírito pode realizar todas essas coisas. Por exemplo, Marcos fala de Jesus, dizendo:

E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vossos corações? (Marcos 2:8)

O Senhor Jesus conheceu, soube, teve a concepção no seu espírito que os escribas arrazoavam contra ele. No mesmo pensamento de consciência e conhecimento do espirito humano, Paulo demonstra:

“O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Romanos 8:16)

Quando o Espírito Santo "testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" nosso espírito recebe e entende o testemunho (que é certamente a função de saber alguma coisa). Verdadeiramente, o nosso espírito conhece os nossos pensamentos com profundidade. Ou, não haveria lógica Paulo perguntar:

Por que, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” (1 Coríntios 2:11)

Esses versículos dizem que o espírito pensa, sente e arrazoa. Isso nos mostra que "alma" e "espírito" são termos usados ​​para falar geralmente sobre a parte imaterial da pessoa, e é difícil de ver qualquer distinção real no uso de tais termos, ou alguma parte que deles que seja inconsciente.

É bom esclarecer que, quando pensamos ou sentimos as coisas, sem dúvida que há reações no nosso corpo físico. Ele também participa de tudo. Pois, o homem foi concebido por Deus em duas partes, para com isso ser uma unidade. Isto é apenas para enfatizar o que disse no começo das cogitações expostas, que a abordagem geral das Escrituras se concentra principalmente no homem como uma unidade, o corpo físico e a parte não-física devem funcionar como uma unidade.

A BÍBLIA DIZ QUE PARTE IMATERIAL VIVE FORA DO CORPO

Como disse acima, a Bíblia inclui o homem como uma unidade, um fato que é verdadeiro, mas que não deve ser usado para negar que as Escrituras também ensinam que essa natureza unificada do homem consiste em dois elementos diferentes. A percepção que temos um espírito ou alma pertence ao reino do espiritual e invisível. Portanto, nosso conhecimento da existência da alma humana deve basear-se principalmente das Escrituras, onde Deus claramente testifica a existência dessa parte imaterial do nosso ser. O fato de que esta verdade sobre a nossa existência não poder ser estabelecida claramente, além do testemunho da Escritura, não deve fazer-nos privar a afirmá-la.

A Escritura é muito clara em dizer que temos uma alma/espírito. Algo que opera fora do nosso ser físico mesmo que estejamos ainda nesse mundo:

Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. (1 Coríntios 14:14)

O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Romanos 8:16)

E, ainda quando morremos, continuamos a agir conscientemente e interagindo com Deus além de nosso corpo físico. Jesus disse ao ladrão crucificado:

E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:43)

Embora seus corpos padecendo na morte física, o Senhor promete ao ladrão uma existência imaterial. Quando Estevão estava morrendo, ele sabia que iria imediatamente para a presença do Senhor. Por isso a Bíblia narra:

E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. (Atos 7:59)

O apostolo Paulo encarou diversas perseguições e perigos sem temer a perda de sua vida. Tal assertiva fica explícita que a esperança dele não estava meramente no efêmero desse mundo. Por isso exclamou:

Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. (Filipenses 1:23)

Na verdade, ele está dizendo que o crente quando morre, vai habitar diretamente com o Senhor indicando a sua confiança de que quando eles morreram fisicamente, seu espírito iria para a presença de Cristo, desfrutando de uma comunhão consciente:

Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. (2 Coríntios 5:8)

E, diante disso que sabemos factualmente que, Lázaro, quando foi conduzido ao seio de Abraão, gozava de uma glória no pós-morte. Num regozijo espiritual consciente:

“E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” (Lucas 16:22a)

Contrariamente o rico foi sepultado e levado ao tormento. Esse tormento é consciente e eterno. Daí Jesus exclamar constantemente o sofrimento dos perdidos:

E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 13:42)

E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 13:50)

E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 8:12)

E separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 24:51)

Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 25:30)

Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora. (Lucas 13:28)

Muitos textos retratando o pós-morte confirmam isso. Que o sofrimento no inferno é CONSCIENTE. Isso nos mostra que não há consistência no monismo, sono da alma e aniquilacionismo. Ambos estão distante da doutrina ortodoxa, mesmo não se acreditando em todos, porquanto um pensamento desemboca no outro.

Rômulo Lima

(Acadêmico em Teologia e Apologética Aplicada)