
O blog tem como objetivo basilar resgatar o Cristianismo Bíblico e Cristocêntrico, tal qual os Reformadores ressuscitaram no Século XVI. Promover as doutrinas Bíblicas ensinadas por Cristo e seus Apóstolos; Trazer a luz questões de Apologética Geral, defendendo as doutrinas ortodoxas da fé cristã ante às inúmeras seitas, movimentos contraditórios e heréticos que surgem no mundo.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
O JESUS DO NATAL
domingo, 4 de abril de 2021
PÁSCOA: O ÊXODO CRISTÃO

“Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima.” (João 6:4)
Quando
lemos as páginas do Novo testamento, vemos que a Festa da Páscoa (ou Pães Asmos
– Lucas 22:1), é uma prática judaica relacionada justamente com a saída do povo
de Israel da escravidão no Egito, onde foi sacrificado um cordeiro em cada
casa, na qual deveria ter as portas manchadas com sague para que o Anjo
Destruidor, não matasse os primogênitos dos filhos de Israel, passando por cima
de suas moradas:
“...É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que
passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os
egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou.” (Êxodo 12:27)
O aspecto da páscoa Veterotestamentária que não deveríamos esquecer jamais é que esta marcava o começo de urna saída da escravidão; era o poder Deus agindo em libertação. Uma libertação física, nacional e momentânea. Era a sombra de uma obra futura que apontava para Cristo, com sentido do seu cumprimento no êxodo que nos liberta da velha vida com sua escravização do pecado tendo aplicações espirituais, universais e atemporais.
A
obra realizada pelo Senhor Jesus de sexta-feira a domingo, possui em seu sentido teológico, algo que não poderia ter sido realizado pela Lei mosaica. Um
autor que percebeu isso de forma esplêndida foi o apóstolo Paulo, e, esse tema
tornou-se central em sua teologia:
“Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.” (1 Coríntios 5:7)
Outro grande erudito (ou grandes) que percebeu esse sentido foi o escritor de Hebreus. A carta nos mostra o êxodo judaico libertando um povo inteiro da servidão física e faz o contraponto com o êxodo cristão, que oferece a “todos” os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do Reino de Cristo, onde impera perfeita liberdade e o ápice da salvação:
“...assim também
Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos,
aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” (Hebreus 9:28)
Paulo,
ao escrever aos gálatas, nos ensina que em Cristo os homens podem tomar-se
filhos de Deus:
“...vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que
recebêssemos a adoção de filhos.
E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o
Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gálatas 4:4-6)
Hoje, o nosso objetivo é olhar para Cristo, o Verdadeiro Êxodo, e encontrarmos uma pátria, não como a de Canaã da qual se limitou Israel, mas a pátria eterna que possuirão aqueles que receberem a expiação de Jesus: o Verdadeiro Sacerdote e o Cordeiro Pascoal:
“...não por meio de sangue de bodes e de
bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por
todas, tendo obtido eterna redenção.”
(Hebreus 9:12)
Uma
páscoa maravilhosa e que o verdadeiro sentido da comemoração seja reluzido para
você e toda família!
Rômulo
Lima
sábado, 27 de março de 2021
NÃO DEVEMOS JUGAR?

“Não julgueis, para que não sejais julgados.
Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e,
com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.”
(Mateus 7:1,2)
O
evangelismo moderno, principalmente os televisivos, possui uma visão muito
superficial das Escrituras. Em prol de traçar uma apologia para suas práticas excêntricas
e muitas vezes heréticas, promovem entre seus fieis jargões de autodefesa e
pretensa humildade, tentando revesti-la com a caridade cristã, tais como: “não jugueis!”; “só Deus pode me julgar!”; “você
não tem o Espírito!”; “eis o dedo
acusador!” dentre outros ditos. Mas será que isso procede com o Evangelho
pregado pelo Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos? É o que demostrarei nesse
artigo.
Irei
trazer à tona a interpretação correta da passagem supracitada, pois a intenção
do Senhor Jesus não era abolir o julgamento. A Bíblia nos mostra por diversas vezes o
Senhor julgando os erros de religiosos que buscavam se estribar na aparência e
na piedade. Muito similar aos evangelistas modernos e seus seguidores:
“E, quando orardes, não sereis como os
hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças,
para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a
recompensa.” (Mateus 6:5)
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas,
porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o
tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mateus 23:15)
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas,
porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado
os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé;
devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23:23)
Bem...
O que vemos é Jesus sendo enfático em censurar as obras dos fariseus e dos
escribas que eram permeadas pela “religiosidade”,
mas, apenas superficialmente, causando reprovação dessas pessoas e, daqueles
que eram convertidos por elas (o prosélito - Mateus 23:15). Diante de Deus, estes ao invés de serem
chamados de herdeiros do Reino, são
considerados como filhos do inferno. Que
mensagem triste! Os convertidos pelos hipócritas que buscam em tais o exemplo
de religiosidade e fé, são considerados filhos do inferno! Pior do que os
falsos religiosos!
O que
Jesus quis dizer com o “não julgueis” é
que o cristão deve evitar o juízo temerário, infundado e não sustentado pela
Escritura. No verso 15 do mesmo capítulo da passagem em estudo é dito:
“Acautelai-vos dos
falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro
são lobos roubadores.” (Mateus 7:15).
Eis a
pergunta: como se acautelar dos falsos profetas sem emitir um julgamento sobre
o que e falso e o que é verdadeiro? Isso também é ensinado na Bíblia.
Um verdadeiro apóstolo de Cristo, Paulo, não se importava em ter sua pregação julgada diante da Bíblia. Ao contrário dos evangelistas modernos, o apóstolo via com bons olhos as pessoas que assim procediam. Lucas registrou um exemplo positivo no livro de Atos onde os crentes de Bereia foram considerados nobres, pois examinavam, diariamente, pelas Escrituras o que Paulo vos transmitia:
“Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os
de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as
Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos 17:11)
Em
seu ministério, Jesus, deixa claramente especificado que o julgamento deve ser
realizado da seguinte forma: “Não
julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça.” (João 7:24). E era isso o
que os bereanos estavam perpetrando: o julgamento segundo a reta justiça, a
saber, o crivo Bíblico.
Paulo
também não hesitou em corrigir a pretensa religiosidade de Pedro quando este
foi visitar a igreja de Antioquia. Pedro, na presença dos crentes gentios,
estava vivendo longe das práticas judaicas, porém, quando os emissários de
Tiago, vindos de Jerusalém, chegaram à igreja, aquele se apartou dos gentios, e
passou a pregar práticas legalistas. Veja o que é narrado em Gálatas:
“Quando, porém, vi que não procediam
corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Céfas (Pedro – grifo meu),
na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu,
por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gálatas 2:14)
Pedro
também não guardou rancores; não odiou; não disse que Paulo não possui o
Espírito; não o chamou de dedo acusador ou outros jargões modernos, mas citou-o,
juntamente com suas epístolas, como exemplos de assuntos sobre a salvação:
“...e tende por salvação a
longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos
escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca
destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas...’ (2
Pedro 3:15-16a)
Queridos(as)... Os pregadores que dizem não
poder ser julgados contrariam a Bíblia para sustentar suas práticas espúrias
como pregações de prosperidades e ofertas sem fim; heresias e criações
fetichistas; interpretações erradas de textos Bíblicos, dentre outras. E, com
isso, querem criar um rebanho de cegos que não se levantam contra os tais em
defesa da Verdade. Essas pessoas devem ser denunciadas abertamente como o
ensinamento paulino ao seu amado discípulo Timóteo:
“Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os
na presença de todos, para que também os demais temam.” (1 Timóteo 5:20)
Em Cristo!
Rômulo Lima
domingo, 31 de janeiro de 2021
DAVI, UM BASTARDO NA CASA DE JESSÉ?
“Eu nasci na
iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.”
(Salmos 51:5)
Segundo
a teoria de alguns eisegetas (interpretes
que inserem seus conceitos particulares ao texto), o rei Davi não era filho
biológico de Jessé. Para um leitor e conhecedor da Bíblia, isso soa muito
estranho, pois em diversos textos é dito que Jessé é pai de Davi como irei demonstrar
no decorrer do estudo.
Um exemplo
de defensor desta teoria é o “pastor”
Marco Feliciano, que em uma de suas pregações alega que a mãe de Davi foi
estuprada por um escravo europeu, dando a luz a uma criança totalmente
diferente dos seus irmãos. E, com isso posto, passa interpretar o verso do
Salmo 51:5. Vejam que é um conceito que ele cria, e leva até o texto bíblico. Ele
não retira do texto o que o autor quis expressar, mas insere sua ideia. Como podemos ver no trecho deste vídeo:
Em primeiro lugar iremos tratar da alegação de que Jessé comprou um escravo europeu e, este estuprou sua mulher, gerando assim Davi, que por sua vez tornou-se um bastardo. De acordo com o livro de Deuteronômio, era inaceitável pela Lei mosaica que filhos ilegítimos tivessem lugar na assembleia de Israel:
“Nenhum bastardo entrará na assembleia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará nela.” (Deuteronômio 23:2).
Aqui já vemos uma das impossibilidades de que Davi tenha sido gerado de outra pessoa, pois os israelitas, bem antes dos tempos de Jessé, repudiavam filhos nessa condição. Isso se reflete nos tempos dos juízes, com Jefté, que foi expulso da casa de seu pai por ser bastardo:
“Também a mulher de Gileade lhe deu filhos, os quais, quando já grandes, expulsaram Jefté e lhe disseram: Não herdarás em casa de nosso pai, porque és filho doutra mulher.” (Juízes 11:2).
Em segundo lugar a profecia de Isaias – o chamado profeta Messiânico -, sobre a vinda do Senhor Jesus. O profeta diz que surgirá do tronco um renovo, ou seja, um ramo que todos os gentios esperarão. Isaias fala claramente que da linhagem sanguínea, alguém da mesma natureza surgiria para o bem dos povos da terra:
“Naquele dia, recorrerão às nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será a morada. Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.” (Isaías 11:10-11).
Jesus, como homem, tinha que ser da
linhagem sanguínea de Jessé, e, consequentemente de Davi. Se este não fosse filho
daquele, a profecia seria vã, pois Jesus pertenceria à linhagem de um escravo
europeu e um renovo desse escravo, e não de Jessé. Tal texto é tão esplêndido
que o apostolo Paulo traz sua importância para o mundo e, a aplicação em Jesus,
das palavras do profeta:
“Também
Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os
gentios; nele os gentios esperarão.”
(Romanos 15:12).
Em terceiro lugar seria a diferença
física de Davi para com seus irmãos. Esse ponto é o mais frágil, pois a Bíblia
mostra que, até irmãos gêmeos, podem possuir diferenças físicas marcantes. São os
chamados gêmeos dizigóticos ou bivitelinos. O livro de Gêneses nos mostra os
filhos de Isaque nesta condição:
“Saiu
o primeiro, ruivo, todo revestido de pelo; por isso, lhe chamaram Esaú.
Depois, nasceu o irmão; segurava com a mão o calcanhar de
Esaú; por isso, lhe chamaram Jacó. Era Isaque de sessenta anos, quando Rebeca
lhos deu à luz.” (Gênesis
25:25-26).
A diferença
entre os gêmeos era marcante que, até o pai, após a velhice e já cego,
conseguia perceber. Este foi o questionamento de Jacó para com sua mãe na
questão da benção da primogenitura:
“Disse
Jacó a Rebeca, sua mãe: Esaú, meu irmão, é homem cabeludo, e eu, homem liso.” (Gênesis 27:11).
Em
quarto lugar, tendo como gancho a argumentação anterior, há a questão de que os
israelitas possuem uma linhagem bem hibrida. A genética do povo não é
segregada, isolada. O próprio Jessé e, logicamente Davi, possuíam estrangeiros
bem próximos deles na árvore genealógica, a saber, Raabe de Jericó (antes da
chegada dos judeus) e Rute, uma moabita:
“Salmom
gerou de Raabe a Boaz; este, de Rute, gerou a Obede; e Obede, a Jessé; Jessé gerou ao rei Davi...” (Mateus 1:5-6a).
E já
aproveitando o texto do evangelista Mateus, vamos para a quinta colocação que
está sobre a palavra GEROU,
do
grego εγεννησεν (egennesen), de onde vem a palavra
GÊNESIS, que pode ser traduzida como ORIGEM. Isso nos mostra que, a origem, a gênese
de Davi é Jessé, como vários e vários textos explanam:
“Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi.” (Rute 4:22).
“Jessé
gerou a Eliabe, seu primogênito, a Abinadabe, o segundo, a Simeia, o terceiro, a Natanael, o quarto, a Radai, o quinto,
a Ozém, o sexto, e a Davi, o sétimo.” (1º
Crônicas 2:13-15).
Existem
muitos outros, porém irei parar por aqui e apresentarei o sexto argumento com
base no texto de 1º Crônicas. Vemos que claramente o verso diz “... e a Davi, o sétimo”. Na cultura
judaica, muito diferente da nossa, onde os filhos caçulas são tratados com todo
cuidado, geralmente sendo servidos pelos outros irmãos, os israelitas
tinham-nos como os de menor expressão dentro da família. O primogênito era o
que dava ordens no lugar do pai, administrava os bens, e, tinha até maior parte
na refeição e herança. O mais novo não. Este era o que mais trabalhava e servia
os demais. Era o caso de Davi, que apascentava os rebanhos de seu pai, quando o
profeta Samuel foi vista-los, e todos estavam preparados para recebê-lo, menos
o mais novo, pois, tinha de trabalhar.
A INTERPRETAÇÃO DO SALMO
João Calvino, um verdadeiro exegeta (interprete que
retira ao máximo o que autor quis dizer no texto), ao interpretar o salmo 51:5,
foi muito feliz ao explicar que Davi estava indo muito além do pecado carnal
que cometera, mas que a passagem se referia a sua herança pecaminosa de Adão que ele (Davi) recebeu como ser
humano:
“Ele agora avança para além do mero
reconhecimento de um ou de muitos pecados, confessando que nada trouxera
consigo em sua entrada no mundo senão pecado, e que sua natureza era
inteiramente depravado”[1]
E,
isso corrobora com os ensinos ortodoxos e com a contextualização de muitos
outros poemas de lamento. O próprio Davi em outro lugar declara:
“Desviam-se os ímpios desde a sua concepção...” (Salmos 58:3a)
“Que
é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo?” (Jó 15:14)
Todos os seres humanos são nascidos
debaixo desse pecado herdado, e, mesmo um bebê vindo ao mundo, carece da graça
de Deus e de sua misericórdia, por ser nascido meramente pela carne. Foi isso o
que o salmista quis dizer no texto. Independente da idade que tenhamos, somos
pecadores:
“O
que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” (João 3:6).
CONCLUSÃO
O entendimento lógico que tenho, como
teólogo e pesquisador, observando os pregadores modernos, é que estes homens possuem uma
extrema necessidade de se mostrar espiritualidade. Quererem trazer novas
interpretações e supostas revelações, dizendo-se cheios do Espírito. Tentam encantar os fieis vendo e citando coisas
que ninguém mais viu: nem Deus, nem seus profetas, e, nem seus autores. São interpretações
subjetivas, que não refletem concepções teológicas corretas, desconhecendo a
Bíblia e o cristianismo ortodoxo.
Triste é que são pregadores como esses
que possuem suas igrejas lotadas e ministérios riquíssimos. Infectam o povo de
heresias e erros que negam claramente a Palavra de Deus.
Rômulo Lima
PS: A afirmação do “pastor” sobre o escravo europeu. Não quis me voltar para as
questões históricas da formação geopolítica do continente e do fato de que todo
região era pertencente ao continente asiático. Ele apenas expressou uma ideia moderna
de etnia europeia. Um estereótipo do homem branco em contraste com o restante
do mundo. O que não refletia a realidade da época de Davi.
domingo, 24 de janeiro de 2021
JESUS DESCEU AO INFERNO?
“... no qual também foi e pregou aos
espíritos em prisão...”
(1 Pedro 3:19)
Está
sendo muito comum um entendimento nas igrejas modernas, difundido em pregações,
ensinado por “teólogos” e “exegetas” que Cristo, após a sua morte,
desceu ao inferno para pregar o Evangelho da salvação aos mortos que não
tiveram oportunidade de ouvir ainda em vida; e, tomar as chaves da morte e do
inferno das mãos de Satanás. Os “estudiosos”
que afirmam tal teoria, usam o verso supracitado como apoio as suas ideias.
Como em certo seminário, o filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé delatou: “Ninguém diz nada, hoje, que não tenha sido dito anteriormente e muito melhor.” A razão é que os pensamentos apenas tornam a aparecer. Tudo que conhecemos hoje são apenas elaborações de ideias de outrora.
A teoria bíblica em estudo, aparentemente nova, surgiu no Egito com Clemente de Alexandria, no início do século II. Até a morte do último apóstolo, João, e dos primeiros pais apostólicos Inácio, Policarpo e Clemente de Roma (que conviveram diretamente com os apóstolos de Cristo), esse pensamento não era difundido.
No decorrer da história da teologia, dois outros nomes agregaram mais ideias ao pensamento de Clemente de Alexandria, o Cardeal Roberto Belarmino, no século VI, que defendeu a ideia que tem sido defendida por muitos católicos romanos: Cristo, em espírito, foi libertar as almas dos justos que se arrependeram antes do dilúvio e que tinham ficado num estado intermediário (limbo e purgatório). E, o teólogo alemão Frederich Spitta, nos fins do século XIX, ensinou que, depois de sua morte e antes de sua ressurreição, Cristo pregou aos anjos caídos, também conhecidos como “filhos de Deus”.
Tais teorias geram questões que aflige diretamente muitas outras partes da Bíblia, e ensinos claramente expostos. Apesar de sua brevidade, as interpretações que o texto levanta são muitas e, dependendo do posicionamento crido, traça-se uma linha muito tênue entre cristianismo e sectarismo. Além do mais, as teorias levantam questões, como salientou o saudoso R. C. Sproul, renomado apologista cristão, ao dizer que a passagem provoca uma série de perguntas preliminares:
“Que espírito está em foco: o espírito humano ou o Espírito Santo? Quem são esses espíritos em prisão? O que essa prisão indica e onde fica? Quando essa pregação aconteceu? Por que essa pregação foi necessária?”[1]
Cada uma dessas perguntas tem respostas diferentes segundo diferentes estudiosos da Bíblia. Os pregadores de hoje não respondem essas perguntas, apenas afirmam com base em 1º Pedro 3:19, desconsiderando o restante das Escrituras.
Vejamos
alguns dos posicionamentos que o texto tomou na história do pensamento cristão
e quais problemáticas que a posição de Clemente, Belarmino e Spitta nos leva.
O PENSAMENTO DE CLEMENTE, BELARMINO E SPITTA:
Ensinavam basicamente que Cristo, entre a sua morte e ressurreição, foi ao inferno, pregou aos espíritos em prisão; ou pregou a anjos caídos; ou a pessoas que estavam numa espécie de estado intermediário.
A
posição de Clemente, especificamente, surgiu de um documento extrabíblico, do século
II, a saber, o Credo dos Apóstolos. Como é sabido por todo estudioso cristão, o
Credo Apostólico, é atribuído pela tradição aos doze apóstolos[2], justamente por causa dos
textos mais antigos que possuem doze versos. Porém, os estudiosos acreditam que
ele se desenvolveu a partir de pequenas confissões batismais empregadas nas
igrejas dos primeiros séculos[3]. Esse credo só tomou a
forma que conhecemos hoje no decorrer dos anos, mais especificamente no Concílio
de Niceia quando recebeu seu título, e tornou-se a versão que conhecemos. Em
alguns dos seus versos, referente a pessoa de Cristo, ele traz:
“et in Iesum Christum, Filium Eius unicum, Dominum
nostrum,
qui conceptus est de Spiritu Sancto, natus ex Maria
Virgine,
passus sub Pontio Pilato, crucifixus, mortuus, et
sepultus,
descendit ad inferos, tertia die resurrexit a
mortuis,”
As versões latinas mais tardias trazem: “descendit ad inferos” que é a tradução do grego para o latim. A palavra “ínferos” é o termo grego “hades” que pode ser traduzido como mansão dos mortos, sepultura, etc. É bem provável que Clemente teve contato com as versões desse credo, em sua época, chegando então às conclusões que chegou do texto de 1ª Pedro 3:19.
O problema
do pensamento já inicia com a palavra espíritos.
Se os espíritos forem de homens, a Bíblia é enfática em ensinar que a salvação
deve ser alcançada em vida, não tendo possibilidade de se encontra-la depois da
morte física, como o escritor de Hebreus descreve:
“E,
assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o
juízo...”
(Hebreus 9:27)
O Senhor Jesus vai mais além ao ensinar na passagem do Rico e do Lázaro que:
“Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de
que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora,
porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos. E, além de tudo, está posto
um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para
vós outros não podem, nem os de lá passar para nós.”
(Lucas 16:25-26)
Essa história contada por Jesus é clara em dizer que após a morte, o estado da alma é irreversível. Não se pode retornar ao mundo dos vivos; não se pode atravessar para o seio de Abraão; e, o sofrimento é interminável.
Humanamente falando, a visão da salvação após a morte é muito agradável, confortadora e até “amorosa”, mas confronta-se diretamente com o Evangelho pregado por Cristo e por seus apóstolos, anulando a justiça de Deus, tornando a visão de salvação bíblica em uma heresia chamada de UNIVERSALISMO onde todos serão salvos, mesmo após a morte. A bíblia nunca promete salvação para todos os seres humanos.
Seitas como a Igreja Católica Romana e a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), creem respectivamente em purgatório (lugar onde se expia pegados antes de ir para o céu); e, pregação para mortos, salvação para mortos que não aceitam o evangelho e até batismo para os mortos. Essas crenças são heréticas, e devem ser rechaçadas da Verdadeira Igreja Cristã.
A
outra problemática é: se os espíritos em prisão são anjos caídos, Pedro se
contradiz ao dizer que os anjos que pecaram estão reservados para o juízo; e,
ainda contradiz Judas, o irmão do Senhor, em sua epístola que também afirma
isso:
“Ora,
se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os
entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo;”
(2 Pedro 2:4)
“...e
a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu
próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o
juízo do grande Dia;”
(Judas 1:6)
ONDE JESUS ESTAVA ENTRE A SUA MORTE E RESSURREIÇÃO?
A Escritura
Sagrada ensina claramente onde Jesus estava depois de crucificado, até o
momento da sua ressurreição. Ele estava ao lado do Pai, aguardando a ação do Espírito
Santo em ressuscitá-lo. Os evangelistas Mateus
e Lucas relatam:
“E
Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.”
Mateus 27:50
“Então,
Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito
isto, expirou.”
(Lucas 23:46)
Lucas
ainda é mais detalhista ao narrar à promessa que o Senhor Jesus fez a um dos
ladrões crucificados ao seu lado, quando registra:
“Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso.”
(Lucas 23:43)
Erroneamente alguns tentam argumentar que Cristo entregou o espírito a Deus, e “outro espírito” (talvez o Espírito Santo) foi pregar no inferno. Ora isso não é dito em lugar nenhum. Antes da encarnação, Cristo era apenas espírito e quando o Espírito Santo encheu o ventre de Maria, Cristo se fez carne juntamente com o espírito que possuía antes da existência humana. O Espírito Santo está em Cristo, mas não é Cristo. Ele é outra Pessoa diferente da Pessoa de Cristo. Essa teoria do “outro espírito” fere o pilar do cristianismo que é a DOUTRINA DA TRINDADE: um único Deus eternamente subsistente em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.
O Espírito Santo não é Jesus! Jesus foi cheio do Espírito Santo e tinha uma relação ímpar com essa Pessoa da divindade, pois compartilham da mesma essência divina, sendo pessoas diferentes. Porém, o Espírito Santo não é a Pessoa de Cristo. Essa confusão é dada justamente porque uma das designações do Espírito Santo é o Espírito de Cristo. Mas o Espírito Santo também é chamado de Espírito de Deus, sem ser a Pessoa do Pai.
Essas
afirmativas corroboram claramente com os ensinos bíblicos, sem entrar em contradições.
Deus não pode se contradizer em sua Palavra, senão, não seria Deus. Sua Palavra
não seria isenta de erros, e se um texto estiver errado, muitos outros poderão
estar.
E AS CHAVES DA MORTE E DO INFERNO?
Os
defensores da posição de Clemente, também buscam no texto de João, ao escrever
as profecias de Apocalipse, amparo para defender que Jesus foi ao inferno,
quando o apóstolo narra a visão do Cristo Glorioso:
“...e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo
pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno.”
(Apocalipse 1:18)
A grande
problemática aqui é que Satanás não tem poder de condenar ninguém, e muito
menos lançar as almas da pessoa no inferno. Satanás será fustigado também no
inferno. Ele não será um carrasco que assolará as almas, mas sim um espírito
que ficará em tormentos e dores. Deus tem o poder sobre o inferno, e quando o
texto joanino descreve Cristo com as chaves da morte e do inferno, aponta para
sua supremacia sobre tudo e todos no universo, sendo o Deus Salvador, e, o Deus
que cumprirá a justiça na vida das pessoas. O Senhor Jesus mesmo afirma quem
devemos temer e o porquê temer:
“Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele
que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse
deveis temer.”
(Lucas 12:5)
“Não
temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que
pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.”
(Mateus 10:28)
Paulo,
ao condenar os imorais da igreja de Corinto, ensina que a limitação do poder de
Satanás se estende apenas a vida física do ser humano. Tudo que Satanás pode
fazer é matar a carne do homem e desviar a sua conduta. Ele não tem poder de
levar ninguém ao suplício eterno:
“Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em
espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia
seja,
em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o
poder de Jesus, nosso Senhor,
entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o
espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus].”
(1 Coríntios 5:3-5)
AS INTERPRETAÇÕES MAIS COERENTES
AGOSTINHO DE HIPONA - SÉCULO IV:
O
grande Teólogo Agostinho de Hipona rebateu a posição de Clemente de Alexandria
e apontou seus erros doutrinários ao afirmar que não pode haver salvação depois
da morte. Segundo sua posição (por volta de 400 d.C) é afirmado que o Cristo
preexistente proclamou a salvação por intermédio de Noé ao povo que viveu antes
do dilúvio, seguindo o texto do verso seguinte:
“...os
quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus
aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a
saber, oito pessoas, foram salvos, através da água,”
(1 Pedro 3:20)
Como
bem observou Agostinho, a geração de Noé ouviu o Evangelho de Deus, por meio do
patriarca, pois o próprio Pedro declara sobre Noé:
“...e não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, PREGADOR DA JUSTIÇA, e
mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios;”
(2 Pedro 2:5)
A
passagem nos mostra que a geração de Noé ouviu sua pregação, porém, rejeitou a
mensagem de Deus por meio do patriarca. Diante disso o pensamento agostiniano pode
ser assim sintetizado:
“Por meio de (Espírito
Santo), ele (Cristo), foi e pregou (por meio de Noé) aos espíritos (agora) em
prisão (no Hades)”.
Dessa forma o teólogo entedia o texto, sendo esta uma posição que não contradiz o ensino ortodoxo. Um defensor dessa posição é o teólogo contemporâneo Drº Augustus Nicodemus Lopes, Pós-doutorado em teologia do Novo Testamento.
VISÃO REFORMADA CONTEMPORÂNEA:
Três
grandes comentaristas contemporâneos, a saber: Hernandes Dias Lopes, Simon J,
Fistemaker e Francis Schaeffer ensinam que o Cristo ressurreto, quando ascendeu
aos céus, proclamou aos espíritos em prisão sua vitória sobre a morte. O Cristo
exaltado passou pelo reino onde são mantidos os anjos caídos e proclamou seu
triunfo sobre eles. Essa teoria encontra amparo nos escritos paulinos onde é
dito que os anjos caídos habitam as regiões celestes:
“...porque
a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes.”
(Efésios 6:12)
Uma
ilustração sobre o pensamento é como uma casa de dois andares. O primeiro é o
andar onde vivemos. Aqui é o mundo visível. O segundo andar, as regiões
celestes, é o mundo espiritual invisível, onde estão os seres angelicais.
Cristo proclamou sua vitória aos seres angelicais nessas regiões celestes.
Essa
interpretação encontra reações favoráveis nos meios das igrejas protestantes
mais alinhadas com a Reforma e não entra em contradição com os ensinamentos do
restante das Escrituras.
CONCLUSÃO
Vemos
como a Bíblia é um livro que deve ser interpretado à luz de seus contextos e
dos ensinos gerais do Cristianismo Histórico. Fora isso, uma passagem com
apenas nove palavras, no grego (dez na versão Almeida Revista e Atualizada) pode
trazer um bojo de erros e heresias, criando até falsas religiões que se dizem cristãs, levando muitos à perdição. Outra questão é que devemos ter muito
cuidado com pregadores modernos e "pseudoteólogos" que apregoam tais ideias
dizendo que possuem uma interpretação certa ou uma nova revelação. Apartai-vos
destes.
“Mas,
ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do
que vos temos pregado, seja anátema.”
(Gálatas 1:8)
Romulo
Lima
[1]
Sproul, R. C. 1-2 Peter, p. 125.
[2]
Alguns chegaram a sugerir que cada
apóstolo teria contribuído com um artigo.
[3] Extraído do livro de Humberto Casanova
e Jeff Stam, El Credo Apostólico (Grand Rapids, Libros Desafio,
1998), pp. 14-22.